PERSPECTIVAs (ideias em movimento)
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Mais um dia. Vida que segue. Esperança. Esperançar.
A vida é vista, sempre, a partir de uma perspectiva. De uma forma bem básica, didática mesmo, pode ver-se a vida, ou cada realidade que ela abarca, de quadro lados: de frente (1), de lado (2), de cima (3) e de baixo (4). São as perspectivas mais comuns e de uma delas sempre partimos em cada opinião ou argumento que emitimos ou comunicamos.
Posso aprender, aperfeiçoar técnicas, elementos e componentes de um lado e habilitar-me da melhor forma para ver sob as melhores condições um fato a partir do lado em que estou. Obviamente devo reconhecer que minha visão será frágil, delimitada e mesmo limitada quando a comparo com os três outros lados dos fatos que observo.
Em tese, posso apropriar-me de elementos de mais de um lado, além do lado que inicialmente escolhi para olhar o fato. Então, com a bagagem apreendida da perspectiva inicial (1) vou investir em mais uma perspectiva (2) para enriquecer e ampliar minha forma de ver a realidade de um mesmo contexto. Há uma interação, agora, entre as duas maneiras de ver. A visão de frente ao fato, certamente tem aspectos que não são os mesmos quando o fato é visto de lado. Fatos convergentes e percepções divergentes precisam se articular para não permanecer uma visão individualizada e fragmentada em dois pontos.
Com duas perspectivas apropriadas, agora, considero minha habilidade de ver e observar a realidade como mais adequada e mais qualificada. Posso até incorrer na arrogância de pensar que ela está perfeita. Porém, ela continua imperfeita.
Vejo que enquanto me aproprio da perspectiva (2) a primeira perspectiva já se alterou ou outros elementos foram acrescentados à sua constituição. Assim, para atualizar meus argumentos e pressupostos, precisava eu voltar a estudar a perspectiva (1) para manter a minha visão aprimorada. A mesma tarefa repete-se ao me apropriar dos novos fatores da primeira ação. Preciso voltar à segunda perspectiva e agregar a nova versão à minha bagagem.
Como este círculo nunca se fecha, simplesmente, a(s) minha(s) formas de ver qualquer realidade estarão sempre marcadas pela imperfeição e carência.
Como lidar com isso?
‘Só sei que nada sei’, não significa ‘nada saber’. Indica, primeiro, humildade em reconhecer que aquilo que eu sei não é suficiente – nunca será – para afirmar algo como absoluto; segundo, reconhecer os limites do que sabemos implica, sabiamente, buscar ampliar nossos conhecimentos para melhor lidar com as realidades. Para melhor ver, observar, interpretar e analisar os fatos.
Outra atitude é compreender que todo e qualquer conhecimento é especulação, aproximação e representação dos fatos, das realidades, dos contextos, da Natureza. Este conhecimento, apesar de sempre limitado e imperfeito é a única forma que nos permite relação com tudo que desejamos, necessitamos e devemos ser, saber e fazer.
Ser humano é conhecer. Lidar com e entre humanos requer saber usar da melhor forma as perspectivas dos conhecimentos. São muitas. Mas, as visões e perspectivas que servem à interpretação do conhecimento não são aleatórias e isentas de cuidado, estudo, análise e reflexão para discernir o que é adequado e inadequado.
Sabemos mais na medida em que sabemos melhor. Somos mais quando somos melhores. Saber melhor e ser melhor significa compreender melhor o discurso que permite a constituição das diversas perspectivas que nos servem para perceber, conceber e representar os fatos.
Enfim, a vida segue a partir das perspectivas que assumimos como nossas para qualificar cada situação que vivemos. A maneira como vivemos está relacionada com a forma e o lugar a partir de onde olhamos a estrada que nos permite seguir em frente. Lugar de fala. Lugar de escuta. Lugar de estar. Lugar de partir para viver.
Na relação com o outro, que é o fenômeno que nos permite ‘conhecer em ação’ é fundamental saber das perspectivas e visões do outro para promover diálogo. A minha maneira de ver articulada com a visão do outro pode promover a convivência fraterna, solidária, humana... que sempre está além de qualquer perspectiva cognitiva.
Viver e ver o outro tem lado. Sempre. De frente. De lado. De cima. De baixo.
De que lado você me olha?
Qual perspectiva conheço para saber algo de você?
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* Didaticando ideias.