Morrendo pela cidade...
Se antes envelhecíamos na cidade, hoje morremos aos poucos nela, vendo a vida passar através da janela, esperando talvez o que ainda vai demorar, o que nem sabemos se irá chegar, ou simplesmente faltar, o ar...As ambulâncias a passar, como num grande circo de horrores, levando jovens e velhos, esposas, maridos, namoradas, amores, em busca do que já não há mais, as tão procuradas vagas nos hospitais...Quem sabe ali na cidade vizinha, mas a resposta é sempre a mesma, o não, enquanto a saúde definha por falta de recursos, de cursos de todos os tipos, quem sabe se houvessem mais médicos, enfermeiros, sei lá, mas isso nunca foi a verdadeira prioridade no país e por isso a constatação é simples, não há...Quando se tinha tempo e dinheiro, o farto fundo eleitoreiro não foi usado com parcimônia, gastou-se sem qualquer cerimônia, sem ter medo do futuro, mas a pandemia corre e não adianta agora culpar esse ou aquele pois ninguém dentre todos eles, tiveram a sabedoria que o povo achava que tinham, troca o comando mas permanece a ladainha, do vamos fazer, vamos resolver e enquanto isso o povo morre...A sirene da ambulância acaba de anunciar mais uma chegada, ou seria uma partida, quem sabe mais uma vida perdida de forma cruel, rogamos a Deus do céu, ou a qualquer outro ser que possa nos ajudar, pois o ser humano acaba de falhar, mais uma vez as ambições, os prazeres da vida, a luxúria, as mansões, o dinheiro público sendo gastado a rodo e ao povo sobra o engodo, a fome, a necessidade e assim segue a humanidade, ouvindo mentiras e falsos salvadores, esquecendo do valor da vida, subjugando valores, querendo que as coisas mudem, esperando ter um pouco de felicidade, mas enquanto a vacina não vem, não tem leitos de UTI para ninguém, tendo ou não tendo poder, querendo ou não querendo ser, poderemos estar por aí, morrendo pela cidade...
Adilson R. Peppes.