(IN) DISCIPLINA, QUE HISTÓRIA É ESSA?

Atualmente a questão mais debatida pelos educadores é a disciplina e os fatores que fomenta a sua ausência no ambiente escolar. Instituida como um mito, ela é analisada através de vários ângulos, pois a sociedade na qual se estabelece o seu exercício, além de ser constituída por uma diversidade de culturas, vivendo, portanto em constante transformação. Nesse contexto, evidenciam-se as demandas diferenciadas e contratidórias por parte dos indivíduos que compõem o meio social, gerando, a partir delas, conflitos e contradições de idéias entre os mesmos.

Levando em consideração esse contexto, subentende-se que a concepção de disciplina mantém uma relação de dependência com o meio social em que está inserida, pois é, de acordo com os princípios e valores pré-estabelecidos pelos grupos que o constituem é quem definam as regras e determinam essa disciplina.

No ambiente escolar para melhor compreender de que forma e a partir do que se definem essas regras, faz-se necessário situar a escola dentro de uma dinâmica social de grandes transformações, isto implica dizer que a escola não pode mais se posicionar diante do aluno como uma mera repassadora de conteúdos, inibindo sua consciência crítica e questionadora.

Outro aspecto a ser considerado em conta nesse cenário histórico é a família que, provedora das futuras gerações, responde muitas vezes a essas crises com despreparo e insegurança. Suas expectativas com relação ao futuro são permeado de dúvidas e receios, causando conflitos de gerações. Estas , em suas ações, expressam, na sua maioria, o descaso e a irreverência com que são tratados os princípios e valores que orietam o convívio social.

Neste sentido, a indisciplina é um eixo desmentelador da tranquilidade social e psicológica dos indivíduos inseridos no meio escolar, sendo uma alavanca para a instalaçõa da violência se não for bem trabalhada, pois possui um emaranhado de significados, ao mesmo tempo em que retira o ônus disciplinar do aluno, portanto, analisando a indisciplina sobre os diferentes ângulos, permitirá maior densidade e complexidade do ponto de vista teórico, abandonando o espontaneismo com que geralmente é processada.

Tratar de Indisciplina Escolar, sob a luz do referencial teórico apresentamos que a indisciplina seria visto como desrespeito, de intolerância e do não cumprimento de regras capazes de orientar a convivência de um grupo.

O conceito de indisciplina é susceptível de multiplas interpretações. Um aluno ou um professor indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante em relação a uma norma explicíta ou implicíta sancionada em termos escolares e sociais. Estes desvios são todavia, denominados de forma diferente conforme se trate de alunos ou de professores.

Esta definição pode ser interpretada de diversas formas. È possível, por exemplo, entender que é dicciplinável é aquele que se deixa submeter, que se sujeita de modo passivo aos conjuntos de normas estabelecidas por outrem e relacionadas com as necessidades externas a este. Já o indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se submete nem tampouco se acomoda, e agindo assim, provoca rupturas e questionamentos.

Entende-se, todavia, que estes temas podem (ou devem) ser interpretados de uma outra maneira, já que visa sob aqueles ângulos, a questão da indisciplina pode servir, de um lado para justificar práticas despóticas e, de outro, para estimular uma espécie de tirania às avessas, na qual o projeto pedagogico fica submetido à vontade da criança ou do adolescente.

A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de norteoar as relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros deste grupo social. A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas estabelecidas para orientar o seu funcionamento e a convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, as normas deixam de ser vistas apenas como prescrições castradoras, e possam a ser compreendidas como condição necessária ao convívio social.

A Indisciplina, nesta ótica, passa a ser vista como atitude de desrespeito, de intolerância aos acordos firmados, de intransigência, do não cumprimento de regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou de um grupo.

Segundo LA TAILLE (1994, p.09) as crianças precisam aderir às regras (que implicam valores e formas de condutas) e estas somente podem vir de seus educadore, pais ou professores. Os limites implicados por estas regras não devem ser apenas interpretados no seu sentidos negativos, o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo, o limite situa, da consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social - a família, a escola e a sociedade como um todo.

Partindo destas premissas, no plano educativo, um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta a toda hora, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender o ponto de vista do outro e de se autogovernar (no sentido expresso por Vygotsky (1984), quem não consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo cooperativo com os seus pares. Neste caso, a disciplina não é compreendida como mecanismo de repressão e controle, mas como conjunto de parâmetros, que devem ser obedecidos no contexto educativo, visando a uma convivência e produção escolar de melhor qualidade).

Os postulados defendidos por VYGOTSKY, ressaltam claramente o papel crucial que a educação tem sobre o comportamento e o desenvolvimento de funções psicológicas complexas, como agir de modo consciente, deliberador e de autogovernar. Em outras palavras, o comportamento indisciplinado é aprendido. Baseando-se nestas premissas, podemos inferir, portanto, que o problema da indisciplina não deve ser encarado como alheio à família nem tampouco à escola, já que, na nossa sociedade, elas são principais agências educativas. (VYGOTSKY, 1987,p.93)

Na concepção de AQUINO (1996, p.47), a escola e a família são as duas instituições responsáveis pela educação num sentido amplo. O processo educacional depende da articulação desses dois âmbitos institucionais. Um não substitui o outro, devem sim, complementar-se. Se tanto a família como a escola são as principais responsavéis pela formação da criança ou o adolescente, é preciso que haja coerência entre princípios e valores de uma e outra, evitando confrontos entre professores, alunos, família e escola, o que favoreceria a rebeldia e a indisciplina dos alunos.

Vasconcellos (1993, p.42) se refere à questão da disciplina como consciente e interativa, portanto, estendida como um processo de coonstrução da auto-regulação do sujeito e/ou grupo, que se dá na interação social e pela tensão dialética adaptação-transformação, tendo em vista atingir conscientemente um objetivo.

Conforme o exposto acima, a indisciplina escolar constitui um dos desafios mais críticos com os quais se defrontam as instituições de educação básica, públicas e privadas. Ela abrange diversas formas e mecanismos de expressão, e reflete um grande grupo de causas de diversas naturezas. Nas escolas, a indisciplina não constitui apenas um fenômeno atrelado a determinados comportamentos de indíviduos particulares, mas pode ser pensada como um fenômeno cultural, bem como institucional e psicossocial.

Enfim, partindo do pressuposto de que as tranformações pelas quais estamos passando são frutos da história do homem, logo, da sua propria história, entende-se que a indisciplina é gerada em resposta às várias mudanças que são ou não bem quistas por eles; que a disciplina é o resultado do processo educativo, o qual deve objetivar a formação integral do indíviduo, respeitando suas diferenças e, ao mesmo tempo, proporcionando condições para integrá-las, adquirindo asssim, resultados positivos nas relações pessoais e no citado processo. Isto vem de encontro às palavras de FREIRE, citado por Vasconcellos (2000, p.41): "Ninguém disciplina ninguém. Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em comunhão, mediados pelarealidade".

Naná
Enviado por Naná em 18/11/2007
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