Para Vencer a Morte

   

A única certeza que temos sobre o nosso futuro é que um dia iremos morrer. Ela é tão cristalina como o suceder dos dias e as estações, a renovação constante da vida, na qual a morte cumpre o desígnio de uma lei e Vontade infinitamente superiores à nossa.

Morrer seria como dormir?

Estaria certo o poeta inglês, ao colocar nos angustiados lábios de Hamlet as misteriosas palavras sobre o sono da morte?

Nós, que tão pouco entendemos sobre o significado da vida, ficamos perplexos defronte das várias teorias e crendices sobre o desenlace para o qual caminhamos inexoravelmente.

A morte é a ausência de atividade; a inércia, que corrompe as células mentais e prostra o indivíduo na frieza e mutismo da indiferença, defronte do que acontece a si e à humanidade.

Essa é a morte em vida, contra a qual podemos e devemos lutar, para que as nossas vidas não sucumbam na indiferença, no tédio, vazio e depressão.

Vencer a morte é vencer a inércia mental; a rotina e a mesmice do suceder repetido de dias e anos; criar novas atividades, ideias, e um novo ser humano, das cinzas do velho ser, este sim, que deve morrer, definitivamente: o velho homem de preconceitos e temores seculares, como bem apontou o pensador González Pecotche.

Assim, a cada morte e renascer diários, a cada amanhecer, que suceda à noite da transição, saibamos experimentar a sensação de vida, a se desprender de toda a atividade construtiva que sejamos capazes de empreender.

              Nagib Anderáos Neto