Coisa de louco

Os ficcionistas, têm sido acusados de criar situações inverossímeis, em que a realidade passa longe do bom senso e da lógica dos fatos e da vida. Alguns escritores, vez por outra, abusam da ficção, criando situações irreais, bem como pintando fantasias que até uma criança é capaz de concluir que está diante de uma premissa falsa.

A verdade, no entanto, é que, cansadas da dureza da vida, muitas pessoas apreciam a ficção, as impossíveis narrativas dos feitos dos super-heróis, desde Atlas até Rambo. Esse proêmio serve para alertar o leitor a respeito da história que vou contar aqui, e que parece ser ficção, mas não é, tamanho seu risco, profundidade do drama e realidade da situação.

O cidadão, personagem dessa história real é pessoa mais ou menos do meu círculo de relação, cuja credibilidade em narrar o insólito episódio merece confiança, pois é a típica situação que bem pode ocorrer com ele. Seu nome é Jorge. Como é careca, leva o apelido de "Bozo".

Quando era solteiro, há vinte anos, ele visitava a noiva numa distante cidade interiorana, e sei lá como, arrumou um tempo para ir à “zona”, no sábado à tarde. Estava lá de festas e regabofes com as putas, quando algo único aconteceu. Por ser fora de rota, por ali nunca passavam aviões. Naquele dia um teco-teco se perdeu e acabou caindo. Onde? Em cima do barraco onde ele estava.

Além do susto e das escoriações, perdeu a noiva... O outro relato é recente. Férias, janeiro, mulher e filhos na praia, e ele sucumbe à solidão. Como algumas mulheres dão mole, deixando as feras soltas...

Pois o Jorge tomou um banho, fez a barba, colocou uma camisa de seda, perfumou-se com Pierre Cardin, e saiu por aí, cheio de amor para dar.

Numa esquina ele vê uma mulher atraente. Àquela altura, em janeiro, às dez da noite, difícil uma que não fosse atraente. Convida-a para embarcar no carro e ela aceita com alguma relutância. Ele coloca uma fita do Falcão e eles saem pela noite, com tudo o que têm direito.

Ela, no entanto, adverte que, qual uma Cinderela hodierna, deve estar de volta até à meia-noite. Ele gostou dela. Classificou-a como “coisa de louco”, rejubilando-se por haver encontrado companhia tão agradável.

Depois do “bem bom”, também conhecido como "as obras da carne", leva-a ao local solicitado. É um prédio grande, onde se lê: “Clínica Psiquiátrica Dr. Alfredo”. “Você trabalha aí?”, pergunta ele, até então descontraído. “Não, diz ela, estou baixada aqui... Acontece que matei meu marido há quinze dias, e como o advogado está tentando provar que sou louca, me internaram aqui. Mas sempre consigo dar uma escapadinha...”

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 11/11/2005
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