Amor sem pecado

A narrativa desta história de amor e sofrimento, mito e realidade está encravada no folclore alemão medieval.

Encontramo-la em antigos livros da Alemanha antiga, em empoeirados manuscritos góticos da complicada língua de Goethe. Bem mais tarde, o grande compositor Richard Wagner (+1883) fez da história uma obra memorável, um dos clássicos da música mundial, a ópera Tannhäuser.

Embora rejeitado pelos judeus (era o compositor preferido de Hitler), Wagner é brilhante. Segundo a lenda, Tannhäuser era um menestrel germano que perambulava pela Europa central, no século XIII, cantando canções românticas, acompanhado de seu alaúde. De espírito aventureiro, Tannhäuser perambulou por meio mundo, indo inclusive, à Terra Santa, em uma das tantas cruzadas.

Em suas canções, ele exaltava o amor entre o homem e a mulher, afirmando que onde existe amor não há pecado. Numa dessas andanças, ela cantava em uma taberna, na região da Turíngia. Ao terminar a noitada, ele se dirige à hospedaria e vê uma mulher, nua apesar da neve, que o chama. Julgando ser efeito da cerveja, ele não atende o chamado e vai dormir. Curioso, passa o dia seguinte lembrando do fato, perguntando a si mesmo se foi algo real ou mera alucinação da bebida.

Na noite seguinte, ele decide beber menos para manter-se lúcido. Quando sai da taberna, de novo surge a mulher à sua frente, que o chama. Aproximando-se, ele constata tratar-se de Vênus, a deusa mitológica do amor.

Assustado ele tenta recuar, mas a beleza e a sedução da mulher o envolvem, e ele termina seguindo-a, penetrando no interior da gelada montanha do Hörselberg. Ali ele permanece sete anos, desfrutando do amor da bela deusa.

Arrependido de sua paixão pagã, julgando-se em pecado, e movido por seus princípios religiosos, Tannhäuser decide abandonar a deusa do amor. Feito isso, resolve ir a Roma, pedir perdão diretamente ao Papa.

Depois de expor sua questão ao Santo Padre, escuta dos lábios deste a sentença: “Seu pecado, de relacionar-se com uma deusa pagã, não tem perdão. Assim como meu bastão jamais dará flores, seu pecado jamais será perdoado”.

Tannhäuser voltou amargurado para a Alemanha. No entanto, um sinal aconteceu: três dias depois da audiência, o bastão papal floresceu. Foram enviados mensageiros de Roma à Alemanha para buscá-lo. Afinal, os céus davam um sinal de que ele estava perdoado.

Era tarde demais. Ele havia voltado para os braços de Vênus... O amor havia suplantado o preconceito.

Cronica publicada em alemão - Ganhou o Prêmio Goethe, em 2000

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 11/11/2005
Código do texto: T70310