Desapego
Nós éramos 17 mulheres, reunidas em um meio de tarde e o chove não chove impedia-nos de decidir o local de nossa reunião,oficina de auto -conhecimento: se dentro ou fora de casa. Por via das dúvidas ficamos dentro, depois de um leva e trás, dentro-fora-dentro e a primeira parte da oficina começou a ser desenvolvida. MN e CA prepararam e dirigiram todo o trabalho.Tínhamois sido instadas a levar roupas usadas para doarmos para a Casa do Vovô, uma pequena caixa de madeira e um pincel e é claro, dinheiro trocado para pagarmos as despesas que tinham sido feitas. E um objeto pessoal, algo de que gostássemos muito, para dar de presente a uma das amigas.Pude perceber o quanto foi difícil essa escolha, a do objeto pessoal a ser dado. Pensei que tinha sido só para mim, mas não foi bem assim. Ninguém tomou uma decisão fácil.Para escolher do que abrir mão muitas vezes necessitamos da sabedoria de um Salomão.Colocamos as roupas em uma parte da sala e nos dividimos em 2 grupos, um na sala e outro na cozinha. Daí foi nos dado o material de trabalho: frascos de tinta, cola, espuma e tecido para que preparássemos a nossa caixinha da maneira que quiséssemos , usando o material disposto na mesa.Enquanto trabalhávamos manualmente, escolhendo tintas e tecidos, modelando a espuma, decidindo o que fazer, pediram-nos que refletíssemos sobre a seguinte situação: tendo que se mudar repentinamente para um lugar qualquer e podendo levar só três coisas, o que levaríamos? Logo de cara as casadas começaram a dizer o Marido...o que sem dúvida nenhuma serviu para que eu discordasse. Marido não se leva, vai junto. Marido não é objeto, vai junto se quiser. Tinha que ser coisas.´Deixado de lado marido e filhos, concordamos que cachorro podia ser levado, cachorro não tem vontade, embora não seja objeto, pode ser tratado como tal. As escolhas foram variadas e interessantes: álbum de fotografias,discos, livros,computadores, aparelhos de som, o que eu acho uma grande bobagem:levando dinheiro, compramos tudo novamente. O objetivo porém não era a discussão, mas a reflexão.Quando acabamos de preparar nossas caixinhas, com esmero e cuidado, várias descobertas foram feitas. Muitas de nós nunca havíamos feito um trabalho artesanal e estávamos maravilhadas com o resultado. Com a tarde caminhando para o fim e a chuva se recolhendo em nuvens que se distanciavam, fomos para o jardim, onde na varanda, nos dispusemos para a 2º fase da Oficina, não sem antes nos encantarmos com os efeitos das chuvas dos últimos dias no jardim de minha amiga.E ali começamos a segunda fase: pediram-nos que preparássemos uma lista de dores das quais gostariamos de nos livrar: nossas frustrações e fracasso, nossas tristezas e mágoas e que colocássemos a lista dentro da caixinha.O enlevo com o trabalho feito era visível. Cada uma abriu sua caixinha linda e colocou lá dentro a sua lista. Fomos convidadas então para nos dirigirmos ao fundo do jardim, onde um recipiente estava armado."Agora joguem aqui suas caixinhas, para colocarmos fogo nelas". Acho que se uma bomba tivesse caído ali o susto não teria sido maior. Ninguém entendeu nada e todas queriam saber a razão. Foi aí que descobrimos o nome da oficina, que até então estava sendo mantido oculto: Desapego. Foi duro colocar aqueles objetos tão lindos ali, feito com esmero, mas 14 pessoas o fizeram. Três não.Cada uma com seu motivo.Ver o fogo ardendo e consumindo todo o trabalho de uma tarde foi duro para quase todas.Eu me recusei a jogar a minha caixinha no fogo. Joguei minha lista de dores, mas a caixinha não.Estou em uma fase de limpeza geral, estou doando muita coisa que faz parte de minha vida, como livros, revistas, discos e roupas, objetos de decoração. Quando cheguei para a oficina estava decidida a dar minha caixinha para quem a quisesse, sempre há alguém que quer.Ia doar também o pincel para qualquer uma das minhas amigas, algumas estão sempre lidando com algum tipo de artesanato, não eu. Mas quando disseram que eu tinha que queimar a caixinha, me recusei. Dei para quem a queria. Voltamos então para a varanda onde em volta da mesa pudemos discutir nossas razões e emoções e avaliar o trabalho da tarde. Este era o objetivo. Não era importante o resto, jogar ou não a caixinha no fogo, a roupa velha que trouxemos para doar aos mais velhinhos do que nós,a troca de presentes pessoais. O objetivo era nos levar a refletir sobre a nossa ligação com o mundo e as coisas e a necessidade de desapegar-se, para no desapego aprendermos a construir um mundo novo dentro de nós. Continuamos nossa troca de idéias de novo dentro de casa, já a noite ameaçando chegar, em volta da mesa do lanche e talvez, um pouquinho melhores como seres humanos.
