DUALIDADE QUE DÁ SENTIDO À VIDA

É próprio do ser humano a atração física pelo sexo oposto e em conseqüência o desejo de acasalar-se. Daí o casamento, legalmente protegido para o estabelecimento da família, que considero a mola mestra da sociedade. Um dos fins precípuos dessa união é o relacionamento sexual para a propagação da espécie. Além dessa finalidade, o ato sexual propicia muito prazer, amainando as desigualdades do casal, ajudando a construir a almejada felicidade. Ocorrendo fatalidades que causem impotência sexual, outras formas de “fazer amor” existem, ficando obstaculizada, apenas, a fecundação por vias normais. Contudo pode-se lançar mão da medicina (reprodução in vitro e reprodução assistida) ou, ainda, da adoção.

Na união conjugal, o respeito mútuo, o diálogo, a vontade de acertar, o querer o bem do outro deveriam fazer parte do amor maior que nos conduz à escolha do parceiro para uma união que se imagina duradoura. E isso se faz por meio do namoro, não obstante haja muitos desencontros e desencantos nessa caminhada. Talvez seja uma loteria, mas ainda acredito que o diálogo, os pontos comuns, o bom senso, a lucidez, a razão aliada ao coração são boas ferramentas para o acerto.

Têm pessoas que ficam a vida inteira esperando a alma gêmea. Essa perfeição não existe. É preciso ser artista para esculpir uma aproximação do ideal. É preciso buscar o básico indispensável e daí construir uma obra de arte para alicerçar uma família sem mágoas, sem cicatrizes, fulcrada em exemplos diários. Contudo, sabe-se que a mulher, hoje, é uma nova mulher. É elemento somador de esforços comuns. Nada daquele estereótipo sociológico de objeto sexual, de fardo nos ombros do marido. Ela vai à luta, ombreia com ele na conquista de seu espaço, sobressaindo-se com galhardia.

A doutrina espírita fala dessa possível alma gêmea. Muitos relacionamentos levam-me a crer que exista, ou os casais foram privilegiados em sabedoria. E, ante esses artistas, curvo-me com respeito. Chamo-os de mestres.

No mundo moderno, fala-se em parceiro só para o sexo. Chamo a isso fisiologismo, e abomino. A mulher, geralmente, não aceita o sexo dessa forma. Seria muito terra-a-terra. É necessário um envolvimento maior, uma cumplicidade, pois sem um sentimento de encanto e admiração a relação sexual jamais aconteceria plena, solta, bonita e sublime, uma vez que é uma transferência mútua de energias que nos abastecem, tornando-nos plenos, renovando-nos a felicidade do existir. O Amor engloba respeito e o exercício do sexo é como se fosse uma cerimônia litúrgica: necessita ritual, preparação, corte... Acredito que o amor procura o sexo e o sexo coroa o amor.

Nessa dualidade homem-mulher ainda existe a paixão que é um sentimento arrebatador, doentio, apesar de extremamente gostoso. Costuma ser passageiro e abrir verdadeiras crateras na saída. Um vazio imenso, um enorme gosto de dor. Para uma relação profícua, a paixão é prejudicial. Necessário se faz um amor maduro, consciente. Guimarães Rosa dizia que viver é muito perigoso. E, viver a dois, muito mais.

Esse convívio deve ser harmonioso, com muito respeito à individualidade, sem a cobrança de posse, pois o amor não se compra em supermercados. Ele é, antes de tudo, uma grande conquista. Se a gente ama, tudo vem por acréscimo. É como aquela frase bíblica: “Ama-me e fazes o que quiseres”. O amor é espontaneidade e nunca imposição. E, a cada dia, cresce ou desvanece conforme o trato. Por isso é necessário cuidar, regar todos os dias, como se fosse uma plantinha. Jamais deixá-la murchar, por maiores que sejam as intempéries. É inteligência, sabe? Afinal há mais felicidade em dar do que em receber.

O amor é lucidez, dinamismo... Não só o amor conjugal, mas o amor em sentido lato, o amor transcendental. Se você não tem o amor por escudo, torna-se uma pessoa vazia, amarga, sem brilho nos olhos, sem objetivo, sem auto-estima, pois quem não ama a si mesmo como poderá amar aos outros ou ser amado?

Sendo o sentimento maior e mais sublime entre duas pessoas que se gostam, o amor não tem receitas, determinações. Ele é intrínseco, peculiar, singular. Cada um ama do seu jeito. O importante é amar e sentir-se amado. Quem não gosta de lua matreira, de chuva na janela, de ganhar flores, de ingredientes que aumentem a sua sensibilidade rumo ao amor, desde que sejam espontâneos e sinceros? Por que não cantar o amor? Quem não gosta de ouvir, repetidas vezes, a confirmação de que é amado, num guardanapo de hotel, num cantarolado jocoso, numa caricatura de jornal jeitosamente endereçada? E, isso eu não acho que seja antigo em qualquer tempo.

É o seu jeito de amar, de transmitir à pessoa amada o que lhe vai no peito, confirmando sempre a distinção que ela ocupa em sua vida.

É preciso, também, respeitar e respeitar-se. Faz parte do amor. É preciso não se anular, mas saber dialogar, ceder, reconhecer e, muito mais aprender.

Apesar de o amor ser um sentimento lindo, há os que o maculam, os que não sabem exercitá-lo na relação conjugal, no companheirismo. Não respeitam a individualidade do cônjuge, transformando a relação num campo de batalha. E, é por essas agressividades que o casamento torna-se compromisso de ninguém e as separações ganham índices avassaladores, com grandes prejuízos e desgastes psicossomáticos para toda a família.

Por outro lado, é preciso evitar as mágoas. Errados princípios, dificultosos fins. Procure exaltar sempre o lado bom do seu companheiro. “Não há ninguém tão feio que não possua alguma beleza, nem tão bonito que não tenha alguma feiúra”. Tente relacionar-se bem! Construa! Inove sempre! Caso contrário, os percalços podem assaltá-lo despercebido. Antes de qualquer aventura, olhe primeiro se a porta de saída não é muito estreita. Às vezes, por uma simples curiosidade, embarca-se numa canoa furada, sem retorno, no modismo de traições banais. Depois, quem ama e é correspondido não se dá a essas aventuras.

O amor é a forma mais linda que Deus encontrou para que o homem fosse criatura e criador: propagasse a espécie.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 15/11/2005
Reeditado em 09/09/2009
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