NORMALISTAS E A IMPRENSA

                              - Carvalho Branco

 

          Uma casa muito grande, corredores que se entrecruzam, salas e mais salas...  e o belo e sóbrio azul e branco que corre daqui para lá e vem de lá pra cá, sempre entre risos alegres e coméntarios de aula.

          Eis o intituto de educação da nossa cidade do Rio de Janeiro, minha antiga e mui amada escola formadora de professoras de curso primario, isto é, professoras do ensino fundamental, de acordo com a lei atual.

          Não é preocupação única do Instituto a ministração, às suas alunas, dos cumprimentos necessários ao cumprimento de sua missão de educadoras e ao aumento de sua cultura; empenha-se o colégio, também, em lhes desenvolver a parte de socialização, no que lhe é competente. Tal preocupação não vem de agora, já na minha época de estudante encontrávamos a direção da casa interessada em organizar e auxiliar na realização de uma série de atividades sociais e extra- classes, inclusive dando inteiro apoio a iniciativa de grupos de normalistas que se propunham a fundar revistas, dentro da escola. 

          Já lá se vão os tempos em que a imprensa, no Instituto, fez o seu aparecimento, tornando-se uma verdade gritante e impondo-se como uma realidade incontestável. Recordo-me de meus tempos de aluna de cursos Ginasial e normal, quando circulavam, no Instituto, duas revistas: "O Tangará" e "Mosaico", com artigos para os mais variados gostos literarios.

          Foi em 1953 que "O Tangará", saltitante e feliz, lançou seus primeiros gorjeios ao vento, em que nossos corredores. Fora ganha a primeira batalha e suas fundadoras sorriam, confiantes de que novas vitórias se sucederiam e, realmente, assim aconteceu: de tempos em tempos, chegava e pousava, em nossas mãos, mais um exemplar de "O Tangará".

          Quanto a revista "Mosaico", nossa querida, amada caçulinha, surgiu no ano de 1955, seu primeiro número saiu em setembro. Nasceu bela e cheia de forças; na época previmo-lhe um futuro brilhante.

          A Diva Maria, nossa colega redatora- Chefe da "Mosaico" fizemos então, algumas perguntas, ais quais ela respondeu com muita gentileza, pelo que nos propomos , aqui e agora, mesmo já passado tantos anos, reproduzir aquela nossa conversa revendo minhas velhas anotações, num testemunho verdadeiro do que aqui lhes estou a repassar: 

 

     *Como e quando surgiu, em você, Diva, e em suas colegas, a ideia de organizar uma revista?

     - A ideia de produzir a "Mosaico" surgiu na sala do Grêmio, num grupo de colegas, da qual faziam parte, Leila, Edna Câmara e eu. O nome de "Mosaico" foi-nos sugerido por Sara Pinheiro, então Presidente do Grêmio

     *Sentem-se animadas a prosseguir?

     -"Mosaico", para nós que a fundamos, representa muito. Ela continuará sendo publicada. Nossa luta agora é pela regularidade de sua saída

     *Quando disserem adeus ao instituto, pretendem levar com vocês a revista, ou transmitir sua direção a colegas que ficarem?

     -Não temos planos ainda concretos, mas nenhuma de nós gostaria que ela morrese .

     *Há algo mais que queira acescentar a nossa conversa?

     -Sim: que "Mosaico" ainda não é aquela revista que nós sonhamos, mas que há em nós, sua Diretoria, a firmeza, a objetividade e a dedicação necessárias para que venha a ser cada vez melhor o seu nível em todos os sentidos. Para todos aqueles que nos ajudaram incansavelmente e foram muitos, essa é a nossa promessa.

 

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          Logo após deixarmos Diva Maria, agradecendo-lhe muito a entrevista, dirigimo-nos a Joseíta, diretora de "O Tangará" e a conversa estabelecida por nós foi de igual cordialidade a mantida com Diva Maria:

 

          O que era "O Tangará", para vocês, quando o imaginaram?

          - A nossa ideia inicial era de fundar um jornalzinho mimeografado, apenas para a turma 401, porém, ao pedirmos autorização ao diretor, este, com palavras incentivadoras, convenceu-nos a fundar uma pequena revista. Uma revista deu-nos muito mais trabalho, porém, foram maiores as compensações, enormes alegrias.

