O dia em que Cláudia Raia foi a Bagé
Havia, contam, um rapaz, egresso da zona rural, que era fascinado pela Cláudia Raia. Tanto assim que ele colecionava fotos da artista, umas comportadas, dessas que saem nessas revistas de variedades, bem como outras, mais escrachadas, que são publicadas nas revistas masculinas. A
s paredes do quarto do pobre peão eram bordadas de imagens da moça. Afinal, em uma cidade interiorana, não há muita coisa para fazer, e a artista tornou-se um ícone, um luzeiro que guiava tão obscura existência.
As fotos da La Raia emolduraram, por muito tempo, os devaneios oníricos e onanistas do jovem mancebo.
Um dia, lendo o “Correio do Sul”, ele viu, num misto de surpresa e incredulidade, que Cláudia Raia vinha a Bagé, para um show no Clube Comercial. A partir dali seu coração matuto ficou alvoroçado a mais não poder. Afinal, o maior – no entender dele – sex-simbol (ele lera essa expressão em uma revista) vinha a Bagé, e ele ia ter oportunidade, de um jeito ou de outro, de conhecer aquele “avião”.
Veio o dia do evento, e ele conseguiu um meio de entrar na festa. À tarde, deitou-se para uma “séstia”, a fim de estar bem aceso à noite. Na hora aprazada lá estava ele, incrivelmente bem arrumado, olhando para os lados meio desconfiado, mas com o coração a saltar de emoção. De repente escurece o salão.
Os spot-light iluminam o palco, e aparece a atriz. Ela dança, canta e encanta. Quando acaba o espetáculo ela olha no relógio: duas horas haviam se passado! O rapaz nem dera pela conta. Ao contrário de outras artistas, ela fica para o baile. Como ele já estava embalado, atravessou o salão e tirou a deusa para dançar, no que foi prontamente atendido.
Ele não acreditava: Cláudia Raia estava em Bagé e dançava com ele! O primeiro problema: a moça era mais alta que ele; suas mãos eram muito grandes; como fosse fumante, ela tinha cheiro de cigarro por tudo. Mas, bolas, ninguém é perfeito!
Dançaram, conversaram, ficaram íntimos, se beijaram. Lá pelas tantas ele a convidou para saírem. Ela não se fez de rogada. Pegou a bolsa e o casaco e saiu atrás do agro-boy. Como não sabia onde levá-la, conduziu-a até sua casa. Ali começaram palavras doces, abraços e beijos. E a coisa se encaminhou.
Só se encaminhou, pois ele ficou inibido com tanta areia para o caminhãozinho dele, que não conseguiu nada. A decepção foi enorme! Ele se virou na cama e acordou.
Todo mijado. Tudo fora um sonho. Cláudia Raia jamais veio a Bagé. Às vezes algumas pessoas me perguntam o que é sex-appeal. Eu me reporto à simplicidade dos clássicos, dizendo tratar-se de um encanto físico que provoca o desejo sexual.
No entanto, para que ocorra esse desejo sexual, deve acontecer uma aura de sensualidade, onde sensual é tudo que diz respeito aos cinco sentidos.
Não adianta a pessoa transpirar sensualidade, se esta não é captada ou entendida pela outra. Lembrei-me do poeta que disse “Nua a deusa, nadando, a onda dos seios túmidos, leva diante de si, amorosa e sensual” (O. Bilac, in Poesias).
Na verdade, para ser um sex-simbol e despertar um sex-appeal, deve haver uma integração. Não basta a mulher ser bonita ou, na visão global, uma “gostosa”: ela precisa agradar, despertar seu parceiro, criar fantasias em seu imaginário. Ao contrário do “causo” que contei.
Hoje, muitas mulheres correm atrás do artificial: implantes, lipoaspirações, plásticas, corpo malhado, e mesmo assim estão perdendo seus parceiros, pois na hora do “vamos ver” falta o ingrediente básico: a sensualidade. Hoje a tevê fabrica suas divas, como a “coroa” Vera Fischer e a ninfeta Mel Lisboa, essa, uma legítima “campeã de natação”(nada de peito, nada de bunda), e tudo passa a girar em torno desses modelos, como se não existissem mulheres sensuais e atrativas, de qualquer idade, fora dos modelos idealizados. A sensualidade não está no exterior, seja da mulher ou do homem, mas em sua atitude em relação à parceria.