Vidas Editadas

Há sorrisos os quais não duram mais que o tempo de um clique e sofrimentos que permeiam uma existência toda! Vidas editadas é o que mais encontramos nos meios virtuais dos dias de hoje. Pessoas que exalam a necessidade de exibirem um cotidiano perfeito que, na verdade, não existe. Ao que tudo indica, as redes sociais viraram uma verdadeira luta de egos, um verdadeiro vale-tudo: posta-se fotos na academia, na caminhada, da alimentação do dia, do presente ganhado, do sucesso alcançado, da viagem realizada...

Por outro lado, há também aqueles – creio que sejam uma minoria – os quais exibem constantemente como suas realidades são difíceis, sofridas e pautadas na constante luta contra a dor e os problemas, isso talvez porque muitos focam tanto em suas dores que esquecem de observar suas cores. São perfis realmente dignos de pena! Vez ou outra vemos nos noticiários algumas pessoas que se suicidaram, algumas delas até deixaram alguns avisos em suas redes sociais, já outras falaram, gritaram e choraram, mas ninguém percebeu toda essa problemática escondida por traz de um silencio superficial exibido à primeira vista. Em alguns casos, essas situações só se tonificam quando esses indivíduos acreditam ser real o primeiro caso que acabamos de abordar – a “vida perfeita”.

A meu ver, essas duas realidades – esses dois modos de se editar a vida –, aqui brevemente descritas estão se acentuando consideravelmente devido ao isolamento social que o covid-19 tem exigido nos últimos tempos. Talvez estejamos vivenciando algumas das consequências de muitas vidas pautadas na superficialidade nos modos de pensar, ser e agir. É triste diagnosticar isso, mas é muito mais triste ainda colocar um “tapa olho” e continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo, esta atitude só acabará acarretando um crescimento cada vez maior dessa ferida que surgiu e está crescendo no seio de nossa sociedade.

Sinceramente, eu não sei muito bem como solucionar isso. Creio que exija uma mudança de postura de caráter individual de modo a afetar toda a realidade. Faz-se necessário o desenvolvimento da consciência de que os momentos da vida são únicos e devem ser aproveitados em sua plenitude para o crescimento pessoal. Exaltar ou rebaixar demais o cotidiano ordinário ao público talvez revele apenas a existência de um vazio existencial que se tenta preencher através da reação que estranhos deixam a uma publicação que revela somente algumas parcialidades da complexidade da existência humana.