E se eu não tiver mais tempo?

E se eu não tiver mais tempo?

Luiz Alberto Silveira

Se soubéssemos que em breve não estaríamos mais aqui como ficariam nossos por ques?

Como fazer e o que fazer?

Quais seriam nossas prioridades na corrida contra o tempo?

Quais seriam as lembranças marcadas em relação à família, aos amigos, à nossa cidade e sociedade?

O que ocorreria de imediato a nos levar a não perder mais tempo algum, um minuto sequer?

Quais seriam nossas ações na ânsia de lutar pelo bem, resgatar, agradecer, compensar, recompensar, mostrar nosso coração, as inquietudes do nosso espírito, as coisas que fomos deixando passar, os sonhos que guardamos para depois, os abraços que deixamos de dar, o amor que nos omitimos em mostrar, as palavras carinhosas que deixamos de dizer, o estar junto que deixamos de ficar?

O “obrigado”, “não foi nada”, “está tudo bem” que precisava ser dito?

Não pensamos que o amanhã pode não chegar — e frequentemente protelamos o jeito de amar, de mostrar o que sentimos, o perdão que devíamos ter tido e dado, as vozes que precisávamos ter melhor escutado, os passos mais seguidos, o rosto que teria de ser mais tocado, o carinho mais oferecido.

Nem sempre o tempo pode esperar.

E o abraço apertado, sentido, poderá ser pouco repetido.

Não sabemos e nem devemos saber do tempo findo que está

por chegar.

Precisamos ter certeza que devemos ficar mais perto e não des-

grudar do amor que precisa ser mostrado, do olhar nos olhos (olhado) por mais segundos sem nada falar (só sentir), do aconchego no lar e no leito de amor que foram esquecidos, de chamar de volta quem não queríamos que tivesse partido.

Não podemos perder tempo para mostrar a beleza dos nossos puros sentimentos para não sermos surpreendidos com o ocaso da vida.

É hoje (ninguém se compromete em garantir o amanhã).

É agora: saia correndo e ouça mais a voz e delicie-se dos gestos dos seus amados, diga-lhes do seu amor e não se satisfaça em achar que eles já sabem disto. Lute suas lutas.

Olhe mais e veja a beleza que existe em sua casa, em sua cidade, em seus familiares, em seus amigos.

Não se sinta sem tempo para demonstrar sentimentos e posições. Não colabore com carências afetivas (suas e do outro), tão cruéis na vida de tantos. Não saberemos nunca quando será a última vez para explicar, para aproveitar a convivência, para rever os momentos, para fazer sorrir ou chorar de emoção de novo, para “zerar a conta” do infortúnio, “passar a borracha” nos descompassos.

Não deixe para depois, é possível que não haja prorrogação do tempo.

Ah! Para não esquecer, receba meu sentido abraço.