MUDANÇA DE HÁBITO

O povo brasileiro é conhecido por sua alegria, hospitalidade e também por ser um povo carinhoso, que cumprimenta até mesmo aqueles a quem não conhecem com profunda afetuosidade. Privar um brasileiro de abraçar amigos e entes queridos é uma verdadeira tortura à qual estamos submetidos pela quarenta forçada pelos donos do mundo, criadores do Coronavírus, que obriga a todos à uma mudança de hábitos.

Para cumprir a quarentena forçada, sem grandes traumas, nossa rotina sofreu uma mudança radical.

Assim, para cumprir as determinações impostas pelas autoridades, estamos recolhidos entre as paredes de nossas casas, procurando ocupar o tempo da melhor maneira possível.

Desse modo, eu que estava habituada a levantar todos os dias às 5h da manhã, passei a acordar por volta das 8h, graças a uma insônia terrível, que não me permite adormecer no horário habitual e, portanto, obriga-me a dormir no horário em que costumava trabalhar.

A insônia, porém, não tem sido de todo ruim, uma vez que aumentou a minha produção textual. Contudo, devo admitir que sinto uma grande falta do meu ambiente de trabalho, da conversa com meus colegas, do barulho dos alunos e até da birra, que alguns fazem durante as aulas.

Tem sido duro não ouvir o barulho estridente da campainha anunciando o horário de entrar e sair das aulas, bem como o barulho feito pelas crianças durante o intervalo. Sinto falta da hora do lanche com meus colegas de trabalho, as piadas contadas durante o cafezinho e o som das gargalhadas que elas produzem.

Este período de confinamento forçado tem servido para me fazer refletir sobre coisas, aparentemente insignificantes, mas de grande significado na minha vida. Só agora percebo a importância delas, devido à exigência de permanecer dentro de casa, privada do meu direito de bater perna por onde bem entender.

É duro ficar trancada dentro de casa, especialmente nos finais de semana, impedida de fazer viagens rápidas a João Pessoa, para assistir a um dos maiores shows da natureza: O pôr do Sol ao som do Bolero de Ravel. Que espetáculo de rara beleza nos é proporcionado, no momento em que o Sol vai baixando e tingindo as águas da praia de vermelho e amarelo. Nesse momento, eu imagino que Deus é um grande pintor, e por descuido, deixou cair sua palheta de tintas e acabou colorindo o céu e brindando a humanidade com um quadro maravilhosamente belo.

Também tem sido duro aguentar a falta de tomar café na companhia dos meus amigos professores, jornalistas, pré-Socráticos e batedores de perna, ocasiões em que conversamos sobre filosofia, política e sobre amenidades.

A mudança de hábito imposto pela quarentena forçada afastou-se da minha escola de idiomas, privando-me do convívio com todos os colegas e professores, com os quais costumávamos almoçar, tomar sorvete ou comer um pedaço de bolo no intervalo entre as aulas.

Com esta quarentena interminável, sair de casa limita-se a ir ao supermercado comprar mantimentos. Mas, surpreendentemente, percebo como a cidade mudou e como suas ruas estão vazias e silenciosas. Já não há congestionamento na avenida Ayrton Senna, tampouco na Engenheiro Roberto Freire, de forma que rapidamente se chega ao destino.

Entrar no supermercado leva tempo, já que existe uma nova modalidade para que clientes possam entrar na loja. É necessário entrar numa fila enorme, onde todos usam máscaras e esperar a sua vez. Somente depois de receber uma quantidade de álcool para higienizar as mãos, é que estamos aptos a entrar no recinto para iniciar as compras, sem esquecer de manter uma distância segura entre as pessoas.

A que ponto chegamos. Para facilitar uma nova ordem mundial, somos obrigados à uma mudança de hábito, apenas para facilitar a vida de um grupo que se considera donos do mundo. O futuro que nos aguarda e iremos deixar para nossos sucessores, não me parece nada animador.