Prostituição midiática
Vivemos em uma era onde as relações interpessoais, mais precisamente entre os nossos jovens, se tornaram uma moeda de troca, e o mercado onde é praticado esse câmbio tomou como sua sede as mídias sociais.
O que antes era tido como uma ferramenta de entretenimento - a Internet -, hoje se tornou um artifício banalizado nas mãos de uma juventude psicológica e emocionalmente débil.
É certo que a tendência da monetização por conteúdos produzidos e divulgados nas mídias sociais (Instagram, Facebook, Blogs, Youtube, etc.) tem se enraizado cada vez mais em nossa sociedade, criando em sua mente uma perspectiva quase que irrefutável de um futuro promissor e não perecível.
Com sorte, tal "promessa" acaba, em alguns casos, e para alguns de seus aspirantes, se tornando algo tangível e rentável. Nesse ponto, não me detenho a desmerecer o fruto colhido pelo trabalho de milhares de criadores de conteúdos na Internet, mas a denunciar o efeito colateral nocivo que vem acometendo a estrutura emocional de nossa geração.
Hoje, na maioria dos casos, o valor agregado a um conteúdo de mídia não resulta da sua análise íntegra por parte do espectador, tampouco de sua admiração genuína, mas sim do compromisso imposto por seu criador em induzir seu público a contribuir com feedbacks positivos - "likes" - já de antemão. O almejo pelo engajamento instantâneo e seu consequente retorno financeiro é tanto, que na barganha por suas gratificações, os chamados "Digital Influencers" acabam por retribuir - quando assim o fazem - seus seguidores na mesma moeda: um simples "s2" por um ou outro comentário postado em seu material.
Aqui é onde se dá o efeito colateral: na ingenuidade de nossos jovens em depositar, cega e automaticamente, sua credulidade em uma demonstração ilusória de afeto partida de figuras cujos conteúdos imprimem, em sua grande maioria, apenas o lado pleno e próspero de suas vidas. A expectativa do seguidor em ser notado por seu influencer é tanta que ele nem se atenta ao fato de que, na realidade, suas ações estão refletindo o comportamento de um indivíduo carente e de fácil influenciação.
Se pararmos para analisar, tal conduta pode vir a ser traduzida como a necessidade que esses jovens têm de preencher seu vazio emocional, contentando-se com declarações de "afeição" rasas e triviais procedentes de seus ícones. Em outras palavras, se não encontro dentro da minha realidade o reconhecimento que almejo, vou procurá-lo na realidade do outro lá fora. E é aí que encontramos outro perigo!
Uma vez que o sujeito se vê maravilhado com a ostentação divulgada por seus influencers através da enxurrada de conteúdos que estes postam diariamente em suas mídias, nem passa por sua cabeça que, por trás dos bastidores, existe toda uma produção empenhada em criar uma realidade que vá de encontro a idealização de seu público. Com efeito, se antes o indivíduo já se encontrava em uma atmosfera de insatisfação consigo mesmo, agora ele poderá contar com uma gama de ofertas que, ilusoriamente, o levarão a crer que sua plenitude fora alcançada. Paralelo a isso, conclui-se que o apego gerado por essa pessoa não está sendo direcionado ao seu ídolo, mas sim a personalidade fictícia criada por este.
É sob essa ótica que precisamos entender a gravidade do atual cenário no qual nossos jovens têm se inserido e elucidá-los quanto aos impactos causados por esta virtualização das relações interpessoais, fazendo com estes sejam capazes de discernir o real do imaginário e alertando-os quanto o poder que a Internet e sua mídia podem exercer sobre suas mentes, seja de forma sadia ou não.
Samuel Knevitz Silveira
Porto Alegre, 11 de Maio de 2020