A MOSCA AZUL DO PODER
A minoria social representa uma parcela da população que de alguma maneira se encontra escanteada, marginalizada, privada do processo de socialização. Em regra são grupos compostos por grande número de pessoas, mas que são excluídas em função de sua classe social, gênero, etnia, orientação sexual, ou por serem portadores de necessidades especiais. Ironicamente, o que denominamos como minorias são, quantitativamente, a maioria da população.
A casa grande ainda existe e as aparências disfarçadas não enganam ninguém, sem mistérios ou ritual a segregação persiste e é inconteste, faz tempo que isso acontece, por isso não se faça de rogado, fale, grite, escancare, encare e proteste, faça do seu sorriso de marfim uma bandeira de paz, mas mantenha a faca entre os dentes e pratique a resistência poética e social na senzala, nas palafitas, nas caatingas, ou nos quilombos dos arrabaldes das periferias.
No que tange às origens somos filhos da miscigenação, Mama África, Cristo e Jaci, somos ere, curumim, sangue afro-tupi-guarani, umbanda, mingau e quitanda, cachaça, abadá e muamba, Axé, cafuné, e dendê, fubá, ganzá, candomblé, curupira, moleque saci, Tupã, Jesus Cristo e Zumbi, somos parte de uma minoria mas somos numericamente gigantes, é inconcebível o fundamentalismo religioso, político e econômico.
A expressão fundamentalismo foi formalmente definida pela primeira vez em 1920 por um pastor americano da Igreja Batista, chamado Curtis Lee Laws, que estava vinculado ao movimento protestante americano que era contrário ao segmento protestante liberal de fins do século XIX. Como especifica a pesquisadora Karen Armstrong, em sua obra Em nome de Deus – o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo:
“A campanha fundamentalista assumiu um caráter de batalha. Seus líderes constantemente utilizavam imagens bélicas. “Creio que chegou o momento em que as forças evangelizadoras deste país, basicamente os institutos bíblicos, devem não só se levantar para defender a fé, mas compor uma frente unida e ofensiva”, escreveu E. A. Wollam no Christian Workers Magazine. Na mesma edição James M. Gray expressou sua concordância, proclamando a necessidade “de uma aliança ofensiva e defensiva na Igreja”. Num encontro da Northern Batist Convention, em 1920, Curtis Lee Laws definiu “fundamentalista” como alguém que está disposto a recuperar territórios perdidos para o Anticristo e “lutar pelos fundamentos da fé”.
Se depender do mandatário mor a coisa é deste jeito: “Nós respeitamos a todos. Cada um tem a sua religião, mas a grande maioria, hoje, são católicos e evangélicos, que são basicamente quem lideram esse mandato.”
Portanto, segundo a insana figura do ídolo de barro que colocaram no andor, manda quem pode ou seja a maioria, e as minorias que se danem, obedeçam, calem e se contentem com o auge da sua insignificância. É evidente que em um governo democrático, a representação política é garantida de forma igual para todos os grupos sociais, mas é claro que existem minorias elitizadas, que possuem grande poder econômico e grande influência no meio político. Assim existe uma determinada minoria que se sobrepõe à soma das minorias.
No entanto é preciso ter consciência para não confundir a defesa de doutrinas e dogmas religiosos e os fundamentos de determinada religião, que devem permanecer no campo do debate, com ações violentas de intolerância praticadas por pessoas preocupadas com preceitos sectários e ideológicos.
Como exemplo podemos citar dentro do catolicismo irlandês o IRA grupo terrorista paramilitar que pregava a agenda política de separação da Irlanda do Norte do Reino Unido valia-se de atos terroristas e outras ações violentas, que eram alimentados por um discurso político misturado com a doutrina católica.
Também é emblemático Nos EUA, o caso da Ku Klux Klan, que era uma seita que misturava ideologias raciais e eugenistas (termo criado em 1883 por Francis Galton, que significava “bem nascido”) e com protestantismo puritano. O caráter de seita era evidente na KKK, com o uso de túnicas, capuzes e cruzes flamejantes.
