MANGUESONGS
O Movimento Mangue Beat foi um dos acontecimentos musicais mais originais desde a explosão da Tropicália. Sacolejou o marasmo musical do início da década de 90. Chico Sciense & Nação Zumbi, Fred Zero 4, Oto, Mestre Ambrosio e outras bandas, emergiram do cenário pop pernambucano para o Brasil. A mistura do regional com o rock já não era novidade: os tropicalistas já haviam feito o mesmo na década de 60. A diferença é que os tropicalista tiveram que se deslocar para o eixo Rio-São Paulo, enquanto que os mangueboys fizeram o seu movimento a partir do Recife. O mangue, a miséria e o caos urbano do Recife e o marasmo cultural, fizeram brotar um movimento autêntico e original que falava em homens, lama, mangues, urubus e urbanidade. Pela primeira vez na história da música um movimento musical gestado numa capital do Nordeste se espraiava por todo o Brasil e o mundo. De repente garotos pobres, suburbanos e criativos tornaram-se astros da música pop brasileira arregimentando fãs Brasil afora. Os elementos formais da cena musical mangue beat já eram conhecidos pelos tropicalistas e antes pelos modernistas, diria eu que ambos os movimentos são filhos diletos de Oswald e Mario de Andrade. A antropofagia cultural: mesclar elementos da cultura popular com elementos nem tão alienígenas no Brasil dos fins do século XX, como guitarras distorcidas, foram usada com primor por estes dois movimentos umbilicamente ligados. Guitarras distorcidas regadas a batidas de maracatu, ciranda e outras expressões regionais, letras de cunho social, foi a tônica do manguebeat. Mesmo depois da morte de Chico Sciense, o principal porta-voz do movimento, a influência do seu legado se faz presente no cenário pop brasileiro. Bandas como DJ Dolores, Cordel do Fogo Encantado, Cascabuio ainda surfam na crista da onda do Movimento Mangue Beat. O legado maior desse acontecimento musical foi ter aberto a porta para que outras iniciativas do gênero surjam com a mesma força, ímpeto e originalidade, em qualquer rincão do país.