POR QUÉ NO TE CALLAS, JORNALISTA?

O jornalista é o profissional que observa, coleta e apura dados para transformá-los em notícias. Mais do que isto, o jornalista é um indivíduo idealista, que acalenta a ilusão de poder modificar o mundo, transformando-o em um lugar melhor e igual para todos. O jornalista, na verdade, é um grande sonhador. O trabalho deste profissional é de grande utilidade pública, porque é impossível imaginar um mundo sem notícias.

Para algumas pessoas, ser jornalista significa ter status social e por isso, uma vaga nesta área é muito disputada, principalmente para as emissoras de TV. A disputa é acirrada até mesmo por aqueles que jamais freqüentaram uma universidade, leram alguma teoria acerca do que é jornalismo e que nada entendem da ética profissional desta categoria.

É graças ao trabalho desse incansável garimpeiro de letras, que o mundo toma conhecimento, em tempo real, de tudo o que acontece no planeta. Para isto, o jornalista sacrifica seus feriados e dias santos, as festas em família e a ceia natalina, somente para deixar a todos bem informados.

Este profissional é amado por uns e odiado por outros. São amados especialmente pelos trabalhadores em greve e que têm suas reivindicações divulgadas pela Imprensa; quando vêem os abusos praticados pelos patrões sendo denunciados; eles também são amados pelos injustiçados, quando vêem que alguém se importa em mostrar para o mundo sua existência e cobrar as medidas cabíveis.

Todos aqueles que de alguma forma são beneficiados com matérias jornalísticas, amam estes profissionais. Outros, como o presidente Lula, por exemplo, se pudesse, exterminariam toda a classe da face da Terra. Afinal, ele descobre e publica aquilo que muitas vezes não deveria ser revelado ao mundo. Ser intrometido, porém, são ossos do ofício do jornalista.

Muitos profissionais já perderam a vida no exercício da profissão. Um exemplo a ser citado é a morte do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, assassinado com requintes de crueldade, enquanto fazia uma matéria sobre as festas promovidas por traficantes no subúrbio carioca.

Sem sombra de dúvida, o trabalho de um jornalista tem uma grande importância para a sociedade, mas lamentavelmente o profissional desta área não recebe o devido reconhecimento pelo seu trabalho, especialmente no Rio Grande do Norte, local onde a categoria recebe o menor piso salarial do Brasil.

Jornalista não pode fazer greve para reivindicar melhoria salarial; não pode lutar por uma redução na sua jornada de trabalho; não pode adoecer; não pode se negar a fazer horas-extras – porque não se sabe quando uma notícia quente vai acontecer. Jornalista, portanto, não pode fazer coisa alguma em seu próprio benefício.

A quem o jornalista denuncia os abusos cometidos pela empresa na qual trabalha? Parece ironia, mas o trabalhador cuja principal ferramenta é a notícia, não pode publicar nos jornais que seu salário está atrasado ou que ele faz hora-extra e não recebe.

O desrespeito à categoria não diz respeito apenas aos baixos salários e a excessiva carga de trabalho imposta aos profissionais. A falta de respeito também é grande na permissão para que pessoas não habilitadas exerçam o papel do jornalista.

Em qualquer outra categoria profissional, o indivíduo não pode exercer uma função para a qual não seja devidamente credenciado. É assim com os engenheiros, advogados, dentistas, farmacêuticos, médicos, etc. No jornalismo é diferente. O sujeito sabe ler, escrever e conversar já tem direito a uma matéria assinada e com chamada na capa do jornal. Desse modo, temos que encarar professor de Educação Física, advogados, mecânicos, e até empregada doméstica apresentado-se como jornalista.

Os jornalistas de todo o mundo deveriam cruzar os braços por um dia, só para mostrar o caos no qual o mundo sem notícias se transformaria. Os jornalistas norte-rio-grandenses, porém, não poderiam participar deste ato “indisciplinado”, principalmente aqueles que trabalham nas redações, porque seriam sumariamente substituídos por estagiários de algum Curso de Jornalismo.

A única alternativa para estes bravos companheiros é se vestir de preto durante dois dias. Se nem isto for possível, então é hora de perguntar: por qué no te callas, jornalista?

25/novembro/2007