A morte do nacionalismo de direita
Ultimamente tenho sentido numa certa parte da população brasileira, mais precisamente numa certa parte da classe média, uma confusão misturada com nostalgia e desilusão. Se trata dos nacionalistas de direita. Os que costumam ser chamados de nacional desenvolvimentistas, que acreditam num futuro próspero do Brasil, na industrialização, nas estatais e num certo orgulho verde-amarelo que se cristaliza nas nossas grandes obras, principalmente do período militar: Itaipu, Ponte Rio-Niteroi... tudo isso sem precisar de se preocupar muito com investimento social para os mais pobres.
A verdade é que desde as mudanças causadas pelo fim da União Soviética, lá no começo dos anos 90, o mundo entrou em um novo paradigma: o do chamado neoliberalismo para alguns, ou simplesmente globalismo para outros (há também quem chame de corporativismo, mas eu não gosto desse nome). Isso mudou totalmente nossas relações sociais, econômicas, políticas e até nossas relações familiares. Isso é tema para muitos artigos aqui, mas prefiro, por enquanto, ficar apenas com os nacionalistas desenvolvimentistas de direita.
Os nacionalistas perderam o rumo desde 1990, não tenha dúvida. Eles sempre se ancoravam naquele velho mantra: “este é um país que vai pra frente” (quem foi criança nos anos 70 vai se lembrar da musiquinha), acreditam que os ricos estando a ganhar muito dinheiro investirão na produção, gerando empregos para os pobres. Vivem com a cabeça nos anos 70, flertando com um certo militarismo, e não conseguiram ou nem tentaram entender até hoje essas mudanças de paradigma.
Muitos deles foram as ruas entre 2014 e 2016, quando o PT era considerado o grande vilão nacional. O uso da camisa amarela era imprescindível. Em 2018 votaram no Bolsonaro, pensando que talvez por este ter sido um militar fosse também nacionalista. Porem este logo se revelou um neoliberal, tendo o ministro Guedes ao seu lado, declarava sem nenhum constrangimento: - empresa estatal? Tem que vender tudo! – oh! Doce desilusão.
Cambaleantes, os nacionalistas jovens logo redescobriram, de forma nostálgica, o folclórico deputado Enéas Carneiro, aquele famoso pelo bordão “meu nome é Enéas”. Na verdade o que estes jovens descobriram, com uma certa melancolia, foram as ideias nacionalistas desse deputado, pelas redes sociais, principalmente no You Tube, onde detectei muitos comentários deles afirmando coisas do tipo: “Enéas estava certo, tem que defender as estatais”, “Enéas estava certo, o Brasil tem que construir uma bomba atômica” e por ai vai. O problema é que Enéas está morto. Já Ciro Gomes está bem vivo. Logo os nacionalistas viram nele e no seu discurso inteligente uma figura capaz de encenar um grande guerreiro defensor de nossa soberania. Mas Ciro também parece perdido. A polaridade entre esquerda e direita parece desfavorecê-lo.
Mas, por que o nacionalismo de direita morreu? Por que os nacionalistas de direita ficaram órfãos?
A resposta está no neoliberalismo e na maneira silenciosa com que ele se insere na sociedade com sua política de Estado mínimo, privatização e financeirização do mercado. De repente a classe alta descobriu que pode ganhar dinheiro (e muito dinheiro, bilhões) sem ter o trabalho de investir diretamente na produção, seguindo comprando títulos do governo, especulando nas bolsas, jogando alto num mercado que parece de risco mas não é, atacando e quebrando empresas tradicionais de uma maneira predatória que não leva ao desenvolvimento da economia. Pra que indústria? pra que desenvolvimento?
A classe alta brasileira foi abandonando o nacionalismo principalmente a partir de 1990, e com isso todo político de direita foi se tornando neoliberal. Não importa se o discurso político é conservador ou progressista, se é a favou ou não do aborto, não importa, todo político de direita foi se tornando neoliberal na economia e isso veio como uma tendência lógica. Isso foi matando o nacionalismo de direita, pois não há como convencer os grandes donos do capital, a colocar dinheiro e esforço nesse projeto.
Quem quiser saber mais sobre este tipo de assunto de uma maneira mais estudada pode acompanhar no You Tube economistas como Paulo Gala, Ju Furno, Andre Roncgália e outros que falam de macro economia com mais propriedade.
Num próximo texto falarei sobre o nacionalismo de esquerda. Sim, ele existe.