Crônica de um amor

Assisti, há muitos anos, um filme italiano cujo título hoje tomo emprestado para nominar esta crônica. Trata-se de “cronicca de un amore”, que discorria sobre o amor de duas pessoas de mundos diferentes e que, num determinado ponto da vida, chegaram a conclusão que se amavam, embora nunca nenhum tivessem, anteriormente, manifestado esse afeto um ao outro.

Na história, levada á tela, pelo surrealista cinema italiano da década de 50, o casal, anteriormente amigos, afastados por muitos anos, por causa da guerra, começa a trocar cartas, primeiro de amizade, depois de solidariedade pela solidão íntima de cada um e, por fim, de amor...

O reconhecimento da paixão não é imediato; ela, oriunda de tradicionais famílias toscanas, reluta em aceitar aquele amor que lhe é oferecido assim de repente. Confusa, a moça não quer admitir-se amada, e afirma que para iniciar um relacionamento precisaria estar envolvida... Essa relutância evidencia que alguns têm medo de amar.

O envolvimento, com o tempo surge, e eles decidem, apesar de muitos obstáculos e oposições, enfrentar o mundo, assumindo abertamente aquele amor. O fim do drama é caracterizado por uma ruptura. Ao assumir essa relação eles confessam uma discrepância com o passado que cada um vivera. A partir daí passam a viver emoções novas e cada vez mais arrebatadoras, o que valoriza e enraíza o romance.

Para fugir de tantas barreiras da família e de uma sociedade provinciana, os dois namorados decidem vir morar na América onde, ao que tudo indica, foram “felizes para sempre...”.

A história, como sempre, dá margens a questionamentos e permite tirar conclusões. A primeira delas é o medo de amar, de se entregar; é o medo de ser feliz... A propósito disso, na década de 70, Roberto Carlos já cantava: “Eu te proponho, nós nos amarmos, nos entregarmos...”.

As ciências, a tecnologia e mesmo os meios de comunicação modernos, criaram um invólucro ao redor do afeto. Parece que tudo é fácil, acessível, mas vulnerável ao tempo. Deste modo, com medo de sofrer, de perder, muitas pessoas vai ficando fechadas, naquele “vamos deixar assim”, com medo de amar, de experimentar novas aberturas, de viver (ou reviver?) a grande aventura do amor.

Converso com pessoas da minha idade, e a maioria confessa que amor é coisa que se vive na juventude, e que hoje, a despeito de viverem vinte ou trinta anos ao lado de uma pessoa, o que sentem é amizade, respeito, nada mais...

O ser humano foi criado infinitamente para o amor, e só no amor ele consegue tirar o que a vida tem de bom. Um amigo, cardiologista, diz que a adrenalina que é produzida na expectativa de um encontro de amor, ou de um simples telefonema da pessoa amada, é um ponderável dilatador coronariano. Até pode...

(Publicado em 30/04/96_

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 11/11/2005
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