O QUE EXATAMENTE SIGNIFICA PUBLICAR?
O Suplemento Literário é um jornal mensal publicado pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. É muito bom. Revelou grandes escritores e sempre deu guarida aos novos. Há alguns anos atrás eu cheguei a publicar nele com certa regularidade.Contos e Poemas. Depois, a vida tomou outros caminhos e perdi o contato. Há pouco tempo ganhei um exemplar, de um amigo. Guardei-o por causa de um artigo, uma das razões que me trouxe ao Recanto das Letras. O artigo, publicado no exemplar de julho deste ano é PUBLICAR EM PAPEL?PRA QUÊ? O autor,Julio Daio Borges é editor do Digestivo Cultural.Tentei acessar, infelizmente não consegui. Deixo aqui o endereço, talvez alguém consiga: www.digestivocultural.com. Estou tratando do assunto porque a leitura desse artigo reforçou o meu pensamento a respeito.Acredito que seja também o pensamento de muitos recantistas. E se não for, espero poder ajudar, como o artigo do Suplemento me ajudou.
Escrevo desde que me entendo por gente e desde que me entendo por gente só ouço elogios. Mas os elogios nunca me afetaram porque elogiar é fácil.Ninguém pede que se argumente um elogio, o que não acontece com a crítica. Eu me lembro de uma historinha muito representativa, que jogou por terra toda a minha vaidade de bem escrever.Um dia, certo cidadão já falecido, sabedor de minha fama,pediu-me que escrevesse o nome e o endereço dele em um papel, porque ele queria ver minha letra. Por sorte, a minha letra também é bonita. E ele colocou o próprio endereço na carteira e continuou espalhando para todos como eu escrevia bem.Isso me ensinou que tudo na vida é relativo, foi a primeira grande lição que tive como escritora. Hoje, gosto de agradar a mim mesma e aos meus amigos. São eles que brigam comigo e me cobram a publicação de um livro.E quando eu me recuso, dizem que eu devo ter algum problema psicológico, o que é bem possível. Como faço terapia de grupo, esse é um assunto recorrente. Um dia desses resolvi escrever um romance. Uma trilogia, da qual estão prontos os dois primeiros volumes: O Cachorro Amarelo e O Clube do Cravo Vermelho. Falta o terceiro, já começado: Os filhos de Abud. Resolvi tirar cópias no computador e emprestar aos meus amigos para ver se eles se acalmavam e entendessem meu ponto de vista. Os exemplares já correram uma grande parte do Brasil: Já foi lido por aqui, Rondônia, Bahia e São Paulo, entre outros. . Bem, a cobrança piorou, em vez de melhorar. Mas, eu tento explicar: não vou gastar dinheiro de meu bolso para editar livros que vou ter que implorar as pessoas para comprarem. Porque é isso que acontece com o escritor novo (não o necessariamente jovem, mas novo na profissão). As editoras não querem lançá-lo, os livreiros não querem vendê-lo, os críticos e resenhistas não querem lê-lo. Está certo, quem escreve quer ser lido.Eu contentei-me com certa fama municipal, participando de antologias, publicando em jornais e até em revistas de âmbito nacional, como as falecidas Escrita e Ficção. Publiquei até em Capricho., onde ganhei um anel de brilhante e um pequeno cachê. Nunca fiz disso a meta de minha vida, é apenas uma coisa que faço com tanto gosto quanto ler, ir ao cinema, ver uma boa peça teatral. E é aí que entra a reportagem que li. Júlio Daio Borges reflete sobre o assunto no artigo.Tentando uma síntese do que escreveu, uso as minhas palavras. Ele fala o óbvio: que o sonho de todos os escritores é publicar em livro. Ele diz pressentir que a maioria dos que escrevem para sites de literatura considera este período como um ritual de passagem para se chegar à publicação em livro E então demonstra que, a maior parte do que esperamos de um livro, nós podemos conseguir através da internet. Dá como exemplo os seus próprios sonhos. Qual de nós que tendo a consciência do próprio valor ainda não se perguntou: “se até esse cara conseguiu publicar um livro, porque eu que sou muito melhor também não posso?” Pois é...mas a gente publica, e daí? Como diz Julio, nada acontece. O meu amigo Diter Stein publicou um belo livro pela Record, foi no programa do Jô e foi só. O seu livro continua sem vender porque ninguém quer comprar autor novo.E olha que ele esperou vinte anos para editá-lo, vinte anos onde as expectativas foram frustradas continuamente, os sonhos esfarinhados.. A menos que se invista horrores em um autor novo, seus livros vão acabar como material de reciclagem.E quem vai investir em autor novo?Quando fui ao lançamento do livro do Diter, perguntei para algumas pessoas: “você não vai comprar?” “Ah, não, depois você me empresta”
É aí que Julio Daio Borges nos acena com a possibilidade de sermos escritores através dos blogs. Garante que muitos blogueiros são até mais famosos que escritores publicados em livros.Embora eu ache exagero porque tanto em blog quanto em livro é sempre uma minoria que se destaca, o que ele afirma tem procedência. Através de um blog você pode publicar, sem custos, ou com custos mínimos e ser lido, principalmente porque é mais fácil ler uma coisa pequena, que não requer muito gasto de energia, do que ler um livro. Além do mais o blogueiro tem o retorno imediato. E, como quem não tem cão caça com gato, e também me lembrando da fábula da raposa e das uvas, resolvi aderir aos blogs e outras formas de publicação on line e estou muito feliz. Para quem quiser ler o artigo inteiro do Júlio, o endereço do suplemento é suplemento@cultura.mg.gov.br. Não fica bem eu transcrever o artigo aqui, em sua totalidade. Principalmente porque estou com sono e morrendo de calor e a resposta à pergunta inicial é muito fácil de responder: publicar é tornar público e é o que estamos fazendo aqui. Eu não preciso de leitor melhor do que você que está me lendo agora e chegou até o fim.Mesmo se não concordar comigo.