Conhecer Cuba
Por incrível que pareça, a despeito das críticas dos nossos neoliberais e dos americanos, Cuba é uma beleza em todos os aspectos.
Entre um curso bíblico e outro, ocorrido em San José (Costa Rica) dá para se pegar um avião e visitar a ensolarada ilha do Comandante Fidel. Primeiro, referindo-me aos cursos bíblicos costarriquenhos, diga-se que, apesar de pouca divulgação, são excelentes, e dão um banho de bola em qualquer instituto teológico, pelo menos em termos de Bíblia, da América Latina, e especialmente Brasil.
Em princípio, a gente aqui no RS, mercê o que dizem os “construtores da opinião” para usar a linguagem simbólica do sociólogo Pedrinho Guareschi, tem um choque quando chega em Cuba. sim, porque segundo o que diziam, era um inferno, uma miséria, um terror, quem desafinasse ia preso ou era jogado aos tubarões.
A constatação primeira é de que se desceu no aeroporto errado. O povo é alegre, feliz, lúdico, canta pelas ruas. Não existe aquela imagem (dos filmes americanos) de soldados de capacete, em cima de viaturas militares, pelas ruas... Além disto, Cuba tem uma das melhores medicinas e indústrias farmacêuticas do mundo. Não há miséria. Todos são pobres, não há essa aberração que se vê aqui, onde na mesma rua convive primeiro e terceiro mundo, luxo e miséria.
Também não existe o desnível da zona rural, onde um tem 200 vacas e muitos não comem carne há mais de um ano. Lá, como disse, todos são pobres, não havendo essa perversa assimetria de má distribuição de renda e propriedade que existe aqui.
Em Cuba existe uma aversão a tudo que vem dos Estado Unidos. Primeiro porque os Yankees desde a guerra contra a Espanha devastaram a ilha, no final do século XIX, depois, como fizeram no Irã, apoiavam a corrupção de Fulgêncio Batista. Depois que ele foi derrubado, os americanos tentaram (abril de 61) invadir Cuba, pela Baía dos Porcos, sendo rechaçados. Em 1962, a iminência de outro ataque americano, fez Fidel pedir ajuda à Rússia, que se dispôs a instalar mísseis de defesa na ilha.
O belicoso Kennedy (era tão sanguinário quanto os Bush) queria a guerra a todo pano, que só não ocorreu pelo bom senso do “comunista” Nikita Kruchev. Era mais uma ingerência americana, aliás, como fizeram na Coréia, Vietnã, Granada, Líbano, Iraque, Afeganistão, Alcântara, etc.
Cuba é um lugar belíssimo, tem hotéis razoáveis para quem suporta o bloqueio americano há trinta anos, praias belíssimas (o banho de mar é fantástico!), e um povo afável e feliz. Lá se come bem, se dança muita salsa e se fuma excelentes charutos, enrolados nasmornas coxas dasmorenas..
O ensino é ótimo e as bibliotecas abundam. O povo conta histórias da revolução, faz piada com o celibato de Fidel e critica alguns radicais. Não tem essa de controle, espionagem, etc. O patrulhamento da mídia e dos radicais da direita aqui no Brasil é mais exacerbado.
El Comandante, diferente do que dizem aqui, é adorado pelo povo, a ponto de andar pela rua sem segurança. E por que fogem de lá, perguntaria algum liberal tupiniquim?
Eu responderia com outra pergunta: por que tantos brasileiros vão para os EUA, Inglaterra, Europa, Israel? Por que americanos migram para o Japão e vice-versa? Naquela semana encontraram um clandestino americano morto, enregelado, no compartimento do trem de pouso de um avião que ia para a França.
Quem sai dos EUA é aventureiro ou clandestino; de Cuba, está fugindo... Há muitos americanos estabelecidos na ilha, no comércio, indústria de charutos, medicamentos; até choferes de táxi.
O problema da Igreja cubana é que ela esteve durante cem anos do lado do corrupto e opressor Batista. Quando correu a revolução, para não perder os privilégios (que não eram poucos), ela se colocou contra os rebeldes de Sierra Maestra. Hoje já há uma maior aceitação religiosa por parte do povo, que em momento algum foi proibido de praticar uma religião. Tanto assim que as seitas eletrônicas estão a mil. Tais constatações dão razão aos argumentos de “Fidel e a religião”, de Frei Betto, publicado há uns anos atrás.
Cuba é uma beleza! Duvida? Vá lá, e você vai botar abaixo todos os preconceitos colocados em sua cabeça. “Quando sali de Cuba, dejé llorando mi corazón...”.