O novo desenvolvimentismo

Eu prometi que ia falar sobre o nacional desenvolvimentismo de esquerda. Esse tipo de desenvolvimentismo parecia também destinado a morte como o da direita, como afirmei no outro texto, mas alguma coisa nestes últimos anos mudou essa trajetória que parecia certa e fatal, segundo muitos entendidos.

Antes de entrar nisso, temos de estabelecer a diferença principal entre as duas formas. O desenvolvimentismo de esquerda, basicamente, tem as mesmas características do de direita, com um forte investimento em industrialização, porem o de esquerda expande seu campo de ação aos investimentos sociais. Um exemplo seria Vargas, que na sua incrementação da indústria nacional criou a carteira de trabalho, previdência.

O desenvolvimentismo de esquerda entrou em decadência nos anos 80 com o advento do neoliberalismo. Se a classe alta deixou de apostar na industrialização, preferindo o dinheiro fácil do mercado, transformando todo político de direita em liberal, não teria sido muito diferente com os políticos da esquerda. Fernando Henrique e toda aquela gente do PSDB são exemplos de políticos de esquerda que viraram neoliberais a ponto de hoje serem considerados de direita. O desenvolvimentismo ficou associado a ideia de “gastar”, nem mesmo o governo PT conseguiu tirá-lo do armário.

O desenvolvimentismo de esquerda estava fadado a morrer tanto quanto o de direita.

Até que a China se tornou uma peça importante no jogo. O sucesso da China, colocando em xeque o poder econômico dos EUA, obrigou aquele país a rever sua política. Os EUA tem promovido o neoliberalismo através da globalização da financeirização desde o fim da União Soviética em 1990. Agora, no entanto, a China fez com que o Tio Sam olhasse para si mesmo e o que ele viu? Os EUA desindustrializados e perdendo a guerra comercial para a China, com uma população desmotivada.

A China virou um fantasma, um ser mitológico dizendo “decifra-me”. E o que a China fez de tão importante? Ela investe justamente no desenvolvimentismo industrial, tão desprezado por nós, os ocidentais. Esqueçam os desonestos da internet que ficam falando em trabalho escravo naquele país e procurem no You Tube por Elias Jabour, assim saberão do que estou falando.

A China trouxe o desenvolvimentismo de volta, mas não o de direita. A classe alta ainda continua fascinada com a finaceirização e o dinheiro fácil do neoliberalismo. A China trouxe o desenvolvimentismo de esquerda que não precisa tanto dessa classe alta. O de esquerda vai mais pelo investimento social e a China tirou centenas de milhões da pobreza na última década.

Porem nenhum político brasileiro demonstra entender o que está acontecendo. Nem lula, nem Bolsonaro, nem Moro, nem Dória... nenhum deles parece estar entendendo coisa alguma sobre o que está acontecendo hoje no mundo. Nem mesmo Ciro, nosso desenvolvimentista. Esse continua perdido, como eu disse no outro texto. Vamos ver se algum deles desperta desse sono em 2022.