A liberdade de expressão nos facilita na identificação de idiotas;
Em 2016, esse tipo de pessoa costumava berrar nas redes que “impeachment é golpe”. No ano passado, negava o genocídio cometido pela União Soviética e dizia que “Stalin não é Lúcifer”. Ou alertava que a vacina tem o risco de nos transformar em jacarés. Diante dessas demonstrações de desmesurada inépcia, podemos com facilidade apontar o dedo e dizer: “vejam só, temos ali um idiota!”. E pronto, já não precisamos levar a pessoa a sério, podemos criticá-la à vontade. A pessoa tem a possibilidade de mudar de opinião ou nos convencer de que tem razão. Melhor ainda, a liberdade de expressão acompanha responsabilidade: caso alguém passe da linha, está sujeito a ações de danos morais ou acusações de injúria e difamação.
Mas sem liberdade de expressão, esse tipo se esconde. Cultiva seus desvarios às sombras, em sociedades secretas ou movimentos clandestinos. Quando o descobrimos, já é tarde demais: ele já criou uma seita de alucinados, um exército que planeja tomar o poder para impor suas maluquices. Pode acontecer de o tomarmos por uma pessoa séria ou confiável, quando secretamente ele “baba na gravata”, como dizia Nelson Rodrigues. O italiano Carlo Cipolla escreveu um livrinho muito divertido chamado “As Leis Universais da Estupidez Humana”. Segundo ele, “a probabilidade de que uma pessoa seja estúpida não depende de suas outras qualidades”: qualquer grupo social, quando cresce um pouco, abrigará estúpidos, independente da origem, gênero ou escolaridade. Cipolla diz que o estúpido é o tipo mais perigoso da sociedade, pois “ causa danos a um outro indivíduo ou um grupo de indivíduos, ao mesmo tempo em que não retira de sua ação nenhum benefício para si mesmo, podendo inclusive incorrer em prejuízos”. Se isso é verdade, então a liberdade de expressão se torna ainda mais importante. Sem uma ferramenta para identificá-los, a sociedade corre um grave perigo de ser dominada por idiotas.