 

          Qual a sensação de que foram tomadas, quando venderam o primeiro numero da revistinha?

          -Todas as palavras que empregássemos aqui não poderiam, de modo algum, expressar a alegria que nos contagiou, ao vermos a aceitação de nossa pequena revista.

 

          Alguma vez semtiram-se desanimadas, chegando quase a desistir do ideal abraçado?

          - Encontramos muitos obstáculos. Todos nos afirmavam que "O Tangará" não passaria de um sonho, que a revista não iria além de uma ou duas publicações como tantas outras revistas que tivemos aqui no Instituto, porém, com o correr do tempo, vencendo todas as dificuldades, provamos, a todos que duvidaram de nós, que uma iniciativa de alunas, com o trabalho exclusivamente de alunas , como "O Tangará", pode triunfar. Sentimo-nos orgulhosas, pois este ano ultrapassamos todas as expectativas, publicando 4 exemplares em um só ano e esgotando a terceira edição, o que nunca aconteceu antes no Instituto. Muitas vezes, sentimo-nos desanimadas, porém nunca com a ideia de desistir.

 

     Há mais alguma coisa que você ache interessante nos fazer conhecer?

     - Queremos aproveitar a ocasião para pedir o apoio, não só das normalistas, mas também de todos os estudantes: emviem-nos as suas colaborações (Aqui ela forneceu o proprio endereço para receber textos de todos). Desde já, a Diretoria de "O  Tangará" agradece, esperando corresponder, num futuro bem proximo, à expectativa daqueles que confiam em nós e nos apoiam.

 

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          Dirigimo-nos, então, ao gabinete do nosso diretor, prof. Alair Accioly Antunes, que nos recebeu amigavelmente, como era de seu feitio, mantendo conosco uma longa conversa, na qual nos deu o senguinte parecer:     

     - A imprensa aqui no Instituto, deveria ser representada por só um orgão oficial e, ´para a manutenção do mesmo, já fizemos, a um vereador , um pedido de verba especial; todas as publicações existentes se associariam, nós financiaríamos cada número publicado e teríamos, então, uma verdadeira imprenssa representativa do nosso Instituto de Educação, valores não nos faltam, como nossas alunas tão bem tem nos provado.

          Procuramos, pois, a seguir, a Professora Marília Mariani, a quem cabe a direção das atividades extra- classes da escola, mas com ela não pudemos manter coversação, pois estava muito atarefada .

          Só nos restou agradecer, sensibilizadíssimas, ao senhor Diretor, toda a sua amabilidade, saindo, de seu gabinete, totalmente resolvidas a levar aos leitores de " A Voz da Rua", jornal dirigido por jovens idealistas, ao qual estava reservado um porvir de glórias, tínhamos a certeza, uma ideia ainda que sintética, da Imprensa no Instituto de Educação, o Instituto da minha época...

 

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          Aqui estamos nós novamente, representando, com algumas modificações, este texto, escrito, inicialmente para " A Voz da Rua"; relembrando meus tempos de juventude, meus colegas, meus professores e diretores, meu colégio...

                    " Ai que saudade eu tenho da aurora da minha vida!"...

          Obrigada a todos os grandes amigos que encontrei por todas essas estradas, antes, durante, e após minha passagem pelo Instituto de Educação.

          Meus tempos de infância...Ginâsio Imaculado Coração de Maria... Cachambi, onde nasci... meus avós paternos, tia "Guisa"... Tio Nirceu, Tia Nininha... Primo Ary!... - meu primo, meu amigo, meu irmão, meu tudo...

          Meus tempos de faculdade, UERJ- na Rua Hadock Lobo... Meus amigos...

          Minha avó materna, meu tios... parentes perdidos no tempo espaço...

          As escolas em que trabalhei, meus colegas, meus diretores, amigos que deixei para trás... Meus alunos, meu trabalho...

          Minha mãe!...

          Nada ficou perdido, tudo e todos estão vivos e bem vivos em meu interior e se refletem, esplendorosos, quando fito a foto da encanecida figura de meu pai!...