O limite entre jornalismo e entretenimento na TV
Até que ponto as televisões trabalham para o público ou pelos índices de audiência? É difícil saber, mas se inventassem um detector de atitudes antiéticas, certamente os exemplos poderiam render histórias para vários livros. Vamos a alguns desses casos. A Casa dos Artistas e o Big Brother Brasil foram inseridos em alguns jornais incluindo o Jornal Nacional e telejornais locais do SBT. Os produtores usaram como álibe o discurso de que estavam fazendo jornalismo cultural, mas na verdade era apenas um marketing da própria emissora. A gravidade de uma decisão editorial como esta é que telespectadores deixam de ser informados com notícias de utilidade pública para receber entretenimento.
As TVs sempre reclamam da falta de tempo para os telejornais e enquanto isso exibem uma espécie de lixo eletrônico misturado com espetáculos dos fatos. Muitas vezes a preocupação maior é com o cabelo, a maquiagem, o cenário dos apresentadores do que com o conteúdo das reportagens. O Jornal do SBT apresentado pela Cínthia Benine e Analice Nicolau é um exemplo claro disso. As duas se vestem com saias curtíssimas, ficam desfilando em alguns momentos dos jornais e ainda querem apresentar um jornalismo sério!
Os absurdos não param. O caso do Programa Legal apresentado por Gugu Liberato rendeu uma série de bons artigos. Todos os jornais impressos, revistas, rádios, sites, enfim, a mídia em peso, falou alguma coisa sobre o episódio em que dois homens encapuzados diziam ser integrantes do PCC – Primeiro Comando da Capital e começaram a ameaçar apresentadores de outras emissoras, contaram como planejavam o seqüestro do Padre Marcelo e um monte de mentiras. A falsa entrevista durou quase meia hora e depois de descobrirem a farsa toda, sequer o registro de jornalista do repórter foi cassado. Isto é uma prova de que estamos lidando com crimes de imprensa todo o tempo e a justiça tem sido sempre favorável aos que detém o poder econômico. E ainda consideram a Criação do Conselho Federal de Jornalistas inadequada.
E como poderíamos tornar a discussão sobre ética na Imprensa de forma efetiva? Mais do que discutir sobre o que deve ou não deve ser exibido ou sobre condutas de comportamento, temos que levar o debate para o público, analisar as conseqüências do que é exibido para a sociedade e estabelecer algumas regras. O Código de Ética do jornalismo já traz alguns parâmetros, mas não basta, pois cada um precisa pensar as conseqüências do que é televisionado, escrito e publicado. Eugênio Bucci em Sobre Ética e a Imprensa fala da importância de se levar o debate ético das empresas que se dedicam ao negócio da comunicação social e identificar, ou propor, limites ao poder (econômico, político ou estatal) que procura subordinar a comunicação aos seus interesses, violando, com isso, o direito à informação. Talvez seja esse o ponto principal: a informação é um direito do cidadão, portanto um bem público.
Um problema grave que contribui para as discrepâncias entre os limites éticos e os comerciais está em que os meios de comunicação no Brasil são oligopólios, pouquíssimos são donos dos maiores jornais, revistas, emissoras e TVs, portanto se sentem no direito de fazerem o que bem entendem. E a Constiruição do Brasil no parágrafo quinto do artigo 220, proíbe os meios de comunicação de serem objeto de monopólio ou oligopólio. Assim, o espaço público é dominado pelos mesmos grupos e os cidadãos perdem o direito a diversidade de pontos de vista. Isto empobrece cuturalmente o debate e causa prejuízos ao debate público.
O jornalismo nas emissoras de televisão do Brasil é visto como um negócio para entreter os telespectadores. Reportagens são retrancadas de forma a se transformarem em mini novelas. Trlhas sonoras são utilizadas como BG, construindo uma narrativa romanceada que aproxima o telejornalismo do cinema, da literatura e da ficção. As informações são relegadas a um segundo plano, pois o que importa é entreter e absorver o público para aumentar os índices de audiência e vender mais espaço publicitário. O telejornalismo disputa mercado não apenas com outros veículos informativos, mas também com as opções de lazer e por isso precisa envolver, tornar-se uma espécie de vício para os telespectadores. A dramatização das imagens repercurte na absorção da mensagem, pois a preocupação maior passa a ser a exibição de cenas fortes.
A mídia televisiva está muito ocupada atendendo a interesses econômicos e políticos e por isso o papel social de informar é deixado de lado. Essa atitude faz com que os meios de comunicação percam cada vez mais credibilidade, pois o jornalismo foi criado para informar. José Arbex Jr. em Showrnalismo critica a posição da mídia que está sempre de mãos dadas com o Estado, enquanto busca vender a imagem e “neutralidade”, “insenção”, “objetividade” e “democracia”. Como a notícia atende a retórica organizadora da singularidade factual do cotidiano, consagrada pela lógica comercial de uma empresa jornalística, a sociedade juntamente com os jornalistas precisa se mobilizar para moralizar os meios de comunicação e exigir o direito à informação. Pois se os donos das emissoras de televisão continuarem ditando às regras, a sociedade continuará sendo subjugada a público consumidor.