DEUS ABENÇOE OS RATOS!

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Tenho certeza que bem poucas pessoas gostam de animais come baratas, cobras e ratos, principalmente quando se trata daquelas ratazanas de 70 cm de comprimento e de 1,5 quilos de peso. Também, de pouco adiantaria especificar que esses roedores possuem nada menos que 1.000 genes dedicados à detecção dos odores, um recorde se comparados aos 800 dos cachorros e aos 400 dos seres umanos. Como resultado, os ratos são os melhores farejadores do planeta e, entre as várias famílias, se destaca o Rato Gigante da Gâmbia (Cricetomys gambianus) que, além de ter esse superpoder, socializa facilmente com os homens e vive entre seis e oito anos. Outra virtude do Cricetomys é que, sendo bastante guloso, pode ser treinado eficientemente.

Graças à sua incrível sensibilidade olfativa, estes ratos, popularmente conhecidos como “Hero Rats” (Ratos Heróis) estão tornando o diagnóstico da tuberculose mais rápido e barato. A tuberculose é ainda a infecção mais letal do mundo e mata três milhões de pessoas todos os anos não apenas por falta de tratamento, mas também porque nos países em desenvolvimento a doença não é diagnosticada facilmente causando assim, devido à sua alta contagiosidade, um efeito multiplicador.

Os ratos detectores de tuberculose são treinados para achar a bactéria em amostras de expectoração; no início eles devem reconhecer o típico mau cheiro da saliva em três orifícios, mas esse número aumenta gradualmente até que dez amostras sejam avaliadas de cada vez.

Trata-se de um trabalho preliminar de triagem que, obviamente, requer mais testes diagnósticos de confirmação; no entanto, já fornece um primeiro resultado de forma econômica e rápida. Efetivamente, considerado que um técnico de laboratório demora quatro dias para detectar um caso, um rato bem adestrado examina 100 amostras em 20 minutos, e 20 centavos de dólar são suficientes para cada amostra. Até agora, os Hero Rats identificaram 117.000 casos positivos que foram sucessivamente tratados.

Se isso ainda não bastasse para justificar o apelido de Ratos Heróis, saibam os leitores que os Cricetomys estão ajudando a resolver um dos problemas piores nas áreas onde houve uma guerra: o das minas terrestres.

Mais de 60 nações em todo o mundo estão contaminadas com dezenas de milhões de minas que, só em 2017, causaram mais de sete mil mortes (metade das quais eram crianças) sem contar inúmeras mutilações. Os métodos clássicos de limpeza são perigosos, uma vez que não protegem completamente os desminadores. A dificuldade principal não consiste na desativação do artefato bélico, mas na sua localização e, dependendo do tipo de mina suspeita de estar presente, a busca pode ser feita de diferentes maneiras. A técnica mais simples e barata (e também a mais perigosa) consiste em avançar rastejando no terreno e utilizar "sondas" de vários tipos (desde facas até simples gravetos), enfiadas suavemente no solo, para descobrir a possível presença de objetos sólidos. Em alternativa usam-se geralmente detectores de metais, sensíveis ao invólucro de aço das minas; infelizmente, nessas últimas décadas foram utilizados materiais insensíveis aos campos magnéticos, como alumínio ou plástico. Por exemplo, as minas (VS-N antitanque e VS-50 antipessoal) de última geração são basicamente acondicionadas em invólucros de plástico e fogem ao detector de metais.

Entretanto, os ratos podem chegar onde os humanos não conseguem: eles podem vasculhar uma área do tamanho de uma quadra de tênis centímetro por centímetro em meia hora, fazendo o mesmo trabalho que um especialista com detector de metais não faria com a mesma precisão em quatro dias.

A ONG belga APOPO tem treinado, na Tanzânia, centenas de Ratos Gigantes para detectar minas terrestres não explodidas e ainda ativas. Diferente dos cachorros, esses roedores não alcançam o peso suficiente (5 kg) para acionar o detonador mas, dispostos a farejar cuidadosamente em busca de iguarias, os ratos, amarrados a uma linha, são soltos para esquadrinhar sistematicamente o terreno. Quando sentem o cheiro do TNT, o explosivo mais comum usado nas minas, começam a raspar o solo e um treinador marca a área para posterior remoção do artefato explosivo.

Até agora, nenhum rato morreu durante as operações de desminagem. Por outro lado, centenas de terras foram recuperadas e devolvidas aos agricultores que puderam cultivá-las sem riscos.

Cada rato é treinado durante nove meses e os Cricetomys da APOPO (fundada em 1997 por Bart Weetjens) foram usados com sucesso na limpeza de vastos territórios em Moçambique, Angola, Tailândia, Laos, Vietnã e Camboja. Embora o curso de treinamento seja de cerca de 6.000 euros (bem menos que o de um cão), o animal tem uma vida útil de pelo menos quatro ou cinco anos, depois dos quais é aposentado.

E agora, prezado(a) leitor(ra), depois de tudo o que leu ainda acha que os ratos deveriam sumir da face da Terra? Ou não seria melhor que os seres humanos, além de parar de construir instrumentos de morte, aprendessem a usar as maravilhosas virtudes que até seres humildes come os ratos podem oferecer para salvar as nossas vidas?!

VISITE A ONG APOPO: https://www.apopo.org/en

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 13/12/2020
Reeditado em 17/12/2020
Código do texto: T7134761
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