O PARADOXO DOS TEMPOS...

Do desenvolvimento sustentável...

Se voltarmos a atenção para o descortinar do cenário moderno das grandes cidades,há um fenômeno sociológico muito interessante que nos grita aos olhos.

Quem já tomou contato com alguns dos meus textos,com certeza já observou que sou uma inconformada com a insensibilidade do progresso dos grandes centros, que a despeito da beleza arquitetônica espalhada pelas grandes cidades,artificializa a existência pela escassez do "natural".

E não sou a única a observar, óbviamente!

Mas, outro dia numa reunião de amigos, ao me referir à vista aerea concretada da nossa cidade, veiculada por uma novela global, percebi que algo grave acontece com a percepção à qual me referi.

Noto que a geração de pessoas mais jovens, que nasceram aqui na cidade por volta de vinte cinco a trinta anos atrás,não possue muitas referências para a comparação entre o que se tinha e o que se perdeu, e acredita estar tudo bem.

"Afinal,a cidade é um polo cultural, de referência internacional...mais de cem peças de teatro em cartaz!" é o que sempre ouço.

E frente oa nosso aparente conforto, o que nos vale hoje um pobre passarinho tentando cantar? Bobagem! Percepção de gente que não tem o que fazer!

Há bairros que num pequeno espaço de cinco anos, ganharam um BUM DA CONSTRUÇÃO CIVIL, aonde prevalecem projetos "estilosos',futurísticos,com designs de vanguarda,alta tecnologia, com belíssimos projetos paisagísticos...a preços altíssimos; porém desacompanhados da infraestrutura necessária para o mínimo de qualidade de vida.

Falta logística para o crescimento! Falta verde!E não sou eu que digo isso.É o próprio progresso, bsata se ter olhos.

Cansei de ver reservas de mata atlântica serem devastadas em pouquíssimo tempo em nome do progresso e do conforto da grande cidade.

Derruba-se matas virgens, para se vender jardins pré-fabricados!

Mas percebo nitidamente que houve mudança da nossa flora, e os ruídos da fauna silvestre diminuíram por aqui...eu que as observo por vinte anos pela mesma região...

Num espaço de uma semana, interrompeu-se por tres vezes a transmissão de energia elétrica, por horas,em decorrência da sobrecarga dos transformadores.

A umidade relativa do ar tem queda emergencial.

Não há a esponja do verde pela cidade, e a frota de automóveis, uma das maiores do mundo, cresce velozmente.

As rotas viárias não dão conta do tráfego, e hoje, nosso trânsito está entre os fatores desencadeadores de grave stress emocional.

Uma tartaruga "urbanizada",é mais rápida que o nosso fluxo urbano.

Sei disso porque já tive uma, e a devolvi a seu habitat natural.

Os rios carregam um lixo imensurável, apesar de que flores são obrigadas a enfeitar e disfarçar suas margens, sob um odor típico que deles exala.

Os mananciais estão vazios de água e repletos de algas, com populações poluindo o seu entorno.

Um véu de poluição preta nos sufoca!

As doenças respiratórias alérgicas, e algumas infecciosas como a DENGUE são endêmicas e epidêmicas.

Outro dia, ao caminhar pelos resquícios de mata dum parque municipal, constatei tristemente que o ruído das aves misturavam-se com o das betoneiras de concreto.

Por mais poético que possa parecer...o "grito" é assustador.

Enfim,se ganhamos as maravilhas das conveniências de primeiro mundo para as desfrutar, perdemos o essencial...um habitat humana e ecologicamente saudável!

Das duas uma: Ou tomamos consciência de que estamos num caminho obscuro, ou rezemos para que uma mutação nos adapte às condições insalubres de vida.

Mas...isso é vida?

Nota: Mal acabo de escrever meu texto, ouço a notícia de que, no RIO GRANDE DO NORTE um CAJUZEIRO gigante, de vários metros quadrados de extenção, que já é ponto turístico, ao sofrer uma mutação (coincidência?), cria "problemas e preocupações" pois atrapalha o funcionamento da cidade.

Acho que esse cajuzeiro mutante é sinal dos céus!

Problemáticos somos nós!

Deixem o cajuzeiro em paz!