Os dilemas da vida após a morte
Existe uma clara diferença entre Reencarnação e Ressurreição. A primeira é a migração da alma, depois da morte, de um corpo a outro. A segunda é o retorno à vida de um corpo que já morreu. A origem da palavra Ressurreição seria então “levantar-se” dos mortos enquanto Reencarnação seria o processo do espírito tornar-se carne novamente.
Os antigos judeus conheciam a palavra Ressurreição das escrituras sagradas, mas o termo Reencarnação aparecia de forma vaga, pois não traziam uma clara noção sobre a ligação entre o corpo e a alma. Na Bíblia há também inúmeras passagens sobre a ressurreição, mas poucos indícios sobre a Reencarnação, e os poucos indícios que há são maus interpretados.
A doutrina cristã aceita com muitas reservas a Reencarnação, ao garantirem que somente através da nossa fé, pura e incondicional, é que obteremos a salvação, mediante Jesus Cristo. De fato, caso existisse a reencarnação, não haveria mais necessidade de acreditarmos em eternos paraísos ou purgatórios, nossa alma poderia renascer em outros corpos com a possibilidade de novas vivências e aprendizados.
Segundo o Espiritismo, a crença na reencarnação é o processo de purificação do ser humano, a santa escada que todos devem galgar para conquistar aos poucos sua morada celeste.
O debate sobre a existência ou não da reencarnação acompanha a humanidade desde a noite dos tempos. Os egípcios acreditavam que as almas de suas múmias pudessem alcançar a vida após a morte.
Os gregos denominavam “Metempsicose” para se referir à transmigração das almas. No Budismo o conceito de reencarnação aparece na doutrina do Karma. A crença que a alma retorna a novos corpos sucessivamente parece ser uma lei universal.
Muitos pensadores e filósofos a admitiram em seus relatos, só para citar os mais famosos, Pitágoras, Platão, Sócrates, Kant, Schopenhauer, Shakespeare, Hegel, Goethe e outros.
A doutrina da Reencarnação consegue adeptos pelo mundo todo talvez pela sua capacidade de explicar os incontáveis problemas e enigmas que afligem a inteligência humana, como por exemplo, de onde viemos, para onde vamos, as mazelas provocadas por injustiças e desigualdades que assolam a Terra, ou ainda, porque uns têm mais talentos que outros e vocações diferentes para determinados fins.
A Reencarnação é a crença de dois terços da população mundial, segundo a teóloga Helena Blavatsky. No entanto, não importa se crermos, ou não, na vida após a morte, o mais importante é termos em mente que “não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje”.
Aqueles que acreditam somente na salvação divina esquecem de arregaçar as mangas para realizar melhorias essenciais para consigo mesmo, a tão adiada reforma interior, seja ela uma dieta, a retomada de projeto antigo, uma viagem, cuidados com a saúde ou mesmo abolir os maus hábitos. Afinal, cabe a nós renovar nosso destino e disso não escaparemos, nem sequer em outras vidas.
Marcelo Candido Madeira é músico, compositor e escritor. Seu último livro de crônicas “Aperitivo de Letras” é vendido nas livrarias Alivraria em Berlin na Alemanha, Libromania em Berna e Românica em Zurique na Suíça e em livrarias no Brasil.
Sobre o autor:
http://marcelomadeira.wordpress.com/