CONTRIBUIÇÕES DAS PESQUISAS TOPONÍMICAS PARA A PRESERVAÇÃO DA CULTURA

Alexandre Melo de Sousa (UFAC)

Doutor em Lingüística

profalex-ufac@bol.com.br

É do saber geral que a língua é o principal revelador da cultura e da história de qualquer grupo humano constituído socialmente. E o acervo lexical, como parte significativa da língua, tem sido abordado por diversos pesquisadores, que intentam evidenciar traços, marcas que caracterizem ou revelem matizes sócio-culturais de determinadas comunidades.

A Toponímia, ou Toponomástica, é uma das sub-áreas da Onomástica responsável pelo estudo etimológico e semântico dos nomes próprios de lugares (acidentes geográficos físicos e humanos). Dado o alcance interdisciplinar inerente ao seu objeto de estudo – o topônimo – as pesquisas toponímicas (ainda em pequeno número no Brasil) têm adquirido grande valorização entre os ramos científicos, principalmente, os de caráter lingüístico.

O sintagma toponímico, como unidades terminológicas que são, comportam em seu bojo características que refletem a cosmovisão de uma sociedade: evidenciam necessidades, revelam interesses, refletem aspectos linguo-culturais, muitas vezes desaparecidos ou desconhecidos pelos membros sociais: trata-se de uma simbiose entre língua e cultura, que desemboca, exatamente, no conhecimento dos fatos revelados por esses signos onomásticos.

Tendo em vista o exposto, temos desenvolvido na Universidade Federal do Acre, uma pesquisa ampla – o Projeto Atlas Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira – que, de uma maneira geral, busca inventariar, catalogar, classificar e analisar os topônimos acreanos, tanto os relacionados a acidentes humanos (cidades, seringais, colocações, bairros, ruas etc.), quanto os relacionados a acidentes físicos (serras, rios, igarapés etc.), com vistas a verificar em que medida esses itens lexicais retratam a realidade físico-geográfica e sócio-histórico-cultural da região e de seu povo. Procura-se, portanto, verificar nos topônimos as possíveis inter-influências língua X realidade estralingüística sofridas em suas gêneses.

Até o momento, os resultados têm apontado para uma superioridade (quantitativa) de topônimos motivados por fatores antropo-culturais. No entanto, ainda é cedo para dar conclusões definitivas. Ao logo da pesquisa, de certo, curiosidades e revelações surgirão, o que tornará este trabalho ainda mais interessante e prazeroso.