A superatleta de Goianésia que brilha na seleção brasileira de cricket
Goianésia tem uma jogadora titular da seleção brasileira. Não é do endeusado futebol nem do glamoroso voleibol. A atleta é Ana Elisa Vicentin, de 28 anos e seu esporte é o cricket, ainda pouco conhecido no país, mas celebrado em países como Inglaterra e Nova Zelândia.
Ana é o que se pode definir como superatleta: precisa conciliar suas atividades esportivas com a rotina de policial militar, função que exerce em Goianésia, como soldado.
Quando não está combatendo o crime, ela se dedica a uma rotina incomum de treinamentos. Como a base da seleção fica em Brasília (DF), ela treina sozinha, sem qualquer aparato oficial: em espaços improvisados, sem a supervisão de um treinador do lado ou alguma colega para dividir a bolinha.
Mas ela não desiste e sabe que para competir em alto nível precisa matar vários leões por dia: treinar sozinha a quilômetros de distância, correr atrás de patrocínio e ser estrela de um esporte que os brasileiros ainda não conhecem.
“Tenho uma felicidade muito grande de representar o Brasil, conhecer outros países, estar em contato com gente de todos os lugares, aprender a falar inglês e espanhol. Isso não tem preço”, disse a atleta, que nasceu no Rio Grande do Sul, morou a vida quase toda em Brasília e veio seguir a carreira militar em Goiás.
Rotina pesada
Ana, junto com suas colegas de seleção brasileira de cricket, foi a vários países competir. Disputou campeonatos sul-americanos na Argentina, Chile, Ilhas Cayman, Trinidad e Tobago e se prepara para representar o Brasil na Colômbia no segundo semestre. Está, inclusive, em busca de patrocínio para bancar a viagem.
“Essa parte é a mais difícil: ter que bancar do próprio bolso as despesas de viagem para representar o Brasil lá fora. Enquanto muitos atletas ganham milhões para vestir a camisa da seleção, nós temos que ter rotina dupla e ainda pagar (e caro) para jogar”, reclama.
Poucos são os que estendem a mão. Conta com o apoio logístico da Academia Funcional Attack, de Goianésia, onde aprimora a parte física, tendo como base o crossfit. É uma cortesia da academia. O vereador Jota Carlos (PP) também ajudou financeiramente com uma pequena soma numa das competições.
A atleta precisa de muito mais para seguir representando o Brasil mundo afora. Ela pretende ir atrás dos empresários de Goianésia, em busca de apoio.
Ana, mesmo com todas as adversidades fora de campo, tem acumulado importantes conquistas. Venceu duas vezes o Sul-Americano: em 2015, no Chile, e em 2016, no Brasil. Já faturou o prêmio de melhor jogadora, tanto como rebatedora como lançadora. “O prêmio maior, no entanto, é representar o Brasil”, diz.
O que é o cricket
O cricket é um esporte que utiliza bola e tacos, cuja origem remonta ao sul da Inglaterra, durante o ano de 1566. Considerado por muitos um esporte parecido com o basebol. Ele foi inspirado num rudimentar jogo rural medieval chamado stoolball. Foi adotado pela nobreza no século XVII. Sofreu muitas transformações ao longo dos anos até se tornar um esporte bastante admirado na Inglaterra, na Índia e no Paquistão.
Jogam onze atletas de cada lado. Os movimentos principais passam-se numa faixa retangular de 20,1 metros de comprimento, no centro do campo, onde a bola (de cortiça e couro) chega a voar 150 km/h. Ela é lançada pelo arremessador contra o alvo do adversário (três varetas fincadas no solo, chamadas stumps, cujo conjunto é conhecido como wicket), defendido pelo rebatedor.
No início, as partidas de cricket podiam durar até dez dias. Hoje, a maioria dos jogos é disputada com dois tempos, em uma tarde ou noite.
Rotina de treinamentos
Ana aprimora a parte física fazendo crossfit e em academias. A parte técnica ela faz no campo de futebol do quartel da PM. Sozinha, executa arremessos e filma do celular, para enviar ao treinador indiano Abnijit Khan, que a orienta sobre as jogadas.
“Não é fácil treinar sozinha, longe das companheiras, para um esporte coletivo. Sinto falta da rotina adequada de treinamentos, do dia a dia do esporte, de falar sobre isso. Mas não vou desistir e continuo entusiasmada para representar o Brasil, dar o melhor de mim por esse esporte”, afirma a atleta, que atualmente é vice-capitã da seleção.
* Reportagem publicada originalmente no Portal Goiás Total em fevereiro de 2018.