A Paz Não Vem De Graça
Naquele ano eu era adido Militar, noutra cidade, onde ansiava pela promoção, para poder comprar um Maverick V8. O maior sonho daquele menino, que a Pátria pretendia fazê-lo acreditar que era um Super Homem.
Lá na outra Unidade Militar era tudo melhor. Eu não precisava sofrer no gás lacrimogêneo, nem rastejar sobre, vômitos, fezes e urina.
Nem havia os cruéis treinamentos de anti guerrilha. Nem andava com os ouvidos zumbindo, afetados pelos explosivos. Não precisava comer gafanhotos, nem engolir sangue coagulado.
Nem passar por treinamento sob munição real, nem quebrar os meus dentes, dando repetidas instruções para os recrutas, na Pista de Aplicação.
Imagine se algum terrorista passasse por isso. Certamente hoje seria considerado o mais famoso mártir, e estaria recebendo a maior pensão, com o dinheiro do povo escravizado.
No meio Militar fiz grandes amizades, dentre essas os que são hoje Oficiais da Reserva, e os meus instrutores, pelos quais sempre tive grande respeito e admiração.
Numa das minhas viagens, me deparei com um grave acidente na estrada.
Ali eu tive o meu primeiro, e inesquecível contato, com a ação da cerveja, e com a única finalidade dela.
Do lado do carro capotado, pelo motorista “encervejado”, uma menininha, aparentando menos de quatros anos de idade, veio se arrastando na minha direção.
Ela estava tão atordoada que mal chorava. Os olhinhos dela me revelaram o mais triste, e inesquecível pedido de ajuda.
Quando fui pegá-la, percebi que a meia branca ensanguentada, segurava a perninha com fratura exposta.
A imagem daquele anjinho, sofrendo pelo erro de um adulto insensato, fraco e dominado por um líquido, que não precisa existir, ficou gravada da forma mais amarga, e indelével na minha mente.
Hoje em cada embalagem da droga, eu vejo aquela imagem do sangue, no tecido branco, e o pedido de amparo, que vi nos olhinhos daquela criança.
Ironicamente já vi “cervejentos” metidos a valentes, apenas coitados que não vencem nem as próprias fraquezas. Dominados por alguns miligramas de álcool.
Porque se não fosse o álcool, ninguém seria atraído por algo, que só serve para causar desgraças.
Hoje ainda vi um imbecil, uma dessas "estrelas" de televisão, dizer:
- Nada melhor que tomar uma gelada lá no centro.
É uma droga tão ruim, que precisa ser tomada gelada, congelando as glândulas gustativas, para poder "engoli-la".
Deveria era tomar vergonha na cara. Que ótimo exemplo, o formador de desgraças está dando.
Quem bebe socialmente, ou exageradamente, está viciado, o que muda é apenas a quantidade da droga ingerida.
Quem apenas compra a droga, mesmo que não a use, está incentivando a produção, e sendo responsável pelas desgraças resultantes dela.
É uma droga tão infame, que faz o viciado defendê-la, e dar explicações nojentas e irritantes, tentando justificar o uso.
Além das desgraças causadas pela cerveja, para produzi-la são desperdiçados milhares de hectares de terra fértil, que poderiam, e deveriam produzir alimentos.
Sem falar nas toneladas de cevada, que o País ainda importa, além de outros componentes, e os danos ambientais resultantes da fabricação e comércio da droga.
Engana-se quem pensa que a paz nasce de mensagens "bonitinhas", repassadas em Redes Sociais, para os "outros" praticá-las.
Engana-se quem pensa que a paz vem de graça, sem luta, e sem a renúncia de alguns hábitos, gostos, e vícios, e “explicações”.
O preço da paz pode ser pequeno, quando está apenas na soma das pequenas atitudes.
Acioly Netto - www.guiadiscover.com