Não guardo mágoa, nem rancor de ninguém. Graças a DEUS. Porém por muitos anos, não queria nem ouvir falar na D. Joana. A Joana da Maria Sabino. Embora até hoje eu não saiba o porquê desse nome. Talvez porque não tenha tido afeto por ela, não me interessei por pesquisar. Pode ser porque o nome da mãe dela era Maria e do avô Sabino, não sei! Só sei que todas as vezes que eu a via vindo na direção da nossa casa, eu falava: vovô, a PINOIA tá vindo ali. Me escondia no oitão da casa e só aparecia depois que ela ia embora. Apelidei ela de PINOIA, porque, ela para me pirraçar, disse que tinha visto a minha mãe, atrás de uma moita, fazendo as suas necessidades. E falava com uma linguagem chula, a linguagem local, que no meu conceito de criança, manchava mais a imagem da mãe que eu não conhecia (e não conheço). Por isso, peguei ranço. Hoje sei que é comum, alguns adultos, pirraçar as crianças. Não aprovo. Criança tem que ser tratada com respeito e carinho. Manoel Dias, também me pirraçava, ele dizia que eu não tinha mãe, que meu avô, tinha me achado num oco de pau e resolveu me criar. Só que ele, Manoel Dias, falava rindo, deixando transparecer que era brincadeira. A D. joana não, ela falava sério, de modo que me fazia acreditar. E curiosamente, não tenho lembrança se ficamos amigos, ou se pelo menos eu me aproximei dela, antes de DEUS a levar. O que lembro é que ela tinha um filho de nome Daniel que ninguém sabia por onde ele andava. E ela, vivia a clamar que queria abraçar esse filho antes de morrer. Quando sem avisar, sem ninguém esperar, do nada e ninguém sabe de onde, ele apareceu. Porém parece que foi só para a mãe matar a saudade, porque, isso eu lembro, não demorou muito, ela faleceu. Estou contando isto aqui, porque é uma curiosidade que tenho em relação às despedidas entre pessoas que se amam. Contabilizei isso, a partir do momento que lembrei da tia Isaura, que vivia escrevendo (quer dizer, pedindo pra o vovô escrever, ou melhor redigir, quem escrevia era eu, ou então o Zé Gó, cunhado da Joana) semanalmente, ou mensalmente, para seu filho Jovino, lá na região de Irecê. Ele atendeu os seus apelos, foi embora e assim que chegou, em pouco tempo DEUS a chamou. Com a vovó também foi assim! Vivia pedindo pra meu pai ir embora do Paraná. E meu pai atendeu aos pedidos dela, foi embora em junho e no começo de outubro, ela voou nas asas negras da morte. E minha vida nunca mais foi a mesma. Pra atender um chamado do meu pai que toda vez que a gente se falava pelo telefone, dizia que queria me dar um abraço (e eu queria mais ainda). O ano passado, a PINOIA dessa PANDEMIA me afastou do trabalho e de algumas pessoas, porém abriu uma brecha para eu ir na minha terra, com um espaço maior de tempo e ficar abraçado com meu pai por um tempo maior.
Pela última vez.
Santo André, 29/03/2021