Oralidade e escrita
Autor Alexandre Junior de Lima e Silva
“ A estrutura da linguagem que uma pessoa fala influência a maneira com que esta
pessoa percebe o universo”
Vygotsky
ORALIDADE DE ESCRITA
1. Resumo:
A relação que existe entre memória, oralidade e cultura escrita é predominantemente marcada por
relações de poder que vão desde sua conceituação acadêmica e social até sua construção
historiográfica de fato.
2. Abstract:
La relacion existente entre memoria, oralidad e cultura escribida e predominantemente marcada
por La relaciones de fuerça que vam desde su conceituacion academica e social ate sua
contruccion historiografica di facto.
3. MEMÓRIA, ORALIDADE E CULTURA ESCRITA
A relação entre oralidade e escrita na elaboração de saberes históricos é dialética e processual. Pois,
o que se escreve sobre algo é fruto de um acordo gnosiológico coletivo. Só existe sentido e sentido
histórico especificamente dentro da comunidade humana. Ninguém é capaz de criar uma linguagem
isolada, destituída de comunidade, mesmo que ele habite as mais distantes e íngremes montanhas,
ele carregará em si as marcas da coletividade. A linguagem é dialética porque o homem assim o é.
Portanto, a linguagem e a historiografia são conceitos humanos construídos no tempo e em um
lugar.
É obvio que a oralidade é anterior a escrita que surgiu como uma forma de perpetuar a memória de
uma pessoa ou de um povo. Mas quem a escreveu? O que queria comunicar? Para quem
comunicava? Possuía consciência de classe? A escrita era uma técnica dominada pelos escribas que
se diferenciavam do povo simples que mantinha sua tradição através da oralidade. A partir daqui
nós temos a elaboração de dois conceitos básicos sobre o passado: a erudita, de caráter
predominantemente escrito e a popular de caráter oral.
Será que o temor acerca da legitimidade das fontes orais, não esconde uma tensão de poderes, de
relações de força entre ricos e pobres? Entre aqueles que são da academia e os que não são. Ou
melhor, qual a realidade histórica a partir da qual o historiador elabora uma linha de sentido
historiográfica? Esta pergunta é de fundamental importância para a elaboração de saberes
historiográficos que possam ou não integrar escrita e oralidade, porque a questão de fundo é esta:
como poderemos elaborar um discurso historiográfico verdadeiro. Ou seja, como poderemos coletar
e integrar a escrita e a oralidade a tal ponto que teremos a visão da realidade de modo amplo e
específico ao mesmo tempo.
Mas o que de fato significa a integração entre oralidade, escrita e memória de um povo, o que
subjaz quando se constrói uma historiografia, Michel Foucault nos aponta para relações de poder. O
poder gera conhecimento, ele é fonte de resistência na luta e ao mesmo tempo tentativa de se manter
neste mesmo poder. Karl Marx e Engels escrevem a luta que existe na história humana entre
aqueles que possuem mecanismos mais sofisticados de poder como o capital financeiro e os que só
possuem forma do seu trabalho e da organização em classe consciente de si.
Portanto, a relação que se dá entre escrita, oralidade e memória se dão a partir de disputas de poder
intermináveis, não lineares e muitas vezes contraditórias. O historiador, o jornalista, o escritos, o
intelectual em geral que se propões a elaborar um discurso historiográfico, o fazem a partir do seu
lugar social. Se eles apóiam as lutas populares o peso dos discursos dos trabalhadores terá valor,
mas se estiverem a favor de uma elite que se mantém no poder, os trabalhadores serão apenas um
apêndice que poderá ser confortavelmente descartado da história.
4. Referência Bibliográfica
FOUCAULT, Michel: Microfísica do poder. São Paulo: 22 ed. Graal, 2006.
FREIRE, Paulo: Pedagogia do oprimido: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: 34
ed. Paz e terra, 2006.
GINZBURG, Carlo. Relações de força: história, retórica, prova. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.