A MORBIDEZ DAS MEGALÓPOLIS

É fato que o progresso não nos trouxe apenas vantagens.

Nada na vida é gratuito, e hoje, percebo que há tempos pagamos caro por conviver no habitat das grandes cidades.

Nasci em São Paulo, exatamente nos anos sessenta, e lembro-me vagamente de como era a cidade quando eu tinha lá os meus cinco anos de idade.

A lembrança já meio esvaecida, traz-me uma sensação de bem estar!

Era aprazível andar de mãos dadas com meu pai pelo centro da cidade; lembro-me de que poucas pessoas circulavam pelas calçadas, a grande maioria se cumprimentava, e nessa época de Natal, o centro tinha um certo glamour europeu.

Ontem, quando aqui se registrou um dos maiores congestionamentos do ano, do qual participei irritadamente, parei para lembrar-me do que aqui relato, e tristemente constatei o que já não é novidade.

Adoecemos.

Adoecemos enquanto cidade, enquanto comunidade, enquanto mundo.

Viver nas megalópoles tornou-se uma logística stressante, e me parece que perdemos a referência e o conceito de "vida".

Antes de adoecermos fisícamente é notório que quem adoece é o nosso estilo de vida.

Primeiro ele...depois somos nós a sucumbir na cegueira das pseudo necessidades.

Digo "pseudo' porque ultimamente, já com a maturidade amadurecendo na minha janela, percebo que precisamos de pouco.

Mas a sociedade não pensa assim. Somos escravos do que o capitalismo dita através do consumismo desenfreado. E da correria PATÉTICA...ao nada.

Afinal, estamos indo para onde?... enlatados nos coletivos, aprisionados nos automóveis sobre o escaldante asfalto que impermeabiliza os solos...e a vida?

Nosso medo é crônico. A simples existência passou a ser perigosa.

Mas que existência é essa? Corremos o dia inteiro, com objetivos incertos, rumo a lugar nenhum.

Sem tempo para nada, fabricamos doenças. Ah, claro, mas doenças da modernidade! Ao menos isso!

Os Fast-Foods incentivam a obesidade,a ansiedade incrementa a tensão arterial, não há tempo para atividades desportivas, o dióxido de carbono intoxica os pulmões, a violência das esquinas acelera os corações.

Executivos emendam dias extenuantes de trabalho com noites de MBA, SEM DESAFROUXAREM OS NÓS DAS GRAVATAS.

Mister seria que as pós graduações resgatassem o sentido da vida.

Enfim, eis a receita do bolo: Um bolo de pólvora preste a estourar nossas coronárias!

E "Stents" recanalizam coronárias, mas não perfazem o tempo perdido.

E a emoção? Bem, se coração é coisa de poeta, acreditem, haja "Prozac" para que a emoção se equilibre, Viagra para que o prazer retorne...para que a felicidade, ainda que "química" volte a pulsar.

Vivemos uma epidemia de doenças emocionais, e o consumo de antidepressivos é maior que o de creme dental.

Percebam...as datas perderam o sentido.Já citei várias vezes quando escrevo, que a mídia nos convence de que jamais seremos felizes sem o último modelo de celular, mas são poucos os que se lembram de plantar uma árvore para ilustrar com vida as esquinas das cidades cinzas.

E o que percebo, é que quando se toma consciência do todo, inclusive da sucata de si mesmo...muitas vezes já é tarde demais. O estrago está feito.

Distanciamo-nos da família e dos amigos, mas inconscientemente sem viver, acreditamos que vivemos por e para eles.

Tempos paradoxais!

Homens modernos, que perderam o principal: O objetivo e o prazer da vida.

Convido-os a refletirem a questão.