AVATAR - A GRANDE LIÇÃO DO HÓSPEDE GENTIL

 

Há que se saber receber em casa. Mas também há que se saber ser recebido.

 

Ser hóspede gentil.

 

Em Avatar, de James Cameron, Pandora, o mundo gentil do povo N'avi, é harmônico porque seus nativos sabem viver e receber, com graça e afetividade.

 

Receberam aquele esquisito "Povo do Céu", harmonizando até mesmo com suas esquisitas ofertas: aprender inglês. Estradas. Instalação de esquisitos laboratórios para os quais, no início, devem ter olhado desconfiados, ao notarem que destruíam o seu meio ambiente. E aqueles vestuários esquisitos!...

 

Sim, o povo N'avi aceitou até isso: aprender inglês... porque afinal, no meio daquele Povo do Céu havia uns poucos personagens também gentis, que se dispuseram a harmonizar, e conhecer, em contrapartida, o seu idioma, respeitando o seu meio ambiente.

 

Mas isso não estava bastante bom para o esquisito Povo do Céu. Porque a maior parte deles não estava ali, propriamente, para pesquisar, para conhecer o povo de Pandora, e com ele harmonizar.

 

Eles tinham atravessado meio céu para  explorar e depredar!

 

Porque descobriram que em Pandora existia unobtaniun - o minério milionário, fornecedor dos recursos energéticos que eles já haviam destruído completamente em seu próprio mundo de origem!

 

E para cúmulo da desdita, o núcleo do tal minério fora descoberto no solo bem debaixo da colossal árvore que era a habitação de todo aquele clã do povo N'avi - que não concordaria nunca em se desalojar dali para ver a sua milenar árvore - mãe derrubada em troca de aulas de inglês, estradas, cerveja ou calças jeans!

 

A solução humana usual? 

 

Transformar o teimoso povo N'avi em inimigo hostil, e extermina-lo!

 

Poucas vezes vimos no cinema lição mais assertiva do modus vivendi desta humanidade - mas aqui mesmo, no nosso exausto planeta Terra, enquanto não se encontra um meio definitivo de se transferir o nosso destrutivo instinto predador para outros planetas!

 

Como nos comportamos em nosso próprio mundo?! Como hóspedes e hospedeiros gentis?! Em relação ao planeta, quanto também na interrelação entre os povos?!

 

Entre simples famílias?!

 

Sabemos receber gentilmente, como os N'avi, os de nossa própria raça humana - com o respeito harmônico, devido ao precioso fato, em si, de pertencermos todos à mesma humanidade?!

 

Não, nós não sabemos! Ou não haveria mais guerras na Terra! Entre nações. Entre vizinhos. Entre membros da mesma família!

 

Pois toda a base de nossa convivência assenta sobre a infame competitividade, que não nos permite admirar e respeitar o outro ser humano, pura e simplesmente, por ele existir! Pela integridade digna de se "ser humano", por si só - nascido na Terra, e com o direito que deveria, em decorrência, ser nato, de se viver com todo o acesso aos recursos de sobrevivência do planeta!

 

Não!

 

O direito à vida, aqui, assenta sobre a lei do mérito. Deve-se, a todo custo, provar absurdamente mérito para o direito a se estar vivo - como se o fato de se estar vivo já não assegurasse, por si só, este direito!

 

Então, não respeitamos!

 

Como os terrenos falidos invadindo Pandora em busca de unobtaniun, convivemos com nossos semelhantes planetários sempre em função do interesse oportunista. Do tanto que o outro pode ser utilitário para nós!

 

Há, aqui, respeito pela privacidade, pelo modo de vida; pelo ambiente e pelos seres que nos acolhem, sejam esses parentes, amigos, ou anfitriões dos novos ambientes que visitamos?!

 

Em quantas vezes países invadiram outros pelo único interesse de se solapar algo presente no território alheio, na base da força bruta?

 

Em quantas vezes turistas frequentam países vizinhos com indelicada atitude predadora, exploradora - visando compras, ou dar vazão ao eterno instinto aventureiro e desbravador humano, sem o mínimo de respeito pelas regras de conduta do país hospedeiro, sem o bom senso para se compreender que quem se adequa é quem visita, não quem hospeda?!

 

Quantas gafes e erros grosseiros de conduta são praticados nessas situações, em que, num novo habitat de algum modo organizado, busca-se impor os resultados infelizes de antigos vícios de comportamento habituais apenas em suas terras natais de origem?!

 

Quantas famílias se digladiam sob a rispidez repetitiva deste mesmo padrão obscuro de comportamento?!

 

Passe-me a sua árvore - lar, que quero o unobtaniun sob ela! Nem que para isso tenhamos que, primeiro, barganhar desonestamente, oferecendo em troca algum tipo de ouro de tolo em lugar do seu ouro de valor real! E, em não prevalecendo a negociação desonesta, usando a força bruta para, primeiro, eliminar os donos legítimos da árvore - mãe, ou do que quer que seja; e, enfim, toma-la, não importa por qual tipo de selvageria for!

 

Os fins utilitários justificando os meios sórdidos para qualquer obtenção!

 

A árvore - lar,  e a morte do povo N'avi, na conquista do unobtaniun!

 

O petróleo!...

 

O ouro!...

 

O gás!...

 

O armamento atômico!....

 

A herança de família!...

 

O não se poder jogar lixo nas ruas do organizado país turístico, de qualidade de vida e de educação indiscutivelmente superiores!

 

O "entro na casa dele, ou dela, na hora em que quiser, e me instalo, bagunço tudo, imponho minhas regras, pois afinal a casa é do meu irmão, ou irmã; do meu filho, ou minha filha; do primo, ou do tio ou tia da mãe, ou da avó".... nunca também do (a) cônjuge de nenhum deles, ou delas!

 

O preconceito contra raças, contra etnias!....

 

Tantas potenciais Pandoras harmônicas, devastadas pela incúria humana!

 

Após treze anos, um novo episódio de Avatar enfim chegará aos cinemas em dezembro.

 

Que as úteis, quanto urgentes, mensagens subliminares sejam entendidas, a tempo desta humanidade, talvez, aprender com os N'avi o modo certo de como deveríamos ser melhores humanos!

 

De como podemos, ainda, vir a ser melhores terrenos, dignos de um planeta pródigo como a Terra!

 

 

 

 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 17/05/2022
Reeditado em 18/05/2022
Código do texto: T7518381
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