Ideologia Partidaria e Conveniencia Politica
Ideologia Partidária e Conveniência Política
Quando da eleição de 1989 na qual Collor saiu vitorioso, votei pela primeira vez e aos vinte anos de idade, talvez eu não tinha ainda um posicionamento ideológico definido.Aquela foi a eleição histórica que marcou o fim da ditadura militar no pais.
Naquela época já via em Lula uma atitude de protesto muito forte na medida em que não acreditava no “caçador de marajás”. O “sapo barbudo” era altamente radical e ainda tinha no sangue as idéias afundadas do Socialismo que era sepultado na Europa num grande show de Roger Waters da banda inglesa Pink Floyd . Lula pregava o calote na divida externa, dizia que Brasil era o maior subserviente dos bancos internacionais.e que o Congresso Nacional era podre, corroído pela corrupção.
O Partido dos Trabalhadores, que surgira para lutar contra as oligarquias e o continuísmo quase que feudal que esmagava o povo brasileiro, tinha uma linha de conduta centrada no radicalismo extremo que comandava greves e mais greves no universo dos metalúrgicos do ABC paulista e com isso foi ganhando simpatizantes por todo o Brasil. Com uma característica peculiar: quase todos eram parte da “elite pensante “ do pais que tinha uma inflação galopante; que era ( e ainda é) assolado pelo analfabetismo e pela desigualdade social. A ideologia petista era muito forte e para a direita ela chegava a ser venenosa.
Depois da derrota de 1989, Lula era candidato novamente em 1994, já com o PT um pouco menos radical e se sujeitando a alianças com outros partidos. Mas tinha pela frente o então ministro Fernando Henrique Cardoso, que surgiu com o Plano Real para botar um freio na inflação, estabilizar a economia, tornar nossa moeda forte e o principal: espantar o fantasma do “sapo barbudo” que desta feita vinha com tudo rumo ao Palácio Alvorada. Deu certo. Mais uma vez o ainda radical Lula, foi derrotado. O Brasil de 1995 até meados de l999 viveu incontestavelmente uma época muito boa. Tanto que Lula, já mais manso e amadurecido, fora derrotado no primeiro turno em 1998 quando Fernando Henrique foi reeleito.
No segundo mandato de FHC a coisa começou a desandar, os corruptos que eram das fileiras dos que não torcem pelo Brasil dar certo, queriam a sua parte, sua “recompensa” por terem dado um tempo nos desmandos que faziam no pais, para que Lula não chegasse ao poder. Resultado: o dólar foi liberado, o combustível voltou a subir e o dragão da inflação voltou a aterrorizar o povo brasileiro. Então em 2002 não teve jeito, o povão queria mudança e foi nesse contexto que surgiu o “Lulinha paz e amor”. O candidato petista se transformara num oposicionista completamente diferente, bem arrumado cabelo e barba sem tintura, nada de ataques contundentes, apenas uma postura centrada no âmbito das propostas e idéias que não eram nem de longe, as radicais de outrora.. Toda essa mudança tinha um responsável: Duda Mendonça, o maior marqueteiro político do Brasil.
Lula ganhou a presidência e será que perdera a sua ideologia partidária? ou apenas fez o bom uso da conveniência política? O certo é que enfrentou e ainda enfrenta o descontentamento da ala mais radical do PT , aqueles que certos ou não com suas idéias baseadas em Maquiavel, Lênin, Max dentre outros, acreditam na ideologia do partido que ajudaram a fundar. Muitos nem são mais do partido como a Heloisa Helena por exemplo.
No Brasil é assim. Hoje não se tem ideologia partidária temos conveniência política os maiores inimigos políticos do ontem são os grandes aliados do hoje, não há firmamento de idéias e muito menos de ideais,o que existe é um vergonhoso jogo de interesses em que a tarde no parlamento os representantes se engalfinham, e a noite tomam vinho juntos na mesma mesa.
Ter ideologia é ter idéias ou propostas que orientam as ações em que acima de tudo temos confiança, mas muitas das vezes podemos nos equivocar quanto aquilo em que acreditamos ou fazemos por comungar com o pensamento ou idéias de outrem.
Assim são os políticos brasileiros, porém com uma diferença, eles acreditam naquilo em que eles podem se dar bem. Hoje eles têm um posicionamento a respeito de um adversário político . Mas amanha, por uma vaga no Senado, na Câmara Federal , por uma concessão, por uma Secretaria ou Ministério, as coisas podem mudar. Mas é assim mesmo, o difícil é entender essa tal de conveniência política.