As árvores morrem depé
Recordando o escritor americano Tennessee Williams, cuja peça “As árvores morrem de pé” servem de título a esta crônica, reporto-me ao lamentável falecimento do amigo Justino, cuja notícia infausta chegou-me quando abri a Internet no domingo à noite.
Existem pessoas que morrem, desaparecem e se vão na mesma obscuridade em que viveram. São os medíocres, aqueles nem saudades são capazes de despertar nos parentes e poucos amigos que deixaram.
Há dias, o “negro Justino” fez um elogio (na parte que me toca, imerecido) aos dois colunistas da página 2. O meu prezado compadre Eurico Araújo respondeu aos encômios. Eu deixei para fazê-lo depois, e termino por elaborá-lo à guisa de obituário. Eu conheci Justino quando cheguei à “terra da pitangueira do mato”(expressão que ele gostava de usar) em 1970, quando assumi à gerência da CEF.
Tivemos bons encontros, papos descontraídos, convívio fraterno, junto com sua esposa e filhos. Recordo, certa vez, ele entrou na agência da Caixa, ali embaixo da Rádio Ibirubá, e – com a irreverência de sempre – pergunta: “Ô Gastão, tu me financias um pequena máquina?”. Sem me dar conta, perguntei: “Que máquina, Justino?”, E ele lasca, na frente de todo o público: “um maquinazinha de ‘tocar bronha!’”. E saiu dando risada.
Ele só passou a me chamar de “Galva” muito tempo depois; nos primeiros tempos era “Gastão”. Como disse Eurico Araújo, Justino era um doutor, formado, licenciado e pós-graduado na difícil universidade da vida. Ele tinha muito para ensinar... O começo da modesta Gráfica Mérito deu o impulso para o “Alto Jacui”, porta-voz, há algumas décadas, das comunidades de toda a região. Quem trabalha nesse meio sabe a dificuldade que é manter um jornal numa cidade de interior.
Primeiro é a parte financeira; todo mundo quer “aparecer” mas poucos contribuem; depois, a luta entre a verdade e as aparências; a ideologia e as idéias; a liberdade (falei semana passada) e os interesses dos poderosos.
Pois Justino, com seu conhecido bom humor passou por cima de tudo e conseguiu dar seu recado, expondo suas idéias (ele nunca se colocou em “cima do muro”) e levando adiante o sonho de fazer um jornal local. Morrem os homens mas ficam seus ideais, dizia Lênin. Vai-se Justino, ao descanso, merecido e eterno, mas fica-lhe a obra, as raízes, as sombras capazes de proteger a tantos.
Uma árvore qualquer, recebe uma lufada de vento e vai ao chão. Uma grande árvore, enraizada nas bases do subsolo, recebe todo tipo de intempérie mas permanece altaneira. Foi feliz Tennessee Williams, ao dizer que “as árvores morrem de pé”. Ao receber, mesmo ao longe, a notícia da partida do "Nêgo Justo", me lembro de uma árvore forte e benfazeja, que mesmo cedendo ao capricho dos anos, morre de pé, como de pé viveu honradamente toda a sua existência.
Lá nas cercanias do “refúgio”, que ele tanto adorava, seu espírito inquieto vai encontrar repouso, mesmo que volta-e-meia reclame de uma estrada mal conservada, de um telefone mudo ou do descaso de algum funcionário. Ao amigo Justino, que foi à nossa frente, minha homenagem sincera, e um até breve.
Homenagem a Justino Guimaães Neto, diretor, dono e fundador do jornal O ALTO JACUI, onde tenho coluna há mais de 10 anos