O cristianismo está demodê
A maneira como um cristão interpreta todos os fatos que o rodeia e o modo como busca aplicar as soluções aos problemas e adversidades de sua vida devem ser fundamentados exclusivamente nos ensinamentos bíblicos. Comumente, esses ensinamentos são passados de uma geração a outra dentro do núcleo familiar, essa atitude é um dos ensinamentos do Senhor: “Ensinai os mandamentos do SENHOR aos vossos filhos, conversando acerca deles quando estiverdes sentados em casa e nos momentos em que estiverdes andando pelos caminhos, ao deitardes e quando vos levantardes para um novo dia;” (Dt. 11.19).
Aceitar ao Senhor Jesus e confessá-lo publicamente já foi, e ainda o é em muitos lugares, submeter-se a sentença de morte. Mesmo em lugares onde as legislações estabelecem o direito de culto e a tolerância religiosa, servir a Cristo pode representar, ainda, uma morte social, uma exclusão sociocultural.
No Brasil, durante a década de 70, período que poucas pessoas se declaravam evangélicas; cerca de 4.8 milhões de brasileiros, aproximadamente 5,2% da população, não havia nenhum glamour ou benefício em declarar-se evangélico nesse período. Os que assim se decidiam, deveriam estar prontos para receber os olhares indigestos de grande parte da sociedade e os rótulos depreciativos.
A década seguinte, 80, fora acompanhada por um leve aumento dessas taxas. O número de evangélicos ampliou-se para 6,6% da população brasileira. Já na década de 90 ocorreu um salto significativo que, entre muitos motivos, decorreu do aumento da anunciação do evangelho. Eram cruzadas evangelísticas, pontos de pregação, ampla entrega de folhetins, etc. Os templos multiplicaram-se a fim de comportar os novos fiéis. Já éramos 9% da população brasileira, cerca de 26 milhões.
Era um momento de transição. Os olhares de rejeição eram paulatinamente substituídos por um ar de confiança, afinal, ser evangélico passou a ser visto socialmente como sinônimo de uma vida de abnegação. Uma constante renúncia a qualquer conduta moralmente reprovada para servir a Jesus Cristo, o motivo e o caminho pelo qual se alcança transformação de caráter, de comportamento e, sobretudo, a salvação.
Nos anos 2000 os evangélicos somaram 15,6% da população brasileira. Na década 2010, por volta dos 26%. Todos esses dados apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) expõem que a proclamação da Palavra trouxe frutos. Milhares de fiéis passaram a congregar nas mais diversas denominações partidas em igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais. Aguardava-se, destarte, uma verdadeira transformação social mediante a conquista de indivíduos que se submeteriam a uma profunda mudança através do evangelho de Cristo.
Segundo o Data Folha, há uma estimativa de que haja nesse ano de 2020 cerca de 65 milhões de evangélicos, o que representa 31% da população. Frise-se que a conversão a Jesus Cristo através de uma igreja evangélica não torna nenhuma pessoa um super herói, livre da probabilidade de errar; afinal, é intrínseca à natureza humana a tendência ao mal. E essa compulsão pelo pecar germinou inúmeros escândalos públicos que exalaram dos templos e estarreceram toda a sociedade, gerando o famoso jargão: e é crente!
O fato é que ao ouvir esse predicado nominal tem-se a certeza de que o seu emissário é conhecedor de que a conduta do seguidor julgado não é reflexo do padrão ensinado, do padrão buscado. Não reflete os ensinamentos de Cristo. Quando se diz “e é crente” afirma-se, mesmo que inconscientemente, que aquele ou aquela está praticando algo que diverge do que aprendeu, ou do que apregoa o genuíno evangelho.
A Palavra do Senhor é viva e eficaz, mesmo assim, há muitos que a resistem e tentam moldá-la aos seus próprios interesses. Não obstante, surgiram, por conseguinte, as mais diversas correntes teológicas de interpretação bíblica. Elas inundaram os seminários, os púlpitos, as classes da Escola Bíblica e cambiaram a visão social a respeito do evangelho e de seus adeptos.
Ainda na década de 70, surgiu a Teologia da Missão Integral, que numa definição abrupta pode-se dizer que é uma moldagem do evangelho às teorias de cunho marxistas. Seria a versão protestante da católica Teologia da Libertação, a qual instaurou a tendência de que a Teologia não teria capacidade de falar por si, logo, dever-se-ia amparar em outras ciências as respostas para indagações, ainda que teológicas. A TMI tratou de frisar a responsabilidade da igreja em promover justiça social e os cuidados com os mais necessitados, tornando a pregação do evangelho um mero acessório na missão da igreja, contrariando as escrituras.
Não demorou em que as teorias derivadas do marxismo galgassem espaço dentro das igrejas. A pseudo semelhança que tentam transmitir de cuidado e zelo pelos pobres entre o cristianismo e o marxismo enganou a muitos. Fundamentaram essa ligação em teses de releitores marxistas que abusam de omissões e eufemismos com a intenção de distorcer os objetivos nefastos dessa ideologia e suas divergências cruciais com a Palavra da Verdade.
