E o barco afundando...

Estavam os quatros na mesma embarcação em alto mar. Dois do lado direito, dois do lado esquerdo. Após uma tempestade, foi constatado um rombo no lado direito da embarcação, e a água começou a invadir o barco com força total. Se nada fosse feito e rápido, logo seriam quatro náufragos. Prontamente os dois que estavam do lado direito do barco tomaram providências, e com baldes tentavam tirar a água que teimava em invadir a embarcação, porém, os dois do lado esquerdo, embora tripulantes, nada faziam.

Em dado momento, os tripulantes do lado direito, já cansados pelos sucessivos esforços, perguntaram:

- Hei... estamos naufragando! Vocês não irão ajudar?

A resposta foi seca:

- De forma alguma, o acidente não foi do nosso lado!

- Ora, quê importa isso? Se não ajudarem vamos naufragar e morrer todos.

- Não há problemas, o acidente não foi de nosso lado, portanto, não ajudaremos!

Esta pequena história nos locomove a sérias reflexões. Nesta vida, imperioso lembrar que estamos todos no mesmo barco existencial. Ninguém vence sozinho, precisamos uns dos outros, os esforços necessitam de entrelaçamento para que as coisas aconteçam, para que reine a harmonia, a paz, a segurança.

Não raro deixamos de auxiliar um colega de trabalho porque julgamos não ser de nossa alçada. Em visão embaçada pelo egoísmo, consideramos, por exemplo, que a empresa se divide em setores, e criamos um clima de estúpida rivalidade, que se traduz em frases do tipo: “Não farei nada disso, não é do meu setor, não é minha responsabilidade!”

No entanto, não podemos esquecer que, se a empresa vai a falência porque faltou empenho de nossa parte em colaborar com demais colegas, de nosso setor ou não, estaremos todos desempregados, amargando incertezas e inseguranças que poderíamos ter evitado com atitudes de cortesia e colaboração.

A realidade é que em nossa sociedade prevalece a cultura da falta de comprometimento. Poucos querem assumir responsabilidades. Quando ocorrem equívocos a primeira coisa que vemos são pessoas tentando se esquivar, se eximir de culpas: “Olha, não foi culpa minha não, quem tirou esse pedido foi fulano, foi sicrano”. “A dívida foi herdada do governo anterior, nós não temos nada a ver com isso”.

Queremos salvar a nossa pele, que se exploda o resto.

E tanto isso é verdade, tanto queremos nos eximir de responsabilidades, que muitos consideram que cuidar dos menos favorecidos é papel do governo. Outros julgam que o cuidado do filho compete a mulher. Outros acham que a culpa por sua infelicidade é do cônjuge. Coisa de gente mimada, sem comprometimento com a vida.

Temos que deixar de reclamar e assumir o papel que nos compete. Se estou em determinada empresa, vou me empenhar, me esforçar, auxiliar os colegas, independente de setor.

“Ah, mas não tenho simpatia por ele, ou melhor, não tenho afinidades, como ajudá-lo?”. Aliás, afinidade é a palavra da moda, anda sendo proferida aos quatro ventos, mas há pouco empenho por vivê-la realmente. Não adianta cultivarmos a má vontade para com o semelhante e depois jogarmos a culpa pelo mal relacionamento na falta de afinidade. A afinidade só vira depois do exercício da boa vontade em superar mal entendidos e compreender diferenças.

Mas, se ainda assim não quisermos ter afinidades com esse ou aquele, tudo bem. O importante, mesmo sem afinidade, é colaborar, respeitar, ser educado, tratar com cortesia. O mesmo ocorre nas relações familiares onde muitos se equivocam e exclamam: “Não suporto meu pai, meu irmão, meu primo”. Mas não é mesmo para suportá-los. Se a vida nos uniu é porque quer que nos harmonizemos com eles. Impossível suportar alguém, ninguém agüenta conviver em harmonia quando se apenas suporta. Importante deixar querelas de lado e procurar a harmonia, estender a mão, colaborar, porque nossa sociedade, nosso mundo, enfim, nossa vida, só se tornará mais colorida quando entendermos que estamos todos no mesmo barco, e que, devemos lutar como verdadeira família para que nossa embarcação não naufrague pelos rombos da indiferença ou má vontade promovidos pela nossa imaturidade.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 20/10/2007
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