REFERÊNCIAS PARA ELABORAR HAIKAIS

Dácio G Moura

 

     Na literatura sobre haikais encontramos muitas referências sobre conceitos e técnicas para sua elaboração. Há também muitos exemplos de haikais de autores renomados. Acho que é difícil deduzir regras estritas para a produção desses belos poemas. Contudo, apenas como uma orientação geral, procuro seguir algumas regras que me parecem básicas. Nem sempre consigo aplicá-las plenamente, pois algumas vezes, por uma inspiração instantânea, um haikai nasce praticamente pronto e é difícil enquadrá-lo nessas regras. Talvez, com o tempo, essas regras vão se internalizando e sendo aplicadas mais naturalmente.

     Apresento, a seguir, as orientações que tento seguir na elaboração de haikais.

1) Número de sílabas, ou sons, para cada verso: 5 no primeiro verso, 7 no segundo e 5 no terceiro.

2) O primeiro verso apresenta um conceito, uma ideia, um tema ou um problema de ordem geral, que se pretende abordar. Exemplo:  no haikai abaixo é a expressão Convivência.

            Convivência
            O circo de Lúcifer
            Deus triste

3) O segundo verso apresenta uma descrição, um contexto, uma definição, uma metáfora, uma implicação, um argumento ou uma situação associada à ideia geral apresentada no primeiro verso. Exemplo: no haikai acima é a expressão “O circo de Lúcifer”. Está se afirmando que a Convivência é o Circo de Lúcifer.

4) O terceiro verso procura fechar, apresentar uma conclusão, uma dedução, um resultado associado ao que foi apresentado nos dois primeiros versos. Exemplo: no haikai acima é a expressão “Deus triste”. Está se dizendo que a Convivência, sendo assim, faz Deus ficar triste.

5)  Um bom haikai não deve falar o óbvio, deve apresentar algo que seja uma surpresa, algo novo que incita e provoque a reflexão do leitor. Um bom haikai não deve se limitar a fazer apenas versos bonitos, bem rimados e bem enquadrados nos números de sons recomendados.
Exemplo: no haikai acima é instigante a ideia da Convivência como algo negativo tal como um Circo de Lúcifer, pois na verdade ela é uma grande oportunidade para aprender a viver bem e a evoluir. Daí vem a conclusão: em sendo assim a consequência é Deus triste, porque, em tese, não é o que Deus quer. A dedução disso é que uma convivência boa faz Deus ficar feliz.

6) Um bom haikai infunde no leitor um pensamento ou um sentimento, uma reflexão ou uma recordação que lhe agrada, que ele sente ser algo novo e interessante.

7) Haikais não são para explicar, são para sentir e pensar. Por isso não são superclaros e superlógicos, como uma equação matemática. Os subentendidos são valiosos. Quando são muito óbvios, não são bons.

8) Uma característica sutil do haikai, de base japonesa, é denominada de “corte” (kire) que significa uma divisão do poema em duas partes. Dos três versos, o primeiro será a primeira parte e os dois últimos a segunda parte, ou vice-versa. Essas duas partes parecem apresentar ideias distintas, mas na verdade há uma união entre elas, que fica mais subentendida do que explicitada. Cabe ao leitor captar a união entre essas duas partes. Se isso não acontece, o haikai fica muito explicativo, muito óbvio e não condiz com a natureza do haikai. No haikai citado acima, a primeira parte é formada pelos dois primeiros versos e a segunda parte é o terceiro verso. (Para maiores detalhes sobre isso, ver adiante, o adendo sobre “O que é o haikai”).

9) Uma orientação que encontrei, que me pareceu muito interessante e eventualmente útil, é:

            1º verso: o eterno, algo que existe
            2º verso: uma novidade
            3º verso: uma síntese

10) Os haikais originais, nascidos no Japão, focalizavam aspectos da natureza. Atualmente há haikais apresentando várias formas e abordando vários temas. No meu caso, optei por focalizar a natureza humana, tendo como objetivo estimular a nobre função de pensar.

11)  Procuro pensar que haikai tem que ter: poesia, ironia ou sabedoria.

(Publicado em recantodasletras.com.br)

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O QUE É O HAIKAI

 

Publicado por: Alvaro Posselt

 

https://www.recantodasletras.com.br/teoria-literaria-sobre-haikai/1113744

 

https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/poemas-poesias/o-que-haikai.htm   (acessado em 21/12/2021)

 

(Trechos)

Segundo IURA (2007), para que um terceto (poema de três versos) possa ser chamado de haikai, é necessário atingir, em grau maior ou menor, uma ou mais características do haikai japonês, que são as seguintes: a forma, o corte e o kigo.

O corte (kire), que adiciona profundidade psicológica ao haikai, é a divisão do poema em duas partes, ou seja, dos três versos, o primeiro será a primeira parte e os dois últimos a outra, ou vice-versa.

Estas partes deverão ter sentido completo. No ocidente, o corte pode ser representado por sinais de pontuação no final do primeiro ou do segundo verso. Porém, o uso de pontuação não é obrigatório (IURA, 2007). CLEMENT (2004), por sua vez, é mais enfática. Para ela, o uso da pontuação é realmente desnecessário, pois o haikai não é uma sentença.

(...) Quanto às partes do haikai (MARINS, 2004), cada parte deve conter uma imagem que, quando justaposta uma com a outra, relacionam-se mentalmente, ou seja, que a conclusão fique por conta do leitor, pois quando isso não acontece o haikai se torna explicativo.

(...) Para VIEIRA (1975), deve haver no haikai um descobrimento, uma revelação, uma visão peculiar, sutil, que seja intrinsecamente expressiva e não uma comunicação explicitada, ostensivamente sonora.

 

Dácio G Moura
Enviado por Dácio G Moura em 27/07/2021
Reeditado em 30/12/2021
Código do texto: T7308750
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