Cristo é o plano de Deus. Deus enviou seu único filho para vir a terra e resgatar o homem de seus pecados, para que todo aquele que o receba alcance a salvação. As teses proferidas por Karl Marx, o comunismo ou socialismo, nasceram dentro do próprio inferno, foram maquinadas pelo próprio Diabo. Deus e o Diabo duelam pelas almas humanas, e nessa guerra muitas armas são usadas. O Diabo, pai da mentira, logo tratou de fantasiar com vestes atraentes seus planos destrutivos.
Deus entregou Jesus cujos sermões proferidos assemelham-se a abundante água em terra árida. Essas terras, outrora secas, agora estarão aptas a germinarem e concederem bons frutos. É através do cristianismo que muitos são libertos do vício das drogas, que muitos casamentos são recuperados, que diversas crianças encontram um lar, que o ensino, o conhecimento e a ciência são difundidos. O cristianismo trata cada indivíduo como especial e único; garante-lhes dignidade e paz.
Por oposição, o marxismo despreza as individualidades e abarca teses que ambicionam afastar o homem de seu Criador. Para Marx, “Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, ao contrário, seu ser social que determina sua consciência”. Assim, o intuito torna-se aniquilar o responsável por promover a “consciência coletiva” capaz de perpetuar a aceitação da condição de opressores e oprimidos. Não obstante, Marx aponta a religião e a família como culpados, assim, basta aniquilá-las.
Marx declarou abertamente no Manifesto Comunista (1848) que "As ideias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas, etc., sofreram várias modificações no decorrer da história. Entretanto, a religião, a moralidade, a filosofia, a ciência política, e o direito sempre sobreviveram a estas mudanças. Além disso, existem verdades eternas, como Liberdade, Justiça etc., que são comuns a todas as camadas sociais. Já o comunismo quer abolir as verdades eternas, abolir todas as religiões e toda a moralidade, em vez de apenas tentar configurá-las de novo”. [...] “Abolição da família!". Não há nenhuma convergência entre o comunismo e o cristianismo. O certo é que essas ideias destrutivas de Marx alçaram amplo espaço na mídia e nas universidades brasileiras, e a igreja não ficou imune.
A mensagem da cruz apregoa que “todos pecaram e destituídos estão da Glória de Deus”, porém, o marxismo impele que o homem além de nascer neutro, não precisa se arrepender de seus atos. Bem como enfatiza que os fins justificam os meios; por isso não se intimida em dizer que “O último capitalista que penduramos será aquele que nos vendeu a corda”. Tudo é válido desde que alcancem seus propósitos. Não há moral, não há cuidado, não há altruísmo; o comunismo é uma farsa.
A efervescente implantação das teorias marxistas no Brasil bastou para produzir abruptas transformações políticas, educacionais, culturais, filosóficas e, infelizmente, teológicas. Ser marxista volveu-se sinônimo de intelectualidade, e, não faltaram adeptos que submetessem a Palavra de Deus às ideias diabólicas do comunismo, mascarado de uma busca pela justiça social e amparo aos pobres. A verdade é que esses “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”, [...] “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador” (Rm. 1. 22 e 25).
O repugnante e caótico substituíram o Belo; o ridículo e diabólico ocuparam o espaço outrora do Sublime; os valores como a amizade e o cuidar foram escarnecidos por versos musicais que incitam a promiscuidade; a hierarquia escolar foi reduzida a pó; os pais perderam a autoridade sobre os filhos; a fé em Cristo vilipendiada e os cristãos genuínos agredidos.
O que estarrece é que o plano diabólico avança em proporções desmedidas com o auxílio dos próprios ditos cristãos: relativizou-se do valor da vida e muitos dizem que o aborto é uma questão de saúde pública; o “não julgar” ganhou sentido de aceitação plena do pecado, há, inclusive, quem erga bandeiras em prol do casamento LGBT e das teorias de gênero; banalização das relações sexuais e tolerância ao divórcio, entre tantos outros.
O medo do rótulo “fundamentalista” moldou a vida dos cristãos, os julgamentos seculares substituíram a Bíblia Sagrada e ser cristão genuíno tornou-se demodê. Os sermões passaram a massagear o ego ferido de pessoas supersensíveis que creem ser o centro o universo e não poucos são os líderes frágeis que sentem dificuldade de dizer NÃO às suas ovelhas.
A volta de Cristo não é mais tema recorrente nas pregações, o chamado ao arrependimento é motivo de deboche, para muitos um discurso risível. Manter acesa a esperança em Cristo e contrariar a compreensão do mundo deve ser a perseguição diária de todo Cristão. Apesar de todas as mudanças que o mundo perpassa, o cristão deve recordar que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente!” (Hb. 13.8), não há nEle sombra de variação. No mais, Ele não temeu os rótulos, as opiniões, a coroa de espinhos, as chicotadas, tão pouco a cruz. Padeceu para que tivéssemos vida eterna. Também nos alertou que teríamos aflição, mas nos exortou a termos bom ânimo: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. (Apocalipse 2:10).