Reflexões sobre Empatia para Jovens e Muitos Adultos
Primeiro é preciso distinguir empatia de simpatia. A primeira se refere a nossa capacidade de se colocar no lugar do outro, e como tal pode ser muito variável conforme aspectos cognitivos, educacionais e contextos sociais mais amplos. A segunda se refere a afinidade, compartilhar sentimentos afins e comuns, que nos permita se identificar com o outro.
Podemos ter empatia com alguém, entender seus motivos e propósitos e ainda assim não compartilharmos seus sentimentos em relação a certas atitudes e visões de mundo. É quando entendemos, mas não concordamos pois sentimos que poderíamos agir de outra forma.
A simpatia é algo pessoal, ninguém deve ser forçado a sentir simpatia, mesmo por que além de não ser possível tal coisa será desrespeitoso com quem se sentir forçado e ainda poderá gerar um sentimento oposto.
A empatia depende muito do tipo de atividade com a qual a pessoa se encontra envolvida. Em seu nível mais básico a empatia é indispensável para vivermos em sociedade, mas insuficiente para evitar condutas criminosas e nocivas. É quando nosso entendimento se limita a um entendimento racional do outro, sem entender seus sentimentos.
Médicos, professores, políticos, assistentes sociais e pedagogos precisam ter um nível de empatia um pouco acima da média caso queiram ser bons profissionais ou terem o nicho de atuação mais amplo do que as pessoas que com quem possuam uma afinidade "natural".
A questão mais importante, do que definirmos as duas, é entendermos algumas coisas básicas sobre empatia e simpatia que possam ser aplicadas no cotidiano:
a) Simpatia não se exige, se conquista caso haja abertura do outro para isto.
b) Não somos obrigados a nos simpatizarmos com ninguém e nem podemos exigir do outro reciprocidade de simpatia: se a mesma vem só da sua parte, o outro não tem culpa.
c) Ser simpático com alguém não implica em criar obrigação de simpatia pelo outro. Não se torne inimigo dele por causa disto e nem se sinta mal por não conseguir agradar o outro a ponto de ter dele sua simpatia: viva e deixe viver.
d) Não precisamos ser inimigos de quem não temos simpatia ou empatia.
Se você deseja a empatia de alguém, isto em certos níveis pode ser cobrado sim, verifique alguns aspectos antes de reclamar, protestar ou se tornar hostil à pessoa:
a) Ninguém é obrigado a ler pensamentos. Seres humanos não desenvolveram ainda tais habilidades, eles conseguem no máximo interpretar suas atitudes e falas e isto de uma forma muito superficial ás vezes.
b) O que você sente não é necessariamente ignorado pelas pessoas, é muitas vezes não percebido ou mal interpretado. Se você não sabe expressa-los, a probabilidade de ser mal interpretado ou incompreendido é muito grande.
c) Pare de esperar que as pessoas adivinhem o que você quer e precisa. Mesmo um bebê aprende que se chorar vai conseguir da mãe o que necessita. Se quer ser tratado como algo além de um bebê, aprenda a pedir ajuda, a expressar o que sente ou continuar na mesma.
d) Aceite que as chances de você ser compreendido é proporcional a sua competência para comunicar seus pensamentos e à compreensão das situações em que esta envolvido: em grupo de trabalho da faculdade dificilmente alguém vai perceber o que sente, não por maldade ou egoísmo, mas pelo fato delas terem seus problemas para resolver, as preocupações com os prazos, etc.
e) E um dos aspectos mais importantes: como você trata ou tratou as pessoas das quais exige empatia? Se você é hostil ou trata mal alguém, a tendência normal é que estas pessoas se fechem para você.
É provável elas protejam seus sentimentos, suas inseguranças e vontades por meio do silêncio, da formalidade e do distanciamento. Não exija das pessoas se machucarem para que você sinta menos dor.
Se você é uma pessoa extremamente crítica, que sempre vê o lado negativo das pessoas e do que elas fazem antes mesmo de qualquer aspecto positivo, é egocêntrico ( acredita ser o parâmetro para julgar o raciocínio, o pensamento, a estética, o gosto e as intenções dos outros), qual a chance de que as pessoas se mostrem empáticas com você? Que queiram ser compreensíveis com suas dores e dificuldades quando você mostra um ser perfeito entre os imperfeitos...você que lute!
O mundo não gira ao nosso redor. Ele não nos oferece gratuitamente a simpatia. Acharmos algo certo e racional não significa que o mundo se encurvará diante de você e te dará razão.
O mundo é essencialmente um lugar de poderes difusos, universidades, pesquisa, literatura, arte, trabalho, etc. Em cada um deles já se encontra m uma lógica, um sentido, uma ideologia, uma forma de operar consolidada e hegemônica. Você é só mais um.
A separação entre nós e o mundo é uma verdade difícil de aceitar. No começo confundimos o mundo com o nosso ego, depois percebemos que ele não é bem assim e nos causa dores. Depois de um tempo acreditamos ser capazes de impor nossa lógica e justiça ao mundo. No final do processo, nos deparamos com um máquina com vida própria e disposta a nos devorar caso a desobedecemos ou não nos encaixarmos.
Conselhos práticos:
a) Aprenda ser feliz consigo mesmo e a esperar cada vez menos do mundo.
b) Aprenda a cultivar a empatia, mas sem esperar reciprocidade e sem semear em solo infértil.
c) Ao exigir de alguém alguma coisa, primeiro pergunte o que fez por ela: você já elogiou, já teve consideração pela pessoa, já perguntou como ela estava, já se importou com a pessoa quando ela passou por um dia ruim, já se importou em como suas palavras podem ter ferido a pessoa com quem exige agora mais empatia?
d) O MUNDO JÁ ESTA LOTEADO! Não adianta achar que o mundo vai se ajoelhar diante de você como se fosse um ser especial. Se você não mostrar ao mundo, nos critérios que este apresenta, o quanto pode ser importante ele não vai se sujeitar a você. De certa forma, nem existimos para o mundo enquanto não mostramos para ele, o convencemos, de como podemos ser importantes ( não é exigir, é convencer, é convencer... e contar com a sorte de agradar).
e) Você não esta só! Provavelmente alguém do qual você quer cobrar empatia também sentiu falta de empatia de outras pessoas e talvez até de você mesmo. Provavelmente a quem você exige empatia não te conhece o bastante para saber se pode confiar, não consegue com sinceridade te entender ou é resistente em confiar nas pessoas e a esperar delas algo de bom.