FÉ, CIÊNCIA E ESPERANÇA, APENAS UMA REFLEXÃO
O ser humano precisa das três?
Poderia o homem ser e sobreviver sem crer? Sem ter certezas? Não necessária e obrigatoriamente se trata, tão somente, da fé cristã. Esta é a mais importante. Mas, como somos cabeças-duras (e Deus sabe muito bem disto, caso contrário não haveria enviado Jesus para a missão que cumpriu) só nos agarramos a Cristo nas horas mais difíceis. Os mais “cascudos” esperam até a hora da morte.
Tem que haver fé. Fé no estudo, no trabalho, nos projetos, nos planos, no Estado, nas autoridades; na Justiça, na política, na Medicina, na Educação; na família; na Economia; na Cultura; na Ciência e até no futebol e na loteria fazendo a tal “fezinha”.
“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá” (Gilberto Gil). Música e poesia, além de serem irmãs siamesas, têm autoridade e autonomia para tudo. Mas, objetivamente, a fé humana falha sim e falha muito, várias vezes. Por tal razão, é bonito demais uma fé inquebrantável. Uma fé assim, no mundo pós-moderno e caótico, da tecnologia e do avanço científico é avis rara, chega a ser invejável.
A fé verdadeira deve ser algo tão belo quanto a Música e a Poesia. A fé legítima vem, chega naturalmente, entra sem pedir licença, se aloja em nosso ser. Não diria no coração porque neste entra mesmo é sangue. Acontece, porém que nem todos são músicos ou poetas. Os críticos, por exemplo, não têm tanta fé. Sabe por quê? Porque crítico é discípulo de São Tomé, é “ver para crer”. Crítico fica ali, teimando, submetendo mistérios a métodos, o que não funciona. Crítico fica no pé do criador, procurando falha, imperfeição, ilogicidade, incoerência, inconsistência. E sempre encontra.
A “fé” na loteria é cega, quem acredita em jogo desconhece a matemática, confia no destino, na sorte, no “milagre”. De qualquer forma cumpre lembrar que, assim como Deus é o Senhor do sábado, O é também da Matemática. E, por falar nisto, Ele sabe que os maiores matemáticos não saíram do período da alfabetização.
Fé é um caso sério, algo ao mesmo tempo simples e complexo. Gosto de procissões. Nelas posso ver pessoalmente a fé. Vem aquela emoção crescendo com a música e a poesia, tomando conta do corpo físico e do corpo espiritual, subjugando a razão e a psique e trazendo uma sensação que pesquisa científica alguma poderá um dia proporcionar. Depois que o andor passa, lá vem a dúvida roendo os neurônios. A ciência é dúvida e a fé é certeza.
Ter ou não ter fé, eis uma questão individual, íntima e, quem se diz fervoroso não pode condenar quem não o é. No caso do cristianismo, seria desmentir o próprio credo por estar fazendo julgamentos.
Gosto de Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, mas considero fraqueza e medo da morte aquele arrependimento tardio e aquela fé funérea. Quem sabe era uma tentativa pois “baiano burro nasce morto”.
Tem gente que, pelo jeito, já nasce com a bagagem da fé registrada em seu mapa genético. Trata-se de gente privilegiada.
A Fé é a Paz. Quem realmente dispõe dela não sofre as angústias da busca da Verdade porque a Fé também é a Verdade.
De uma coisa estou crente: quanto mais se repete a insuportável frase “Tenha fé”, aí é que ela foge.
Um fato interessante ocorreu entre o ponto que conclui o parágrafo anterior e esta parte do texto que agora produzo. No dia seguinte encontrei, por acaso ou matemática da vida, um amigo que, inocente a respeito da existência desta reflexão, fez questão de me falar e de até “suplicar” que eu comprasse, lesse e escrevesse sobre a obra de Francis S. Collins (Diretor do Projeto Genoma Humano), A linguagem de Deus.
Entra em cena a minha fraca fé e me sussurra: “Tânia, Deus usou o seu amigo como instrumento e portador de uma mensagem”.
Entra também a diabinha da crítica que aprecia a dúvida e diz: “Será que ele é mesmo o porta-voz dos Céus?”.
Para tentar resolver o dilema que se interpõe, leio o citado livro, faço comparações, aproximações, tiro conclusões, o que é de direito e de praxe no exercício do livre-arbítrio.
Não é que, relando a primeira parte deste texto, encontro meu pensamento combinando com outros de Collins? O mais intrigante é que até considero ser levada a alterar um pouco a rota da minha reflexão por causa do cientista, biólogo, médico e confessor da fé cristã.
O cientista, em sua obra, disserta sobre o cisma entre a ciência e a fé (inclusive assinala como saiu da condição de agnóstico e depois de ateu). Refere-se, ainda, às grandes questões da existência humana e à fé na ciência irmanada com a fé em Deus. Como objetivo do livro, o estudioso escolheu argumentar que a “crença em Deus pode ser uma opção completamente racional e que os princípios da fé são, na verdade, complementares aos da ciência”.
Segundo Collins, na era moderna de cosmologia, evolução e genoma humano existe a possibilidade de uma harmonia satisfatória entre as visões de mundo científica e espiritual. Tal coexistência enriqueceria e iluminaria a experiência do homem, crê piamente o Diretor do Projeto Genoma, para quem a fé é “a mais importante das questões humanas”.
Mesmo leiga em Biologia, observo, entretanto, que Collins é bom de fé, mas bem melhor trabalhando com o mapa genético. A exemplo, diria que me parece incoerente quando não duvida da paz entre ciência e fé e, logo depois, afirma que “Se Deus existe, deve se encontrar fora do mundo natural e, portanto, os instrumentos científicos não são as ferramentas certas para aprender sobre Ele”. Como então, Collins, chegaremos ao Reino da Fé?
Quanto à esperança, não creio que ela combine com a fé. Tão pouco com a ciência. Esperança é verde, imatura, vaga. Não creio também no “quem espera sempre alcança”. Esperar é passivo, anêmico, gosta de cadeira. Quem espera cansa, desiste, dorme. A esperança é tímida, a fé é ousada. Foi pela fé que: o cristão convenceu o leão na arena romana, Joana D’Arc se glorificou no fogo; Santo Antônio andou sobre um braseiro; Francisco de Assis abandonou a riqueza; a mulher cananéia obteve a cura para a filha endemoniada; a hemorrágica sarou; o filho do centurião romano também.
(...) “Porque eu vos declaro esta verdade: se tiverdes fé, embora só do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Muda-te daqui para lá! e ele mudará. Nada vos será impossível”. (BÍBLIA SAGRADA, Novo Testamento. Mateus 17, 19-21).
“Se não vir nas suas mãos as feridas dos pregos, se não puser nelas meu dedo e não colocar minha mão no seu lado, não acreditarei!”.
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(...) “Mete aqui teu dedo e olha minhas mãos; levanta tua mão, mete-a no meu lado e crê, e não sejas mais incrédulo!” Jesus lhe disse: “Porque me viste, Tomé, acreditaste. Bem aventurados os que acreditam sem ter visto!”. (Idem, João 20, 27-29).
Como demonstrado, aí estão a fé e a ciência unidas nas palavras de Jesus que não condenou Tomé.