Já no século XVIII podemos lembrar o wahhabismo, “cujo fundador foi Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que pretendia “expurgar” do islamismo tudo aquilo que ele considerava “desviado” ou “herético”, como a aceitação da influência de outras culturas, como a da filosofia grega. Por ser de orientação sunita, Wahhab também via com maus olhos o xiismo, isto é, o seguimento islâmico daqueles que se julgam herdeiros diretos da família de Maomé. A ânsia pela “purificação” do islã e pela imposição de um “padrão correto” de comportamento e interpretação da doutrina conduziu o wahhabismo ao fundamentalismo e à intolerância extremada, que desembocaria em associações como a Irmandade Muçulmana, fonte intelectual de muitos terroristas islâmicos, como o Osama Bin Laden. Ao longo do século XX, o wahhabismo saudita deu amplo apoio a organizações radicais de viés terrorista, como o Talebã, por associar a administração estatal à Lei Islâmica, ou Sharia, e por perpetrar reformas nas cidades tradicionais da Arábia que formam o seio do islamismo. Essas reformas caracterizam-se pela desfiguração, quando não destruição completa, das construções tradicionais do islã, como os mausoléus onde ficavam os parentes de Maomé; a mesquita de Fatimah Al-Zahra, a filha de Maomé; o cemitério de Al-Ma' ala, em Meca, e o de Al-Baqi, em Medina, que foram inteiramente dinamitados”.
Os Templários surgiram como uma espécie de exército religioso: uma ordem formada por monges cavaleiros para proteger Jerusalém após a conquista da cidade, no século XII, pelas Cruzadas – expedições organizadas pelas potências cristãs europeias para tirar a região do domínio muçulmano. Em Jerusalém, o grupo ocupava uma ala do palácio real que, diziam, havia feito parte do Templo de Salomão. Daí veio o nome Templários para a ordem, também formalmente conhecida como Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão.
Não demorou para que se tornassem fundamentais para a defesa dos Estados cristãos implantados à força no Oriente Médio – por isso, chegaram a reunir cerca de 20 mil cavaleiros. Recebendo doações de terras, castelos e outros bens, também acumularam uma fortuna incalculável, e ancorados na sua força militar, assumiram ainda o papel de banqueiros da época, fazendo a coleta e o transporte de riquezas entre a Europa e a Terra Santa. Com o tempo, porém, nobres e reis importantes se sentiram incomodados com o crescente poder econômico e político dos templários. Felipe IV, rei da França, que como vários outros soberanos – devia dinheiro à ordem, resolveu enfrentá-la, ordenando o confisco dos bens e a prisão dos cavaleiros que viviam em seu reino. Por pressão do rei francês, o papa Clemente V determinou que a ordem fosse dissolvida em 1312.
A mosca azul do poder há tempos seduz os governantes mas sem sombra de duvida é fácil concluir que o radicalismo não é a forma mais adequada para solucionar qualquer tipo de problema de desigualdade social, ou de de preconceito. (o autor é poeta, articulista, compositor e dramaturgo)
A minoria social representa uma parcela da população que de alguma maneira se encontra escanteada, marginalizada, privada do processo de socialização. Em regra são grupos compostos por grande número de pessoas, mas que são excluídas em função de sua classe social, gênero, etnia, orientação sexual, ou por serem portadores de necessidades especiais. Ironicamente, o que denominamos como minorias são, quantitativamente, a maioria da população.
A casa grande ainda existe e as aparências disfarçadas não enganam ninguém, sem mistérios ou ritual a segregação persiste e é inconteste, faz tempo que isso acontece, por isso não se faça de rogado, fale, grite, escancare, encare e proteste, faça do seu sorriso de marfim uma bandeira de paz, mas mantenha a faca entre os dentes e pratique a resistência poética e social na senzala, nas palafitas, nas caatingas, ou nos quilombos dos arrabaldes das periferias.
No que tange às origens somos filhos da miscigenação, Mama África, Cristo e Jaci, somos ere, curumim, sangue afro-tupi-guarani, umbanda, mingau e quitanda, cachaça, abadá e muamba, Axé, cafuné, e dendê, fubá, ganzá, candomblé, curupira, moleque saci, Tupã, Jesus Cristo e Zumbi, somos parte de uma minoria mas somos numericamente gigantes, é inconcebível o fundamentalismo religioso, político e econômico.
A expressão fundamentalismo foi formalmente definida pela primeira vez em 1920 por um pastor americano da Igreja Batista, chamado Curtis Lee Laws, que estava vinculado ao movimento protestante americano que era contrário ao segmento protestante liberal de fins do século XIX. Como especifica a pesquisadora Karen Armstrong, em sua obra Em nome de Deus – o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo:
“A campanha fundamentalista assumiu um caráter de batalha. Seus líderes constantemente utilizavam imagens bélicas. “Creio que chegou o momento em que as forças evangelizadoras deste país, basicamente os institutos bíblicos, devem não só se levantar para defender a fé, mas compor uma frente unida e ofensiva”, escreveu E. A. Wollam no Christian Workers Magazine. Na mesma edição James M. Gray expressou sua concordância, proclamando a necessidade “de uma aliança ofensiva e defensiva na Igreja”. Num encontro da Northern Batist Convention, em 1920, Curtis Lee Laws definiu “fundamentalista” como alguém que está disposto a recuperar territórios perdidos para o Anticristo e “lutar pelos fundamentos da fé”.
