Meu filho é um adolescente. E agora?
M eu filho é um adolescente.
E agora?
(Este texto decorreu de um papo com um pai, meu amigo, com problemas)
Luiz Alberto Silveira
Aos papais de adolescentes: todos os pais foram adolescentes e sabem as dificuldades que tiveram, em casa, nessa fase da vida. A adolescência é uma fase de tensão entre pais e filhos.
Quando tornam-se pais os adultos esquecem os adolescentes que foram.
Esquecem que tiveram vontade de experimentar o novo, mostrando que eram capazes, e reagiam aos comandos que tolhiam suas liberdades.
As relações entre pais e filhos, na adolescência, tornam-se psicologicamente mais complexas, as tensões aumentam e, se não houver tranquilidade aos adultos para administrar conflitos, cria-se o distanciamento dos filhos gerando repercussões em sua vidas difíceis de serem corrigidas. Às vezes os pais são os adolescentes. Os filhos esperam uma ligação afetiva (amor) que considere seu crescimento e necessitam apoio e percepção sem intromissão autoritária, com carinho, calma, tranquilidade. Para buscarem independência, os jovens afastam-se de seus pais – como nos afastamos dos nossos – naturalmente, sem significar que não os querem mais. É o momento de, ainda que com limites, se dar mais liberdade aos filhos. A segurança da liberdade estará nos exemplos e comportamentos que os jovens percebem em casa. Assim vai sendo construída a identidade do adolescente, sem a imposição do “eu sei mais do que você porque já passei por isto” ou “você não sabe nada sobre a vida”. Os jovens querem sentir que estão descobrindo o mundo e vão preparando-se para enfrentá-lo.
Não há como os pais viverem o momento dos filhos como se fossem seus. Pode doer um pouco, nos dois lados, mas é necessário experimentar.
Sem doutrinação dirigida, os pais devem realizar reuniões familiares episódicas mostrando aos filhos o que percebem do mundo e da vida deles para que estes tenham parâmetros comparativos com o que pensam.
Quando adolescentes também fugíamos e não dávamos satisfação aos nossos pais. Quando nos cobravam explicações ficávamos irritados, achando que a vida era nossa e eles não tinham nada a ver com isto e aquilo. O respeito e a seriedade no momento de saber o que os jovens estão fazendo promovem aproximação e mostram que é bom e seguro trocar ideias, ouvir conselhos. Assim será mais fácil saber quem está ao redor dos filhos, o que estão sentindo e o que estão fazendo, sem receios de que se sintam em julgamento. Sem cobranças ostensivas, com afeto, diálogo, olhando docemente nos olhos, abraçando e beijando sem exageros (adolescentes não gostam de melosidades), manifestando o orgulho que têm em serem seus pais. Não os deixem ter a sensação de falta de confiança, não exagere suas investigações. Conhecendo o ambiente que frequentam e com quem andam, deem liberdade aos filhos e busquem uma aproximação tal que seja possível buscá-los “na balada”, saber e curtir com eles a alegria que tiveram.
Percebam se estão contraindo hábitos que os coloquem em risco e busquem, com maturidade e exemplos, conscientizá-los. É importante perceber o nível de maturidade que o adolescen- te tem para melhor ajudá-lo. Evite que se sinta controlado e vigiado, mas certifique-se dos riscos dos seus caminhos. Os pais nunca devem reagir emocionalmente, a altos brados, bronqueando sem cessar com um adolescente. Não devem deixá-lo sentir mais a bronca do que os fatos que os preocupam. As consequências dos fatos perigosos necessitam ser mostra- das com tranquilidade e carinho, respeito e consideração. Não escolha o namorado dos seus filhos nem coloque defeitos neles, este é um motivo importante de afastamento. Não exponha segredos e intimidades de um adolescente na família ou aos amigos.
Entenda que os pais não estão no mesmo nível dos amigos, são de gerações e percepções diferentes, têm um relacionamento hierárquico com os filhos enquanto estes sentem-se iguais aos seus amigos. Pais que interferem muito na relação de amizade com os amigos de seus filhos os deixam envergonhados e isto é péssimo ao relacionamento. Pais serão sempre pais, legais ou não. Não coloquem seus filhos numa redoma nem os considerem sem defeitos em relação aos amigos. Eles têm defeitos, os amigos também têm defeitos. Ninguém é santinho, nem você. E todos também têm muitas qualidades. Criticar amigos dos filhos ou seus relacionamentos de forma insensata faz com que omitam informações sobre os mesmos para não vê-los expostos às suas críticas. Não os apresentarão mais a você, não os trarão à sua casa e ficarão mais na rua. Cuidado. Não faça ameaça a um adolescente (cortar dinheiro, viagem, presente). Explique suas preocupações, dê exemplos. Não o humilhe dizendo que vive às suas custas, não estabeleça obediência provocando medo e raiva. Isto é péssimo. É complexo, é difícil para todos, porém é assim que se forja jovens responsáveis e o bom futuro de suas vidas. Foi o que falei ao meu amigo. Na ótica de um pai e agora avô quatro vezes.