FUSÕES DO AMOR
FUSÕES DO AMOR
O amor busca uma fusão impossível, pois é o embate de duas solidões. Um eu e um tu transformam-se em um nós, que possui o drama do dito versus o sentido. Desenrola-se, ou não, por dependência do cenário. Ressurge iluminando nossas retinas, certo de não nos ofuscar. Já nos sugeria o poeta: “amar é mudar de casa”.
Existe o amor caracol e o amor lagarta; o primeiro vive no seu recanto, prendendo o canto próprio, o outro não nos remete ao quão bonito pretende ser, mas quando “encasulado” vai vivenciando, aos poucos, o processo liberatório.
Eu me convenço, cada vez mais, que “amar é entrar no tempo do outro”. Se o nosso próximo não pode nos ofertar algo no momento no qual precisamos, então devemos compreender que o preparo não foi assimilado. Se não quer ter determinado relacionamento, deve-se olhar como uma opção, não rejeição; do contrário, é hipocrisia.
Quem será a pessoa escolhida? Escolhe-se? Ficará calada sobre o ouvido? Quando juntos o silêncio é suportado pelo olhar? Terá paciência de ouvir as mesmas histórias? Gabriel Marcel – grande filósofo – falava que amar o outro consiste em olhar nos olhos e dizer: tu não morrerás jamais em mim!
Todavia, fiquemos cientes do ledo engano ao dizer: “eu sempre vou te amar”. Não há como prevermos os sentimentos, porém podemos exprimir – “serei fiel ao meu sentimento por você’’ – eternamente. Não o negarei. O que foi vivido já faz parte de mim, impossível deslocá-lo.
O Amor, o Amar, é uma dicotomia, pois tanto perto quanto longe haverá de cair num “precipício lacrimal”, perto pelo apego;longe pela saudade. Aí está a missão que é manter o equilíbrio. Digo isso no meu livro “Lembrança Perseverante” – poesias.
Transcrevo os versos: Amor, se tens amor,/ que por mim clareias/ora que seja fogoso como lareira/sentir-me-ei com calor/amo como eu/não amo como o alheio/insanável deleite pelo leito/coisificando coisas fabulosas/ponho o teu olhar em foco/ e a cada cegueira me sufoco/coração tanto perto quanto longe/transcende ao precipício lacrimal.
Há quem queira ser amado de forma semelhante a outrem,mas viver esse processo é reconhecer que deve haver constantes invencionices. Cair na mesmice é ponte da desunião. Quer saber se está apaixonado? O primeiro sinal é ver o seu amor no rosto do povo. Não esqueça: tua face será reflexo para o outro.
Um bom tempero: a saudade, a saudade que seja nua e que só a(o) amada(o) possa vestir, na qual nem o maior ego é capaz de renegar. Que nós não morramos sem provar do desejo que inflama o corpo e delira o espírito. O amor não sobrevive no prazer, mas no desejo. Lacan já dizia: “A fonte de todo desejo está em ser desejado”. Vamos prosseguindo, fazendo com que o outro nos deseje através dos gestos simples, poéticos. Fundindo o “Eu e o Tu”, atrelando as solidões e descobrindo quem nos tornamos quando estamos lado a lado.