Se depender do mandatário mor a coisa é deste jeito: “Nós respeitamos a todos. Cada um tem a sua religião, mas a grande maioria, hoje, são católicos e evangélicos, que são basicamente quem lideram esse mandato.”
Portanto, segundo a insana figura do ídolo de barro que colocaram no andor, manda quem pode ou seja a maioria, e as minorias que se danem, obedeçam, calem e se contentem com o auge da sua insignificância. É evidente que em um governo democrático, a representação política é garantida de forma igual para todos os grupos sociais, mas é claro que existem minorias elitizadas, que possuem grande poder econômico e grande influência no meio político. Assim existe uma determinada minoria que se sobrepõe à soma das minorias.
No entanto é preciso ter consciência para não confundir a defesa de doutrinas e dogmas religiosos e os fundamentos de determinada religião, que devem permanecer no campo do debate, com ações violentas de intolerância praticadas por pessoas preocupadas com preceitos sectários e ideológicos.
Como exemplo podemos citar dentro do catolicismo irlandês o IRA grupo terrorista paramilitar que pregava a agenda política de separação da Irlanda do Norte do Reino Unido valia-se de atos terroristas e outras ações violentas, que eram alimentados por um discurso político misturado com a doutrina católica.
Também é emblemático Nos EUA, o caso da Ku Klux Klan, que era uma seita que misturava ideologias raciais e eugenistas (termo criado em 1883 por Francis Galton, que significava “bem nascido”) e com protestantismo puritano. O caráter de seita era evidente na KKK, com o uso de túnicas, capuzes e cruzes flamejantes.
Já no século XVIII podemos lembrar o wahhabismo, “cujo fundador foi Muhammad ibn Abd al-Wahhab (1703-1792), que pretendia “expurgar” do islamismo tudo aquilo que ele considerava “desviado” ou “herético”, como a aceitação da influência de outras culturas, como a da filosofia grega. Por ser de orientação sunita, Wahhab também via com maus olhos o xiismo, isto é, o seguimento islâmico daqueles que se julgam herdeiros diretos da família de Maomé. A ânsia pela “purificação” do islã e pela imposição de um “padrão correto” de comportamento e interpretação da doutrina conduziu o wahhabismo ao fundamentalismo e à intolerância extremada, que desembocaria em associações como a Irmandade Muçulmana, fonte intelectual de muitos terroristas islâmicos, como o Osama Bin Laden. Ao longo do século XX, o wahhabismo saudita deu amplo apoio a organizações radicais de viés terrorista, como o Talebã, por associar a administração estatal à Lei Islâmica, ou Sharia, e por perpetrar reformas nas cidades tradicionais da Arábia que formam o seio do islamismo. Essas reformas caracterizam-se pela desfiguração, quando não destruição completa, das construções tradicionais do islã, como os mausoléus onde ficavam os parentes de Maomé; a mesquita de Fatimah Al-Zahra, a filha de Maomé; o cemitério de Al-Ma' ala, em Meca, e o de Al-Baqi, em Medina, que foram inteiramente dinamitados”.
Os Templários surgiram como uma espécie de exército religioso: uma ordem formada por monges cavaleiros para proteger Jerusalém após a conquista da cidade, no século XII, pelas Cruzadas – expedições organizadas pelas potências cristãs europeias para tirar a região do domínio muçulmano. Em Jerusalém, o grupo ocupava uma ala do palácio real que, diziam, havia feito parte do Templo de Salomão. Daí veio o nome Templários para a ordem, também formalmente conhecida como Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão.
Não demorou para que se tornassem fundamentais para a defesa dos Estados cristãos implantados à força no Oriente Médio – por isso, chegaram a reunir cerca de 20 mil cavaleiros. Recebendo doações de terras, castelos e outros bens, também acumularam uma fortuna incalculável, e ancorados na sua força militar, assumiram ainda o papel de banqueiros da época, fazendo a coleta e o transporte de riquezas entre a Europa e a Terra Santa. Com o tempo, porém, nobres e reis importantes se sentiram incomodados com o crescente poder econômico e político dos templários. Felipe IV, rei da França, que como vários outros soberanos – devia dinheiro à ordem, resolveu enfrentá-la, ordenando o confisco dos bens e a prisão dos cavaleiros que viviam em seu reino. Por pressão do rei francês, o papa Clemente V determinou que a ordem fosse dissolvida em 1312.
A mosca azul do poder há tempos seduz os governantes mas sem sombra de duvida é fácil concluir que o radicalismo não é a forma mais adequada para solucionar qualquer tipo de problema de desigualdade social, ou de de preconceito. (o autor é poeta, articulista, compositor e dramaturgo)