Relato de um sonho como manifestação de uma tensão sexual
*Por: João Paulo da Silva Pereira*
*Sonho recorrente:*
Sujeito se sente *normal*, porém as vezes em *fuga*, pois não quer que *roubem* seu *corpo*.
*Personagens e interação com o sujeito:*
Um menino que *gosta de banana e que quer agarrar ela, porém, para matar, ele não o assusta*,palavras dela, "Era só evitar ele". *Era branco e de cabelo castanho e pequeno*.
Com o menino revoltado, *ela agia com paciência e ele não a escutava*, ele estava indignado por quererem o corpo dele, *ela o ajudava. Menor do que ela. Usava uma blusa, uma jaqueta, tênis e calça. Era pálido e tinha o cabelo castanho escuro*.
*Sujeito perseguidor:*
Sentia que o sujeito era feminino. O sujeito perseguidor era uma *sombra disforme que as vezes a alcançava, podia se esticar e expandir.*
*Cenário:*
*Uma praça.*
*Cenas curiosas:*
Por um tempo ela corria, porém, depois ela caiu, ela estava perto, ela fecha os olhos e escuta alguém falar, logo em seguida abre os olhos e não havia nada.
*Primeiro relato:*
"Sonhei que algo queria pegar meu corpo"
Perguntei: "Quem e por que?" Resposta: "Não sei."
Perguntei: "Como se sentiu?" Resposta: "Não sei
Porque ela queria pegar
Eu e uma criança
Era um bebê
Ele era meu fã
Só que não
(Era um bebê) E nem isso
Ele era uma criança
Era um menino revoltado
Aí tinha uma criança pequena
Menino
Que ficava de olho em mim."
*Fatos curiosos:*
1- Incongruência entre o primeiro (que foi corrigido a posteriori) relato sobre os sujeitos e o posterior. Deixando implícito uma nova forma de interpretar os sujeitos.
2- Se referiu primeiro ao menino revoltado (a posteriori) como uma criança, um bebê e um fã. Posteriormente como um menino revoltado e que não a escutava.
3- Se referiu ao outro sujeito como uma criança pequena, menino, que ficava de olho nela. Depois que queria agarra-lá, porém, para matar.
4- Ausência de medo em todas as cenas.
*Relato a posteriori:*
Após indagar a paciente a responder o que sentiu, continuava a insistir que se sentiu normal e que não era indiferença, após perguntar o que seria normal, temos isso:
"Normal
Como se já soubesse lidar
Como se já soubesse o que iria acontecer
Como se só estivesse esperando o momento certo
Para desistir".
*Interpretação:*
Poderia interpretar os meninos menores do que ela, como representação da importância que ela dar, fazendo com que os problemas que eles representam, sejam menores do que ela. Ambos pálidos, um de cabelo claro e o outro escuro, um maior e um menor, um que se vestia muito bem, e que no primeiro momento ela se refiriu a ele como bebê, depois criança, e depois como seu fã. O outro ficava de olho nela, e posteriormente como alguém que ela tentava ajudar, porém ele não deixava, pois era revoltado e estava indignado por desejarem pegar seu corpo _ relato da paciente.
Podemos observar a semelhança na cor de pele dos sujeitos com a da paciente, podemos observar também a semelhança na cor do cabelo, castanho claro, a cor do cabelo da paciente e do menino mais novo, ao qual se referiu estar de olho nela, e posteriormente relatou que ele queria agarrá-la, porém, para matá-la_ palavras da paciente.
No primeiro momento as memórias e sentimentos estão mais "vivos", pois a paciente acabara de acordar, explicando a minha postura de identificar o segundo relato como omissões inconsciente guiado pela pulsão de morte (Superego) ao despertar, e ativando assim cada vez mais o senso crítico. Diante disto, opto em identificar o primeiro relato em relação aos sujeitos.
