E quando caírem as máscaras?
E quando voltarem as aulas, quando voltarem às visitas e às rodas de mate? Quando voltarem às festas, quando voltarem os amigos, os abraços, quando voltarem os beijos e quando voltarem os problemas que carregávamos antigamente? Quando voltarmos à forma, quando voltarem as rizadas, quando voltarmos à graça de viver?
Com a vacinação a todo vapor, tem gente que está só aguardando o diretor tocar a campainha para voltar à vida que levava antes dessa pandemia viral!
Na verdade não há volta, pois nunca houve a ida. Tudo na Terra é uma estada. Onde se está se está, e por pouquíssimo tempo. Aproveitemos com sabedoria o nosso tempo. Essa volta que muitos aguardam nunca acontecerá.
Deixar de viver, a meu ver, se equivale à morte subjetiva. Tudo sempre esteve do mesmo jeito, mas transformamos subjetivamente nosso viver pelo medo de sermos ceifados pelo vírus. Vivemos em um universo livre, mas nos sentimos neste momento de quarentena, castrados da liberdade. Como se nós fossemos a doença. O tempo passa e não há volta. Apenas o presente.
As mídias televisivas, que filmam nossa vida, registram nossa cultura e, certamente, balizam a moda e seus comportamentos, optam em abrir o foco da câmera para os pormenores mais sórdidos, para os exemplos mais encardidos e sombrios de nossa sociedade, multiplicando seguidores do mau exemplo e curiosos da desgraça alheia, deixando, por vezes, de mostrar o lado do bem do ser humano.
E se as mídias mostram, é porque as pessoas assistem. Será que ver a miséria dos outros nos deixa com a sensação de sermos mais fortes?
Além de mortes, essa pandemia assombra fortemente o social de nossa sociedade. É difícil não ser afetado pelas febres sociais. É complicado se isolar mentalmente, quando se está feito águia entre as galinhas, ou pior, quando se está cordeiro de si mesmo. No fim, tornamo-nos o próprio sintoma da pandemia.
Chamamos de estado de espírito essa real sensação existencial, que, na maioria das vezes, sustentamos internamente para poder, simplesmente, sobreviver às alterações de humor social e de comportamento das pessoas que mantemos convívio. Deveríamos cuidar de nosso estado de espírito. Fortalecê-lo e limpá-lo das más imagens.
Segundo o líder budista Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama tibetano, “a felicidade é um estado de espírito. Se sua mente ainda estiver num estado de confusão e agitação, os bens materiais não vão lhe proporcionar felicidade. Felicidade significa paz de espírito”.
Não haverá volta. O mundo mudou e muitos vírus virão. As palavras do Dalai Lama são as chaves da porteira. Ou cuidemos para não perder essas chaves ou deixemos a porta aberta. Mas, acima de tudo, estejamos preparados para ser quem somos, assim que as máscaras caírem.