A praga do gerundismo
Reproduzo aqui o excelente artigo do jornalista Luiz Caversan, da Folha de S.Paulo, sobre o vício do gerundismo: aquela mania de dizer "vou estar te ligando...", ao invés de "vou te ligar...", e assim por diante com outros verbos. Reproduzo em seguida o e-mail que enviei ao jornalista, comunicando que aproveitaria o artigo dele neste espaço.
"Folha Online (19/11/2005)
Gerundiando
Luiz Caversan
Já lá se vão cinco anos quando pela primeira vez, aqui neste mesmo espaço, foi dada a partida para uma onda de protesto contra a praga do gerúndio que então se estabelecia no país.
Sabe-se lá vinda de onde, provavelmente da tradução mal feita de manuais americanos de telemarketing, a série de acintes contra a língua portuguesa era ampla e variada: vamos estar mandando sua encomenda amanhã, vou estar transferindo esta ligação, o senhor pode estar vindo aqui?, esta mercadoria só vai estar chegando na próxima semana.
Na época a solidariedade foi irrestrita por parte de leitores e colegas, alguns célebres, como o meu caro Pasquale Cipro Neto e o Hélio Schwartsman.
Mas eram vozes no deserto, porque de lá para cá o maldito gerúndio se estabeleceu, galgou degraus sociais, instaurou-se até nas classes mais instruídas e não é raro hoje em dia em palestras de personalidades, reuniões de primeiro escalão ou seminários altamente qualificados (de jornalistas, pasmem) alguém de repente soltar uma pérola do tipo: "Hoje eu vou estar falando sobre o uso correto na língua portuguesa nas campanhas publicitárias..."
Vamos mandar, vou transferir, o senhor pode vir?, sua mercadoria chegará amanhã, e hoje eu vou falar da língua portuguesa... Não é simples?
Parece que não, porque todos , ou quase, preferem "enfeitar" a coitada da língua pátria com algo que não lhe pertence, a não ser em ocasiões especiais, ou seja, quando alguma coisa efetivamente estiver acontecendo no futuro.
Mas eis que surge um alento. Segundo me alerta uma amiga querida e culta, dia desses a personagem da ótima Fernanda Montenegro na novela "Belíssima" deu uma tremenda bronca na secretária, que saiu lá com um gerúndio desses. Houve um breve comentário a respeito, a partir do qual a neta da personagem, vivida por Gloria Pires, protestou contra a tal da onda de gerúndio. Meus agradecimentos ao autor do folhetim eletrônico, Silvio de Abreu
Quem sabe agora que o alerta apareceu no programa de maior audiência da rede de maior audiência as pessoas que adoram esta forma burra de falar se dêem conta.
Mas o mais provável é que elas estarão falando da mesma maneira, para desespero de quem presta atenção no que as pessoas dizem, e como... Luiz Caversan, 50, é jornalista. Foi repórter especial e diretor da Sucursal do Rio da Folha. Escreve crônicas sobre cultura, política e comportamento aos sábados para a Folha Online.
E-mail: caversan@uol.com.br"
Caro Caversan,
Todo apoio à sua campanha (será que acertei a crase?). Vou divulgar seu artigo nos sites onde colaboro, obviamente te dando o crédito e remetendo para a página da Folha, se não se importa.
Considero-me um inimigo ferrenho e feroz do gerundismo, por motivos linguísticos, culturais e políticos. Agradeço a munição que você acaba de me fornecer.
Abraço,
Nelson Luiz de Oliveira
jornalista
Brasília (DF)