Nós éramos 17 mulheres, reunidas em um meio de tarde e o chove não chove impedia-nos de decidir o local de nossa reunião,oficina de auto -conhecimento: se dentro ou fora de casa. Por via das dúvidas ficamos dentro, depois de um leva e trás, dentro-fora-dentro e a primeira parte da oficina começou a ser desenvolvida. MN e CA prepararam e dirigiram todo o trabalho.Tínhamois sido instadas a levar roupas usadas para doarmos para a Casa do Vovô, uma pequena caixa de madeira e um pincel e é claro, dinheiro trocado para pagarmos as despesas que tinham sido feitas. E um objeto pessoal, algo de que gostássemos muito, para dar de presente a uma das amigas.Pude perceber o quanto foi difícil essa escolha, a do objeto pessoal a ser dado. Pensei que tinha sido só para mim, mas não foi bem assim. Ninguém tomou uma decisão fácil.Para escolher do que abrir mão muitas vezes necessitamos da sabedoria de um Salomão.Colocamos as roupas em uma parte da sala e nos dividimos em 2 grupos, um na sala e outro na cozinha. Daí foi nos dado o material de trabalho: frascos de tinta, cola, espuma e tecido para que preparássemos a nossa caixinha da maneira que quiséssemos , usando o material disposto na mesa.Enquanto trabalhávamos manualmente, escolhendo tintas e tecidos, modelando a espuma, decidindo o que fazer, pediram-nos que refletíssemos sobre a seguinte situação: tendo que se mudar repentinamente para um lugar qualquer e podendo levar só três coisas, o que levaríamos? Logo de cara as casadas começaram a dizer o Marido...o que sem dúvida nenhuma serviu para que eu discordasse. Marido não se leva, vai junto. Marido não é objeto, vai junto se quiser. Tinha que ser coisas.´Deixado de lado marido e filhos, concordamos que cachorro podia ser levado, cachorro não tem vontade, embora não seja objeto, pode ser tratado como tal. As escolhas foram variadas e interessantes: álbum de fotografias,discos, livros,computadores, aparelhos de som, o que eu acho uma grande bobagem:levando dinheiro, compramos tudo novamente. O objetivo porém não era a discussão, mas a reflexão.Quando acabamos de preparar nossas caixinhas, com esmero e cuidado, várias descobertas foram feitas. Muitas de nós nunca havíamos feito um trabalho artesanal e estávamos maravilhadas com o resultado. Com a tarde caminhando para o fim e a chuva se recolhendo em nuvens que se distanciavam, fomos para o jardim, onde na varanda, nos dispusemos para a 2º fase da Oficina, não sem antes nos encantarmos com os efeitos das chuvas dos últimos dias no jardim de minha amiga.E ali começamos a segunda fase: pediram-nos que preparássemos uma lista de dores das quais gostariamos de nos livrar: nossas frustrações e fracasso, nossas tristezas e mágoas e que colocássemos a lista dentro da caixinha.O enlevo com o trabalho feito era visível. Cada uma abriu sua caixinha linda e colocou lá dentro a sua lista. Fomos convidadas então para nos dirigirmos ao fundo do jardim, onde um recipiente estava armado."Agora joguem aqui suas caixinhas, para colocarmos fogo nelas". Acho que se uma bomba tivesse caído ali o susto não teria sido maior. Ninguém entendeu nada e todas queriam saber a razão. Foi aí que descobrimos o nome da oficina, que até então estava sendo mantido oculto: Desapego. Foi duro colocar aqueles objetos tão lindos ali, feito com esmero, mas 14 pessoas o fizeram. Três não.Cada uma com seu motivo.Ver o fogo ardendo e consumindo todo o trabalho de uma tarde foi duro para quase todas.Eu me recusei a jogar a minha caixinha no fogo. Joguei minha lista de dores, mas a caixinha não.Estou em uma fase de limpeza geral, estou doando muita coisa que faz parte de minha vida, como livros, revistas, discos e roupas, objetos de decoração. Quando cheguei para a oficina estava decidida a dar minha caixinha para quem a quisesse, sempre há alguém que quer.Ia doar também o pincel para qualquer uma das minhas amigas, algumas estão sempre lidando com algum tipo de artesanato, não eu. Mas quando disseram que eu tinha que queimar a caixinha, me recusei. Dei para quem a queria. Voltamos então para a varanda onde em volta da mesa pudemos discutir nossas razões e emoções e avaliar o trabalho da tarde. Este era o objetivo. Não era importante o resto, jogar ou não a caixinha no fogo, a roupa velha que trouxemos para doar aos mais velhinhos do que nós,a troca de presentes pessoais. O objetivo era nos levar a refletir sobre a nossa ligação com o mundo e as coisas e a necessidade de desapegar-se, para no desapego aprendermos a construir um mundo novo dentro de nós. Continuamos nossa troca de idéias de novo dentro de casa, já a noite ameaçando chegar, em volta da mesa do lanche e talvez, um pouquinho melhores como seres humanos.