Algazarra que dói nos pensamentos negativos

Algazarra que dói nos pensamentos negativos

Luiz Alberto Silveira

Falo comigo permanentemente. E você? Falo mais comigo do que com os outros e, nos meus diálogos, sou entrevistador e entrevistado. Que pergunta e responde, concorda ou não, gosta ou não, aceita ou rejeita. É sempre eu comigo. É quando todos os sonhos, fantasmas e fantasias surgem. E, quando todos estão dormindo, insônias geralmente criam diálogos mentais que traduzem sufocos, soluções, medos, declarações de raiva ou simpatia, de tristezas e alegrias. O silêncio na insônia é quebrado por um enorme barulho mental. Só existe eu e eu - nós e nós. Viramos para um lado e outro na cama e a algazarra dos pensamentos não nos deixa dormir. É um tal de “não quero, não faço, não deu, não gosto, vou esperar, vai acontecer”. Tentamos calar nossos pensamentos, mas é inútil, retorna o “vai passar”, “seria bom”, “assim vou fazer”, “deste jeito não dá”...

Tentamos uma oração, que acalenta momentaneamente e, aos poucos, retorna o “Por que eu? “Ninguém vai fazer nada?” “Como vou pagar as contas?” “Logo agora que me aposentei”, “Sou feliz e farei felicidade”, “Vai dar certo, preciso sobreviver”, “Como isto pode acontecer?” “Por que tudo isto?” E o sono não vem. Elevamos o travesseiro e não tem jeito - não paramos de falar conosco, de sentir o turbilhão dos pensamentos em gritaria incrível. Falamos tanto conosco, que temos material suficiente para um filme, um livro. Às vezes, com um sonífero protelamos nosso diálogo mental.

Além da insônia, eventual ou permanente, no carro, na rua, no ônibus, se nos virem com olhar fixo, sem piscar, por favor não interrompam, estamos falando conosco. Se todos pudessem ouvir os sons das consciências, teríamos num encontro, reunião ou aglomeração, uma surdez instantânea pela intensidade do barulho dos nossos pensamentos. Falamos tanto conosco em nossos medos, receios, perdas, conquistas, desafios, alegrias, felicidade e dores, a ponto de não nos entendermos. A ponto de descobrirmos caminhos que livros não mostram, de sublimação, de elevação e queda. A ponto até de suicídios físicos e mentais acontecerem em decorrência dos barulhos produzidos. E quando as falas resultam do stress continuado ficamos vulneráveis às doenças do corpo e da mente. Reduzimos nossa imunidade no negativismo e

pessimismo. Melhoramos a imunidade na alegria e esperança. Sentimos no corpo o que a mente pensa. O corpo não se protege de nossas falas interiores, pessimistas ou otimistas, adere a elas. Aliás, as falas da consciência, do espírito, não necessitam do corpo. Só existo se penso, e não, só existo se tenho corpo. Não é por falta de diálogo interior que não somos mais felizes. Muitas vezes é por sermos cegos ou não ter com quem contar, não sentir generosidade, atenção, carinho, compreensão e amor, que vivemos em sufocantes algazarras espirituais, sem perceber que muitas soluções não estão em nós, estão no outro, nos outros.

Sete bilhões de pessoas na terra estão em constante busca de soluções e da felicidade, muitas vezes falando sozinhas. É no nosso silêncio externo e barulho interno que ódios e amores se exacerbam, que guerras e paz são declaradas. Que a paz possa decorrer de um profundo amor correspondido e que soe como música aos nossos ouvidos espirituais. Não dê trela aos seus pensamentos negativos. Eles não merecem.