A MOTIVAÇÃO DAS NOSSAS ESCOLHAS

Dentro da lógica freudiana, estaríamos vivendo por meio das regras do inconsciente, e essas não possuem sentido em seu escopo. Tomando isso por verdade, a nossa realidade seria, então, um emaranhado de acontecimentos onde os atores estariam numa posição desprivilegiada e sem protagonismo. Se aceitarmos tal perspectiva, o papel humano no mundo teria pouca coerência. No entanto, seria mesmo factível uma vivência sem escolha e pautado em um estado puramente reativo?


Há aquele crentes no chamado destino e na sua toda poderosa interferência. Funciona mais ou menos como uma espécie de livro da vida, no qual, antes de nascer, é preenchido por uma força superior, entrelaçando as ocorrências com as de outros sujeitos. Essa abordagem destoa com os princípios de Freud e vai ao encontro do determinismo pregado pelas religiões, o valor de Deus e a passividade do homem.

Dos céticos, se observa o quão o expediente do fato pouco interessa em relação à sua construção, uma vez que a lógica é abrigada justamente na explicação das coisas. Aquilo não comprovado cientificamente, por meio do rigor empírico, é desacreditado. Para esses, o inconsciente é um limbo onde os pensamentos jazem, e a influência na vida real passa, sobretudo, pelas escolhas feitas à luz da consciência.

A propósito, a Psicanálise estaria mais ligada a um conjunto de procedimentos de caráter cético e ilustrativo. Ela pretere o espiritual e foca nas relações cerebrais e nas repercussões da vida prática. Todavia, validar o inconsciente lhe é imperativo. Sua constituição verifica-se nesse sentido e escanteia qualquer interatividade nascida da fé. Trata-se, portanto, do enfoque daquilo revelado ou com a possibilidade de se revelar.

De todo modo, aceitarmos a ideia de antagonismo nos leva a algum lugar? De supetão, sim. Nos leva a uma vida bem sem graça, prato cheio para o discurso vitimista, pois, como posso ser responsável por aquilo que não escolhi? Rechaçamos, logo. Os eventos, dos banais aos extremos, estão presentes nas decisões tomadas por cada um de nós. Bem verdade, é raso resumir os postulados de Freud ao limiar da inconsciência.

A ramificação discutida aqui é apenas um mero exercício da parte de uma vertente importante do seu trabalho. O contraponto, por assim dizer, por meio de elementos presentes no cotidiano, nem de longe esmiúça o vasto conhecimento do cientista. Aliás, o tento é tão somente provocar um diálogo acerca do conteúdo, se limitando a cogitar, jamais a responder questões complexas e de profundamente acadêmicas.

Por fim, fica a pista de como a ciência, nesse caso voltada mais para a subjetividade, imputa-nos um quê de dúvida sobre a nossa própria ação no mundo. Se somos senhores de nós, então por que será que vivo atribuindo meus dissabores para outrem? Se não somos senhores, ora, estamos vivendo com qual finalidade? E, afinal, nem uma coisa ou outra, como me coloco e me vejo nesse cenário? Fica a critério de cada um achar as respostas...   
 
Rôney Araújo
Enviado por Rôney Araújo em 07/09/2020
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T7057424
Classificação de conteúdo: seguro