MEU SER, MEU RECURSO DE TRABALHO (Desenvolvimento)

Artigo elaborado pelo Técnico de Teatro Sandro Artes (Sandro Armando Sebastião).

Fonte: Experiências pessoais e artigo “CORPO E VOZ, UMA PREPARAÇÃO INTEGRADA” - Maria Enamar Ramos Neherer Bento e Marly Santoro de Brito - Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

MEU CORPO

Segundo Glorinha Beuttenmüller, o “corpo é o controle remoto da voz” (1995). Esse comportamento é repetido nas montagens teatrais pelo trabalho, em separado, dos preparadores corporal e vocal que, ao encerrarem suas funções nos ensaios, orientam os atores quanto ao seu próprio aquecimento durante a temporada da peça.

Este repertório de exercícios de aquecimento corporal e vocal cumpre, como observa Angel Vianna, “a missão de auxiliar os atores nas possibilidades interpretativas da voz, este termómetro infalível das emoções” (1999). Um actor pode e deve tornar-se um “expert” em corporalidade, através da tomada de consciência das sensações físicas dos seus próprios movimentos, analisando os efeitos em sua própria movimentação.

Retratando o corpo no seu todo, sem dividir, todos formam o conjunto de órgãos de trabalho. O artista deve manter o corpo preparado, pois, há momentos que surjam actividades inesperadas, tendo o corpo preparado não terá motivos para preocupar-se, está sempre preparado. É mesmo crucial estar sempre pronto e bem treinado.

CABEÇA

Cabeça – é sem dúvidas um dos maiores alicerces do corpo humano, usufruindo e coordenando um bom legado, este encaixa todos os sentidos, controlo das emoções, análises dos sentimentos, memórias e os aspectos sensoriais da mente humana. Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, a cabeça é a parte dos animais superiores que encera o encéfalo e os principais órgãos de sentido; podendo ainda corresponder aos vocábulos: juízo, memória ou ainda chefe. Basicamente o conceito geral.

A CABEÇA NA ARTE – partindo para o lado da arte cénica, conceito não muda tanto. Sempre foi o órgão supervisor de todas as sensações, foi por isto que o russo Constantin Stanislavski, fundamentou o conceito da Memória Emotiva (pesquisar mais sobre o artigo – Memória Emotiva), correspondendo as emoções que o actor precisa aquando à representação.

O actor deve ter sempre a cabeça preparada, especialmente a memória e a mente, isto ajudará na execução do seu trabalho dentro/no momento ou fora da representação. Usando-o para memorizar aquilo que aprende, os textos aplicados, criação dos personagens que lhe é atribuído, treinar a concentração controlada e o vencimento da timidez ante a plateia/público.

a) Aprendizagem – necessário captar e difundir na mente aquilo que lhe é ensinado, guardar cada aprendizado, pois, qualquer momento poderá ser útil e estará pronto para subsair. O bom actor tem o prazer de guardar tudo, meditando-os sempre.

b) Textos – com certeza é necessário ter a mente sempre aberta, encaixar na mente os textos atribuídos, totalmente guardado na memória, sem precisar olhar para o guião. Neste, também podemos considerar os exercícios de memorizações. Então, tenha sempre a mente aberta e livre.

c) Concentração – a concentração sempre depende, muitas vezes, através da agilidade mental, a acção vinculada pelas emoções, estas trazem novas sensações. Ao treinar a concentração, a mente é acciona as vivências do instante,

d) Personagens – todo qualquer personagem, a sua criação depende daquilo que conceptualizamos dele, ou seja, o fundamento que temos deste ser, do ser do personagem. A memória é que ajuda na criação do personagem, o que só é possível se usarmos a cabeça devidamente, como sempre dizia aos meus actores “para interpretar alguém, é necessário ter a capacidade de entrar na cabeça dele”, realmente é assim, pois, só podemos interpretar alguém quando conhecemo-lo, o conceito do seu ser, os principais fundamentos.

e) Enfrentar o público – mais uma vez, a agilidade mental, mais uma vez a concentração aplicando-se, é necessário ter a cabeça preparada para aturar ou enfrentar qualquer situação inesperada no palco, executar o trabalho sem cair na timidez ou pânico. É comum, sempre que estamos no palco, o público rir/lançar uma piada e até lançar pequenos adoço, é como um jogo no momento, é preciso que o actor saiba controlar-se e não embaraçar-se nesta jogada. Até podemos entrar neste jogo, mas desde que seja o jogo “ACTOR COM O PÚBLICO – interacção”, porém, não o jogo “ACTOR COM MEDO DO PÚBLICO – timidez e pânico”. Lembro-me de uma actuação numa manhã recreativa, Janeiro de 2017, representávamos a peça teatral “A VITÓRIA DOS OPRIMIDOS” - o meu personagem era de um pai que fora cozinhado (dominado através de práticas ocultas) pela sua empregada (esta que quis tomar o lugar da esposa e por isto teve que envenená-la, conseguindo assim tomar o lugar dela), através desta prática, como ela queria, comecei por maltratar o meu único filho (progenitura com a esposa falecida) - lembro-me que, enquanto eu fazia isso, o público gritava tão alto - principalmente as mamãs que assistiam, elas diziam na língua lingala “siba lambeli yo (que em português significa: Já te cozinharam/dominaram)”. Momentos como estes, se não ter a mente controlada, podes até cair.

Então, já temos o conceito da mente em uso na arte cénica, sempre alerta, sempre preparado. Mas, atenção, é necessário ter cuidado dela, exagero faz mal, pode causar dores de cabeça. Portanto, tudo controlado.

Sandro Sebastião
Enviado por Sandro Sebastião em 17/08/2020
Reeditado em 17/08/2020
Código do texto: T7038178
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