A vida por um sopro
A brevidade da vida me assusta. A fragilidade também. Éramos seguros, estávamos no controle... Afinal estamos no século XXI. O câncer já não nos preocupava tanto. Para a Aids, foram criados coquetéis que a controlava com certa eficiência. As doenças cardíacas a cada dia pensavam em uma intervenção para saná-las. Mas, para provar a nossa vulnerabilidade e incompetência, chega um vírus capaz de matar mais de 3.000 pessoas no curto espaço de 24 horas. Mais de 328.000 pessoas em um ano. E as previsões não nos animam: a coisa pode piorar... É o nosso Brasil...
Enquanto isso o presidente da República ainda se sente um Deus. Prega curas charlatanistas, protesta contra medidas sanitárias e tenta impedir a publicação de dados sobre a doença. Três ministros da saúde já foram despedidos, batemos recordes a cada dia. A inabilidade na condução da pandemia já foi mais do que provada.
Sem se importar com as dores e sofrimentos das pessoas que esperam para um tratamento digno e para os familiares que choram os seus mortos, os olhares se voltam para 2022. Ser reeleito e proteger sua insana família, é o que importa no momento. Acredito, mas sem nenhuma convicção, que as vidas que restarem dessa carnificina serão suficientes para elegê-lo novamente. Afinal, controlar um país com uma população menor e selecionada pelo vírus será bem mais fácil para ele, não?!
No entanto, muito em breve o presidente descobrirá, ao custo de milhares de mortes, que sua descredibilidade aumenta quase que na mesma proporção que o triste número de vidas perdidas. Mas ele não parecerá convencido. Tem uma barreira cognitiva que o impede de enxergar aquilo que desmente uma informação precária. Uma convicção fundada em fantasias, o faz prosseguir... mas em breve passará para a história como um exemplo internacional de como não agir no meio a pior crise sanitária dos últimos cem anos.
Nália Lacerda Viana, 03 de abril de 2021