Vimos que a criança tinha o cabelo castanho claro, assim como o da paciente, a paciente a evitava, pois queria agarra-lá, nas palavras dela, "a matar." Sabemos que quando dormimos, o nosso Superego como instância responsável pela pulsão de morte, não exerce sua atividade com total força, onde o Id como instância responsável pela pulsão de vida, e toda a energia límbica, em predomínio a libido sexual, se manifesta com mais força, pois não há ação repressora da pulsão de morte, não em mesma intensidade quando estamos acordados, por isso, ela se apresenta em metáforas, em símbolos, para não ser percebida. Quando sonhamos, estamos despidos de valores sociais. Podemos interpretar a criança como objeto de deslocamento dos desejos reprimidos da paciente, por dois fatores:
1- A semelhança da pele e do cabelo;
2- E o valor da banana como objeto simbólico.
A banana a qual o menino estava comendo, representa o falo (o objeto fálico) o qual a paciente deseja e reprime com toda a intensidade em vida onírica. Podemos assegurar essa interpretação como verídica, pois a paciente outrora relatara sintomas que levantavam a suspeita de uma tensão sexual manifestada a posteriori.
Em termos analíticos, a tensão sexual se manifestou a posteriori como neurose de angústia, correspondendo aos sintomas outrora observados, como angústias repetinas ,irritabilidade, angústia moral, experiência de solidão desencadeada pela experiência negativa de estar consigo mesma, por conta da tensão sexual que continua em ação de repressão pelo Superego no Id (outrora como recalque), e fobia ao se aproximar um garoto para se dirigir a ela. Essa tensão se manifestou em sonhos repetitivos com teor sexual expresso nos objetos, sonhos em que estava caindo, indicando o sentimento de ser alguém promíscua, os chistes como escapes dessa tensão, e manifestação de outra natureza.
A sombra segundo as palavras da paciente, "a persegue para roubar seu corpo." O que tem de especial nessa narrativa? Ora, dois fatores:
1- Sonhos com essa cena, tem um elevado grau de incidência.
2- Se alguém persegue você, seria comum presumir que é para te matar ou te torturar, porém, "roubar meu corpo", pode ser visto como uma metonímia, juntando os fatos, "Me perseguia para roubar meu corpo", "Era um bebê", "Ele era meu fã". Por quê ela se referiu a ele como seu fã? Vemos posteriormente que a criança queria agarrá-la, que pode ser visto como uma metáfora para união, se unir com ela, guardado a semelhança que restou como dica da criança (outrora referida como bebê, poderia simbolizar facilmente uma figura de pureza no intuito de despistar a ação do Superego, ou a visão que a paciente tenta preservar de si mesma _ o que indicaria que esta visão estaria sendo ameaçada, na visão da paciente, pela sombra _) e ela serem a mesma pessoa, porém, com o desejo deslocado à outra.
Fechamos o veredicto com o fato de que "roubar meu corpo" pode ser visto como uma metonímia. "Roubar meu corpo", seria, "me matar", e este sentimento pode ser visto dado a análise acima, como a angústia experienciada pelos recalques, e agora como constantes repressões as quaisquer manifestações de ordem sexual, também tendo como origem uma tensão sexual, e como a paciente lidou com a descoberta de sua "castração" na relação triangular.
*Referências*
http://lelivros.love/book/download-a-interpretacao-dos-sonhos-sigmun-freud/
https://www.google.com/url?q=https://www.vittude.com/blog/significado-dos-sonhos/
&usg=AOvVaw15ZnLSR7eTaE7BLEckfhpg
*A fim de aprofundamento*
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-02922014000100017
https://www.google.com/url?q=https://amenteemaravilhosa.com.br/o-chiste-segundo-freud/&usg=AOvVaw3qlkDFB1loRfZEySNzNIYo
https://www.psicanaliseclinica.com/metodo-catartico/
https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/a-teoria-da-angustia-na-0psicanalise
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952009000200005
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-14982004000100006&script=sci_arttext
Criado: 26/04/2020